A construção de Lula
"Do outro lado da linha estava Mino Carta, diretor da grande novidade da imprensa na época, a Istoé, onde já trabalhavam Clóvis Rossi e Raul Bastos, além de outros ex-colegas do Estadão: `Meu caro, as coisas estão acontecendo por aqui, não na Europa... Você não viu a revista que te mandamos? Pois então, volta logo para o Brasil e venha trabalhar com a gente´.
Não era propriamente um argumento ou um convite gentil. Italiano de nascença e de temperamento, Mino, que veio bem jovem para o Brasil, nunca foi de admitir muita contestação ao que pensa. Nem era o caso. Na verdade, eu estava louco de vontade de voltar, de trabalhar novamente numa redação cercado de amigos. Na viagem de volta, depois de ainda ter de ir a Roma para cobrir a morte de outro Papa - demorou uma eternidade para sair a fumaça branca indicando a eleição de João Paulo II, sucessor de João Paulo I, que 51 dias antes assumira o trono de Paulo VI -, mais uma vez eu não tinha a menor idéia do que me esperava. Nem podia imaginar que a missão a mim reservada por Mino Carta na revista iria determinar meus caminhos pelo resto da vida. A ordem que ele me deu foi simples e direta: `Você vai para o ABC e gruda no Lula. Quero matéria toda semana´ " (Ricardo Kotscho, in "Do Golpe ao Planalto", pg. 15).
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