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Contos-->ABRAÇO DE UM VIGARISTA -- 28/01/2013 - 21:01 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ABRAÇO DE UM VIGARISTA


Meu vizinho é um homem dinâmico, honesto, precavido, não admite pilantragens, safadezas e outros truques maldosos. Cumpridor de seus deveres, ele acredita que ninguém seria capaz de enganá-lo na compra ou venda de um bilhete premiado da loteria, pacote de dinheiro, o tal conto do pacote, roubarem a carteira, ele duvidava. Qualquer outro truque do dia a dia era motivo de discussão seguida entre nós, principalmente sobre as pessoas idosas quando vão sacar suas aposentadorias, pessoas roubadas nos ônibus ou nas ruas e praças da cidade.
Pessoas desavisadas, descuidadas, ingênuas, que acreditam ainda em Papai Noel e Coelho da Páscoa, os pobres, esses parecem mais visados, talvez pelo jeito simples de ser, são mais vulneráveis, pois os vigaristas não têm piedade de ninguém, roubam o sustento do mês de uma família inteira. Ainda escapam sem castigo, a polícia sozinha não consegue dar conta do recado. Embora muito divulgado nos jornais da televisão, no rádio, há gente inocente caindo nestes truques, acreditando nos pilantras que vendem pacotes de cinqüenta mil reais por dez mil. Os enganados acreditando num bom negócio caem pela ganância dos lucros. Pensam que se deram bem, mas coitado do caipira, se não voltar ficam com o lucro, sem perceber que entraram numa fria. Os malandros contam historias mirabolantes, com astúcia e cheia de emoções, passando-se por analfabeto levam milhares de pessoas ao desespero. Eles são uns verdadeiros artistas nesta artimanha.
Meu amigo Paulo é um homem de bem, detesta cartões de créditos, talões de cheques é coisa que despreza. Com ele é tudo no dinheiro, é abastado, rico mesmo. Cansei de adverti-lo pelo dinheiro que carrega nos bolsos:
- Você está se convidando para ser assaltado? Perceba esse volume visível em seus bolsos! Os ladrões vivem observando os homens com pastas, bolsos cheios e de fácil manejo, para aliviarem o volume roubam o que mais gostam, o dinheiro. Se acontecer alguma coisa com você não venha falar que nunca ninguém te avisou!

Nós pegamos o ônibus no mesmo ponto ou tubo como é chamado em nossa cidade, pois sempre vou aos bancos fazer serviços para o genro, sou aposentado e isto não me custa nada. Gosto de sair para conversar com amigos, é um passa tempo bom, e falar com Paulo também. Ele é homem discreto, não gosta de demonstrar que anda com muito dinheiro, é um cara simples, sempre sorrindo, conhece muita gente aqui no bairro. Onde esse amigo está sempre rola uma boa conversa. Não anda de terno, prefere camisetas, calças sociais, daquelas com bolsos estilo faca, porém também é a preferida dos batedores de carteiras. Pois eles enfiam as mãos sem que ninguém perceba, é a preferida deles, bastou distrair-se um segundo, lá vem um pequeno esbarrão e adeus dinheirinho.
Paulo achava que estava imune a estes pilantras. Sempre esperto, com olhos bem abertos e atentos, não gostava de aglomerações para evitar o perigo, sempre caminhando rápido para não dar colher de chá aos larápios. Somos dois setuagésimos, fortes e saudáveis, ele sempre confiante, parecendo ter menos de cinqüenta, um garotão, para nós não havia obstáculos. Conversando sobre bancos, falei:
- Paulo, você sabe que no dia vinte e sete e vinte e nove de setembro, nos dias de greves, fizeram clone de dois cheques meus, o primeiro no valor de mil e trezentos reais, o segundo foi de mil e setecentos reais. Graças a Deus o falsificador não conseguiu obter sucesso. A caixa estava alerta e salvaram o desfalque na minha conta.

Ouvindo a historia, foi o suficiente para o amigo dizer:
- Por isso é que não uso cheques e nem cartões.
Então respondi:
- Eu uso porque é seguro, é só tomar cuidados que nada vai acontecer. Minha conta na caixa tem quase meio século, até hoje, graças a Deus não ouve um erro se quer. Tive dúvidas sim, só que a falha foi minha e não do banco.
Continuando a conversa, perguntei-lhe:

- Paulo e se alguém lhe der um esbarrão, uma trombada, no mínimo, levam três mil reais de seu bolso, qual seria a sua reação?
Paulo responde:
- O que? Você pensa que ando cochilando ou dormindo na rua? Comigo isso não vai acontecer não, sei onde piso cara!
Eu retruquei, dizendo:
- Cuidado! Com um minuto de bobeira, sempre tem um na sua frente, ninguém é tão esperto que nunca entre em frias.

