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Contos-->APEGO PERIGOSO -- 28/01/2013 - 20:42 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
APEGO PERIGOSO

A rua Nicarágua é uma alameda admirável, fica num bairro sossegado da nossa cidade. Ali está o bar do seu Joaquim, onde as tardes são sempre cheios de moças e rapazes, as mesas lotadas de gente bebendo sua Coca-Cola, sucos, refrigerantes, cerveja e aperitivos.
Os jovens são os que fazem maiores algazarras, falando das paqueras, dos estudos e outros badulaques. Os mais velhos são pacatos, discutem negócios, famílias e sabe Deus o que mais rola no papo daquela gente, parecem tão apegados.
O dono do bar um português amável, gosta de brincadeiras, todos o chamam de sogro por ter uma filha estonteante, a menina Iracema é uma gata charmosa, sorriso largo, lábios carnudos, dentes brancos e fortes, cabelos negros encaracolados, o corpo parece ser esculpido cheio de curvas maldosas. Os rapazes disputavam sua atenção, a beldade muito meiga, inteligente, lisa como sabão, morena trigueira, com simpatia não da moleza aos menos desavisados, dizia:
_ Só vou casar com quem tiver muito dinheiro, tem que ser rico, bonito, inteligente e ter algo mais. Não caio em conversa mole não, quero curtir a vida, paquerar, dançar, e me divertir pra caramba! Hoje, o meu lema é este, se tiver dinheiro esta na minha agenda.
A moça Iracema era terrível despedaçava corações, atenciosa com todos, muita trela, piscadelas ali e acolá, isto dava esperanças vãs para os meninos. Ela aprontava e bagunçava o coreto de todos, sempre alertando a rapaziada, que somente casaria com quem tivesse um bom dote e que assim escolheria seu príncipe. Neste vai e vem, dois anos voaram, a rapariga não conseguia fisgar um peixe grande. Iracema era firme em suas decisões, estava predestinada no seu ideal, falava:
_ Até que apareça um fidalgo, continuo com as minhas paqueras.

Houve certa cogitação por parte de Iracema, Lucio era um dos rapazes que sempre teve suas atenções, alto, bonito e sarado, bom caráter, estudante de medicina, ele era o primeiro da fila, porém a menina procurava algo extraordinário. Casar era o seu grande sonho e este dia estava mais próximo do que ela imaginava. Com seus truques, a esperta andava de olho num homem grisalho, morador de frente a sua residência, viúvo, elegante, rico, morava em um belo biplex, carro importado. A mulher não titubeou e nem dormiu na pontaria, pesquisou a vida do pobre homem, descobriu que ele é dono de muitos imóveis na cidade, um judeu riquíssimo, disse:
_ É este que vou fisgar! Charme e bom jeito será minha tática. Vou casar como este milionário.

Colocou seu plano diabólico a funcionar. Moisés era o alvo, mais de um ano viúvo, sabia que seria fácil domar o coração do solitário. Passou a conquistar a sua atenção aos poucos, por exemplo, na hora dele chegar à noite, lá estava ela sentada na varanda, com seu jeito astuto acenando, dando uma piscadela, um sorriso maroto. Moises sentia uma faísca disparar de seu coração em direção daquela deusa, dizia:
_ Será que estou sonhando acordado?

O pobre homem respondia os acenos, bom caráter, gentil, educado, sempre vestido elegantemente de terno e gravata. A amizade deles foi aumentando dia a dia, passaram a namorar. Embora com setenta e um anos, Moises perante aquela gata sentia-se com trinta anos, ela com vinte e cinco anos com toda a testosterona deixava o coroa louco. A moça pensava:
_ Esta fortuna vai ser minha! Sei que ele não tem filhos, serei a herdeira disto tudo.

Moises se apaixonou perdidamente pela moça, não deu bola aos comentários referente a diferença de idade e falava:
_ Eu quero viver o que me resta desta vida. Depois de morrer nada me importa, hoje com setenta anos, sentindo-me um garanhão.

