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Contos-->A COBAIA -- 28/01/2013 - 20:43 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A COBAIA

Abandonado próximo á faculdade, um cachorro vivia perdido, sem rumo, sem saber para que lado ir. Perambulando atrás de comida e água, foi abandonado pelo dono sem dó e sem piedade. Na universidade, estudantes de medicina precisavam de cobaias e viram uma oportunidade para seus objetivos no curso, pois naquela época as leis eram brandas, os animais principalmente os cães, coelhos, eram os primeiros da lista.
O coitado foi um alvo fácil para os alunos, ele não foi o único que entre outras dezenas de animais que tiveram o mesmo destino. Mas este teve um fim diferente, um dos estudantes acabou fazendo amizade com o bicho, tinha por capricho cuidar bem de seus pacientes. O rapaz amoroso e cuidadoso tratava bem dos animais depois das experiências, porém a verdade em seus estudos, matou e sacrificou vários animais ao bem da ciência médica e formou-se um grande cirurgião aqui em nossa cidade. Este cão foi um felizardo, porque teve a sorte de ser cobaia em três operações pelo jovem estudante, seu maior entusiasmado é que o animal passou por todas as cirurgias sem ir a óbito. As experiências foram um sucesso, o jovem conseguiu ótimas notas em seu trabalho, formando-se em medicina, apto ao trabalho cirúrgico.
O herói todo retalhado, ainda recuperando-se dos ferimentos, aos cuidados do estudante ia vivendo, o formando apiedou-se daquela criatura doce, não teve coragem de abandonar o pobre animal depois de tanto sacrifício que passou pelo bem da medicina. Ainda precisava de cuidados, fraco, costurado como uma calça velha, sem poder defender-se correria perigo de morrer. Seus colegas de estudo queriam resolver o sofrimento com uma injeção letal, acabariam com a vida e o sofrimento do coitado, mas o jovem médico não desistiu. O rapaz foi atrás de um velho amigo para ajudar a salvar o pobre cão daquela crueldade que iria acontecer, lembrando que seu paciente era um guerreiro que passou por experiências dolorosas, não seria justo abandonar o animal que lutou tanto pela vida.
O rapaz assumiu a responsabilidade de arranjar um lar ao velho companheiro de lutas, lembrou-se de um amigão que não negaria prestar este favor ao pobre vira lata. Pedro, um sujeito de boa fé, amigo dos animais, com certeza o bicho estaria em boas mãos. O médico apanhou o animal no colo com cuidado, colocou em seu carro e saiu em direção do bairro onde morava Pedro. Chegou à casa do amigo sem avisar o motivo de sua vinda, desceu do carro todo eufórico com o cão nos braços e contou a historia toda.
O amigo não teve como negar aquela ajuda ao jovem médico, recolheram o enfermo com muito cuidado, arrumaram um lugar especial com água e comida ao novo hóspede. Para variar, o coitado não tinha nome, foi batizado naquele mesmo dia de Bororó. O tempo foi o melhor remédio do cachorro, tratado com carinho, recuperou-se de modo surpreendente, criou pêlos onde havia ferimentos, ficou forte, bonito, um belo vira lata. Bororó gostava de sombra, água fresca, um bonachão, raramente dava um ganido, um cachorro comilão, devorava tudo que fosse lhe dado.
Pedro resolveu arranjar um novo lar para o restabelecido porque já tinha dois cães, e estes eram suficientes para o seu lar. Oferece para um, para outro e nada de livrar-se do fanfarrão. Ele teve uma ideia, pensou em se livrar do cão de um jeito ou de outro, pois na semana seguinte ia pescar no rio Miringuava com o compadre Silvio. Ao passar pela cidade de São José dos Pinhais, deixaria o danado em uma rua qualquer. O cão que se virasse, que fosse atrás de uma casa sozinho, que procurasse um novo dono e domingo foi o dia fixado para a árdua tarefa, abandonar Bororó. Seis horas da manhã lá estava seu Pedro com o cachorro dentro do carro, o pobre bicho estava todo garboso pensando fazer um belo passeio. Parecia o meio mais fácil de livra-se do animal.
Seria a segunda vez que o pobre cachorro perderia o lar. Não bastava ter sofrido tantos danos em seu corpo, estudantes de medicina com três delicadas cirurgias. Pobre cobaia, que destino estava reservado, parecia o pior deles, ser abandonado novamente. Seis horas da manhã o pobre animal chegou ao destino planejado pelo condutor do fuscão. Numa avenida da cidade foi o lugar que Pedro deixou o Bororó, como era cedo ninguém viu a injustiça que estava acontecendo com o pobre cachorro. O animal ficou desesperado, saiu no encalço do carro, alcançar de que jeito, sem saber para que lado seguir, ele decidiu esperar pelo seu dono no mesmo lugar em que foi abandonado.
O pobre tinha um sexto sentido, de certo conclui que aqui foi deixado com certeza era ali que ia retornar. Sentou na beirada da calçada e ficou o dia inteiro na espreita, aguardando seu dono. Pedro pescou o dia inteiro, jantou na casa de Silvio, retornando as vinte e duas horas. Conversa vai, conversa vem, o cachorro foi esquecido. Retornando pela mesma via lembrou-se de Bororó, falava sozinho:
_ Onde será que anda o pobre cachorro nesta hora da noite? Tomara que tenha sorte e encontrado alguém que lhe dera acolhimento.