Por ser alto e forte achava que ninguém se atreveria abordá-lo, principalmente com intenção de roubá-lo. Na semana seguinte embarcamos no mesmo ônibus, fomos conversando animadamente sobre inquilinos, aluguéis e outros itens referentes a imóveis. Desembarcamos no terminal do Portão, fomos a pé até a nossa agência bancária. Eu fui pagar minhas obrigações, ele sacou dinheiro para resolver problemas com reforma de salas comerciais que estavam sendo pintadas e seriam alugadas a novos inquilinos. Onde estávamos era no centro da cidade.
Paulo teve muita sorte porque estava com cinco mil reais no bolso, era dinheiro para pagar pintores e profissionais elétricos. Ele pagou os operários, conversou um pouco com os profissionais como era o seu costume. Despediu-se dos empregados, saiu com destino de pegar o ônibus na praça Rui Barbosa. No meio do caminho o que ele acreditava não ser possível, e o que eu mais temia, aconteceu.
No dia seguinte ao encontrar-me veio sorridente como costume, antes mesmo de dizer boa tarde, foi dizendo:
- Meu amigo, você não sabe o que me aconteceu ontem!
Eu respondi:
- Pode parar, bateram sua carteira?
Paulo respondeu meio envergonhado:
- Calma, calma! Vou te contar o que me aconteceu... a historia aconteceu próximo da praça Zacarias. Eu vinha caminhando com passos largos, como é meu jeito, você sabe bem por que motivo, ainda bem que aconteceu no retorno, se fosse antes eu perderia cinco mil reais. A rua tinha pouco movimento, jamais pensei que algo estava para acontecer comigo, no mesmo lado da rua vinha em meu encontro, um homem elegante, trajava um belo terno com gravata, passando por mim, o vigarista deu de ombro no meu peito, aquilo me deixou nervoso, tinha espaço suficiente para nós trafegar sem perigo de um esbarrar no outro. Pensei o Porque do engraçadinho me atropelar. Parei e olhei para trás, encarei, ele também parou e veio sorridente de braços aberto me abraçando e dizendo - Como vai? Há tempos que nós não nos encontramos, nossa que saudades, como está sua família? - Parecia me conhecer há muitos anos, deu-me um abraço bem apertado, como se fosse um tamanduá, rodou-me com força apesar de ser pesado e alto, não lhe causou esforço algum. Parecia muito bem treinado, enrolou-me de tal maneira que perdi o controle, batendo no meu ombro, nas costas, fez um zoe danado, chamando-me de Henrique. O cara era contagiante!
Dando uma pausa para respirar, Paulo continuou contando:
- Eu olhei para aquele senhor e disse que ele estava enganado, respondi: - meu nome é Paulo e não Henrique.- Então ele me respondeu: - Não é possível? Como se parece com ele, se estou enganado me desculpe pela gafe, e uma boa tarde para o senhor. Amigo, o cara saiu depressa entrando já na próxima esquina, eu fiquei imaginando nunca vi aquele sujeito em minha vida. Será que tem alguém tão parecido com a gente assim que chega a enganar os outros? Neste instante surgiu um senhor preocupado comigo, perguntando-me se eu conhecia aquele homem. Então começou a contar que havia acontecido a mesma coisa com ele.
Mesmo sem graça meu amigo emendava suas frases:
_ Notei que no desenrolar, sua atitude parecia suspeita demais, ele colocava as mãos em seus bolsos. Aquele senhor perguntava se estava faltando alguma coisa, comentou que ainda estava preocupado comigo.
- Sua carteira? O cara é um safado dos bons! - finalizou o bom senhor.
Paulo comentou que sentia os olhos arregalados, sentia o rosto avermelhar, perdendo a postura, disse aquele senhor atencioso:
- Lazarento! Ele me roubou! Havia duzentos e setenta reais neste bolso, eram notas de dez e vinte reais, faziam um belo maço!

Os dois resolveram ir ao encalço do malandro, mas encontrar de que jeito se o rapaz misturou-se na multidão e sumiu. Por pouco Paulo não perdeu os documentos, estes estavam em outro bolso bem seguros.
Depois de ouvir atentamente, eu comecei a rir do amigo, ele acabou rindo junto, demos boas gargalhadas do episódio. Paulo finalizou dizendo:
- Estou muito chateado, mas ao mesmo tempo feliz. Se este cara me encontra na ida tinha conseguido as próprias férias. Estou me sentindo um tolo, sempre critiquei as pessoas lesadas, hoje fui castigado com a mesma moeda.
Respondi brincando, tentando ainda mostrar-lhe um lado positivo:
- Meu amigo por mais esperto e inteligente que você se ache, sempre haverá outro mais rápido e astuto que nós. Num encontro, um pequeno esbarrão, lá vai o nosso dinheiro. Abraço de vigarista é cheio de truques, para eles não interessa quem cai em suas redes ou mãos, não ligam o sofrimento que causam nas pessoas doentes e pobres. A dor dos outros para eles é regalias e risos, como sempre dizemos, todo o cuidado ainda é pouco!


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