O homem estava em suas mãos, Iracema só pensava em dinheiro, planejava dar cabo daquela vida. Depois do casamento consumado, sabendo que Moises era diabético, disse para o antigo pretendente:
_ Lucio, vou acelerar a despedida do velho deste mundo, depois me casarei com você.
Os dois fizeram um pacto de brincadeira e pareciam não ter escrúpulos com a desgraça alheia, dizendo:
_ Logo, logo...Estaremos gastando o dinheiro do pobre desgraçado.

Moises como não era bobo, adivinhando que o futuro só dependia dele, começou preparando o terreno sendo homem fiel e trabalhador. Iracema não perdeu tempo, casou-se naquele mesmo ano, tinha tudo o que queria do bom ao melhor, rica, respeitada, só pensava em esbaldar-se, divertir-se, não contando com o imprevisto que poderiam surgir. O homem se tornou marido ciumento, esposa nova e bela, Moises não deu trela até que engravidou a amada. A mulher estava grávida, fato consumado. Iracema desesperou-se vendo seus planos falharem, dizia:
_ Vou ser mãe! Moises agora tem um herdeiro de sangue.

A moça de namoradeira virou uma dona de casa. A felicidade do homem estava escancarada na cara, esposo esperto, não soltou as rédeas como dizem os peões, sempre presente, pai dedicado, bom companheiro, o destino desta vez enganou a moça. O viúvo estava eufórico, seus planos foram vitoriosos, estes começaram a dar frutos, ninguém poderia alterar o curso daquela historia. Calmo e astuto, o mundo estava girando a seu favor, Iracema perdeu-se nos afazeres das obrigações, sentiu que a liberdade ficou perdida entre ela, o marido e o pequeno Davi. A vida de Iracema estreou num mundo mágico, ser mãe para ela foi um dom de Deus, agora estava obrigada, teria que se adaptar em coisas reais da vida, um bebê, este amor é diferenciado de tudo que já teve e sentiu. Melhorou o relacionamento com o marido, as perspectivas eram ótimas, a visão de um homem maduro lhe trazia mais conforto e segurança.
Moises não deu descanso a jovem, nos seis anos seguinte tinha uma prole adorável, três meninas e dois garotões. O lar deles estava completo, uma convivência pacífica, harmoniosa, a idade não foi obstáculo para os dois produzirem filhos lindos.
Lucio, seu ex-namorado, desistiu do pacto que fizeram no passado. Hoje é casado, tem dois filhos, um grande médico, é o doutor da família, uma amizade que nunca acabara.
Moises um homem forte e rijo, dizia brincando:
_ Eu quero chegar aos cem anos!! Ver meus netos correndo para cima e para baixo. Estou feliz e tenho muita garra ainda.
Iracema com setenta quilos, ainda é uma bela mulher, orgulhosa e elegante, ama o marido, sempre diz:
_ Moises é um pai, um avô, um esposo, um amigo, um amante adorável. No inicio de nosso relacionamento tive idéias diabólicas, só em pensar que pretendia abater a minha galinha de ovos de ouro. Ainda hoje sinto o corpo arrepiar por este pensamento maldoso. Hoje graças a Deus superei tudo aquilo, as crianças estão grandes, existe um elo enorme entre nós. Construímos o bem mais precioso que é uma família. Na mocidade tudo é festa. Hoje sei o valor de um grande amor, não foi a diferença de quarenta e seis anos entre nós, que proibiria uma convivência de vinte e um anos de uma bela felicidade.
Iracema percebendo que Moises logo teria sua partida para o além, juntou coragem e contou a ideia mirabolante que havia planejado contra a sua pessoa, porém o homem dotado de toda experiência que provém com os anos adquiridos disse:
_ A mente cria fantasmas perante o dinheiro, surgem idéias adversas de nossos pensamentos e ensinamentos. Sou um homem apegado ao perigo, a adrenalina é remédio contra o tédio dos dias ruins, sendo isto para mim um adubo para plantar a felicidade.
Dando risada da historia da esposa ainda comentou:
_e há um ditado popular que diz, capim novo engorda cavalo velho!

Apesar dos planos da jovem esposa aparentar o mal de ontem, com a sabedoria da idade, Moises transformou no bem do amanhã. O caráter invejável do homem foi recompensado com uma família feliz, pois uma das coisas que mais temia era não deixar herdeiros. Moises faleceu com noventa e dois anos, sentindo-se realizado e deixando boas sementes para continuar o seu legado.
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