Pedro dirigia o carro na maior tranqüilidade, mas seu pensamento estava no episódio triste que cometera. Para sua surpresa a luz do carro clareava a distância percorrida no asfalto, ao olhar na calçada onde tinha deixado o cão, o bicho estava exatamente no lugar em que foi abandonado. De cabeça erguida em direção que Pedro foi. Há menos de cinquenta metros o Bororó reconheceu o carro e saiu em desabalada carreira ao encontro de seu dono. Pedro estava perplexo, não conseguia acreditar no que estava vendo, emocionou-se, com lágrimas rolando em seu rosto, sentindo-se um carrasco, dizendo a si mesmo:
_ Como fui capaz de tal absurdo? Deixar um herói abandonado, que fez tanto pela medicina?

Bororó ao ver Pedro parando o carro, foi direto ao encontro de seu velho companheiro, sua alegria era tamanha, que o coitado latiu, pulou, correu em volta do carro, saltou no peito do amigo. O animal parecia abraçar com suas patas o homem malvado que o deixou sem comida e água naquele lugar assustador, se o coitado soubesse falar com certeza diria:
_ Pedro, o que aconteceu com você? Fiquei o dia inteiro a tua espera neste sol escaldante, sem comida e sem água. Foi um dia difícil, porque você fez isto comigo? Que mal eu fiz, será que você que estava cansado de mim? Estou acreditando que foi um pesadelo, por favor, leve-me para casa!

Pedro todo arrependido, parecia entender seu velho amigo Bororó. Abrindo a porta de seu veículo, deixou o pobre acomodar no banco da frente. Naquele momento, o coitado tinha certeza que logo, logo, chegaria em casa, saciaria a fome e a sede, de cabeça levantada olhando pela janela, alegre e abanando o rabo, querendo dizer que graças a Deus estava voltando para o meu doce lar.
Sua esposa ao abrir o portão da residência, notou que algo não deu certo na idéia do marido, espantou-se dizendo:
_ Ué? Porque você troce o Bororó de volta? Não o abandonou como tinha prometido?
O marido respondeu:
_ Foi o que fiz! Só que o resultado foi este. Na volta da pescaria, adivinhe quem estava esperando uma carona no mesmo lugar que eu havia o deixado pela manhã? Meu coração amoleceu, não tive coragem de tal malvadeza. Deixar o bicho seria cruel demais. Aqui está o Bororó, desta vez ele ficará para sempre conosco.
Pedro abriu a porta do carro, o coitado do Bororó saiu igual a um louco a procura de água e comida. Parecia que o pobre animal não comia a dias, saciou-se e resolveu dar uma reconhecida no seu lugar. Ele estava eufórico, pulou na patroa com tanta alegria que quase a derrubou, também foi ao encontro do peito de Pedro, parecendo dizer:
_ Obrigado por acolher-me novamente.

Um reencontro apaixonante e o fortalecimento de um laço fortíssimo de amizade. O cachorro viveu mais uns cinco anos e morreu de velhice devido à idade avançada. Foi enterrado no fundo do quintal, embaixo de um pé de laranjeira onde ele gostava de tirar uma soneca. Bororó era considerado uma cobaia coitada naquele laboratório do curso de medicina, porém na casa de Pedro tornou-se membro da família. Todos sabiam que ele nunca ganhou uma medalha pela sua luta na sobrevivência, mas conquistou seu espaço e para os amigos foi considerado um herói, onde sua lealdade e persistência ficaram gravadas na mente de quem conheceu essa figura de cachorro.

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