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cronicas-->Parque Nacional do Xingu - Estive lá -- 23/02/2007 - 10:05 (ANA SUELY PINHO LOPES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Parque Nacional do Xingu - Kuarup: alma indígena


Em julho de 2003 tive a oportunidade de conhecer o Parque Nacional do Xingu e assistir ao Kuarup, uma reverência aos mortos ilustres. Naquela oportunidade a homenagem era dedicada ao sertanista Orlando Villas Boas, grande guerreiro e defensor da causa indígena.

A predominància dos brancos foi grande e evidenciou o domínio do homem branco sobre o índio. Presenciei essa coisa ainda tão viva em nossas cultura, através de atitudes e concepções. Traduzido no nível de intromissão, no sentimento de domínio, de superioridade; literalmente falando, de falta de respeito.

Sinto não ter tido um contato genuinamente indígena, o que, com certeza, me passaria um mais intenso sentimento de amor, afeto, natureza e compreensão daquela gente esquecida pela gente "civilizada".

Mesmo com a intervenção constante do branco busquei do fundo da minh´alma perceber, sentir e vivenciar o SER íNDIO, por meio de gestos, costumes, olhares e da expressão que tanto se faz presente e impressiona!

Não quero registrar apenas indignação pelo domínio do homem branco sob o índio, certamente obcecado pela sede de poder (vi muito com que me indignar, sim...), mas desde que iniciei meus escritos, seja em forma de poesia, crónica ou qualquer tipo de redação, fiz uma jura a mim mesma; relatar o protesto sim, a evocação, o grito de insatisfação, de alerta, mas, procurar evidenciar o belo, o etéreo, o sagrado; enfim, a beleza da natureza expressa seja de que forma se apresente.

Naquela gente, que nos lembra quem somos, nossa origem, que temos família, faz-nos lembrar ainda que fomos feitos para viver em harmonia. Senti-me pequenina diante de suas grandezas, desde o gesto infantil que já perdemos ha muito tempo, de recordar nossas origens.

Fiquei emocionada quando Killir, uma indiazinha meiga, companheira, linda... perguntou-me o nome dos meus pais (já não os tenho mais em vida), há quanto tempo alguém na minha vida teve o interesse de saber o nome deles... senti que ainda há quem dê valor ao espírito de família, que se importe com os outros.

A companhia daquela indiazinha mexeu muito comigo; perplexa por nossos atos, atitudes, comportamento, modelos, costumes, exemplos e, de repente, fiz uma leitura de que não tinha o que ensinar, e sim muito a aprender com o povo indígena. Eles se comportam de forma feliz, simples, inocente, natural e cativante, exemplo para nós.

O viver, o simplesmente ser, em tudo que lhes diz respeito. A harmonia nos gestos, nos traços da cabana, nas cores exóticas, no preparo dos alimentos, no olhar e na forma de se relacionarem. A conversa entre os familiares, ao deitar, ao acordar, soa como um compromisso à própria vida, a própria natureza harmónica e liberal. A naturalidade de forma expressiva do ser, do fazer e do respeitar.

O coração do cacique Aritana, ilustre líder indígena, enaltece a imensa maloca com seu aspecto soberano - simples, mas tão expressivo quanto seu olhar de sabedoria - seu dom nato de saber ouvir e acolher quem está em seus "braços", impressionante, louvável e porque não dizer, apaixonante!
Seu olhar seguro, determinado, firme e grandioso carrega valores e transmite aulas vivas de sabedoria e aprendizagem de vida.

A submissão das mulheres lhes garante o direito de companheiras, protegidas e também guerreiras, pois cabe a cada uma o seu espaço, o seu trabalho e determinação.

O céu do Xingu, imenso chão de estrelas, reluzindo sobre os seres, refletindo brilho, piscando incansavelmente, fez-me acreditar que existe céu na terra, como um banho de estrelas caindo em forma de véu, envolto numa cortina imensa, à qual apenas os abençoados por natureza têm acesso.

Senti falta da chuva, mas contentei-me e entendi sua ausência como um sinal de respeito que naquele momento eu interpretaria sua presença como uma lágrima dos céus, da mãe natureza em confronto com a maldade humana e preferi assim...

Os rios, carregando a lembrança de sonhos de criança, de espaço, de paz e esperança, ainda que sofridos, desgastados e modificados pelo assoreamento oferecem o espírito de liberdade e me permitiram viver a sensação de céu, do divino, da natureza que eu só conhecia nos sonhos de criança.

De quebra nos proporcionou um espetáculo maravilhoso! A dança das gaivotas, acompanhando-nos num sob e desce, sob o barco, que num entrecortar de asas, numa harmonia perfeita, cantavam, revoavam e num compasso exuberante deixaram-nos (uma poetisa, um artista plástico e um jornalista) fascinados. Subiam e desciam no céu apresentando um espetáculo sem hora marcada, sem ingresso e sem ensaios. O único passaporte livre exigido livremente, foi a coragem de desafiar os costumes, o comodismo, o mundo evoluído e o sedentarismo largados aqui na "sociedade civilizada". Elas ecoavam aos céus, às águas, aos seres um grito de liberdade, de viver e nos transmitiram uma mensagem de que ainda é possível sermos felizes.

Foi mais que uma viagem, foi um sonho, um reencontro as origens, uma volta ao útero materno, um retorno à infància, um repensar de viver, do ser, enquanto fincados na evolução, na perda de amor do homem em nome do avanço tecnológico, das construções edificantes.

Um encontro de vida, uma lição de amor, de bondade e sabedoria por uma gente a quem tanto devemos, e que hoje num gesto sublime de magnitude, resiste, ainda que com toda a intromissão do homem branco.

Eles perduram; guerreiros d´alma, vivos e em plena vida. Gente com quem tanto precisamos aprender, reaprender a nos tornamos mais gente!







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