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cronicas-->A praga do mendigo -- 22/02/2007 - 17:21 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A praga do mendigo


É muito comum nos dias de hoje ouvir falar em "jugo dos antepassados". Pessoalmente, eu acredito firmemente nessa realidade bíblico-genética. Tenho experimentado na carne e na vivência muitos fatos que me fazem crer no "jugo". Vou dar um exemplo do por que creio que ele existe. Vejam.
As coisas já andavam muito ruins para o lado do Juca, meu pai, nada dava certo para ele. O movimento do bar ia diminuindo a cada dia, a cozinha e a despensa da casa, reino pobre da minha mãe, andavam sempre vazias. Eu tinha muita pena da coitada da dona Francisca. Envergonhada, ela nos oferecia no jantar o mesmo que já servira no almoço, canjiquinha com feijão, repetindo um cardápio que teria de repetir no dia seguinte, ouvindo nossos resmungos de filhos exigentes. Foi nesse pedaço de tempo duro que surgiu, não sei de onde, do nada talvez, um maltrapilho malcriado que foi capaz de derrotar o meu pai com poucas e duríssimas palavras. O malvado julgou e condenou o Juca. O mendigo, miserável-esmoler, pediu uma esmola que o meu pai não deu. Claro que se o Juca tivesse dinheiro para dar um "ajutório" àquele pobre infeliz, estou certo de que daria. Mas aconteceu que o meu velho pai absolutamente não tinha. Estava mais duro que pão de Santo António em lata de mantimento. Coitado do Juquinha, se ele não tinha dinheiro sequer para dar de comer aos próprios filhos, como haveria de dar esmolas para os muitos andantes que cruzavam a Vila de Água Doce? Eu estava bem perto da cena e me lembro bem, é como se fosse hoje. O mendigo, de pouquíssimos banhos e olhar penetrante, estendeu a mão para o meu pai (a mão quase tocava o nariz do Juca) e rosnou como se desse uma ordem: "Uma esmola pelo amor de Deus!..." "Hoje não tenho!"- respondeu o Juca, meu pai." O Juca enfatizou aquele "hoje não tenho" com absoluta certeza de que noutro dia talvez tivesse para dar. E certamente daria, sei que daria, mas a voz rouca do mendigo se fez ouvir de novo: "Então que os anjos digam amém e que o senhor nunca tenha!..." Ai!... Nesse momento o Juca tremeu. Foi como se levasse um soco no estómago. Aquelas palavras duras e proféticas foram recolhidas para dentro do seu coração e nunca mais foi o mesmo homem! Nunca mais teve dinheiro em toda a vida. A praga do mendigo "pegou pesado e pra valer"! Confesso que fiquei com muita pena do Juca naquele dia.
Hoje, passados mais de cinquenta anos, já perdoei o mendigo de voz rouca que deu o susto no meu pai. Sei que ele não deu aquela esmola porque não tinha nada para dar. Ainda assim, mesmo estando cheio de razão, o Juca nunca mais foi o mesmo. Foi pobre de "marré-marré" até o fim da vida.
Eu, indiretamente, acabei pagando o pato. Mas agora sei que, quem tem Deus no coração, não fica sujeito a receber estas e outras pragas, mesmo que elas sejam muito piores.
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