Usina de Letras
Usina de Letras
136 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62231 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10367)

Erótico (13570)

Frases (50628)

Humor (20031)

Infantil (5434)

Infanto Juvenil (4768)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140805)

Redação (3306)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Missão de Vida -- 01/03/2007 - 18:56 (regina helene de oliveira o`reilly) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Missão de Vida

Regina O Reilly

Para que eu possa descrever o significado da minha experiência em ser voluntária de um projeto social, o PASSO, Projeto Absorção Social dos Sem Oportunidade, devo retornar à origem do caminho pessoal que desencadeou este momento. Mas, antes deste retorno temporal, é importante esclarecer que, para mim, esta opção de vida não deve ser estabelecida por fragilidades ou interesses individuais, e nem, por fases difíceis ou frustrantes das nossas vidas. A "opção de fazer algo", sem retorno financeiro ou mesmo com a colocação de dinheiro do próprio bolso, para dar oportunidade de crescimento ao outro, deve ter como premissa um chamado que vem da alma, como uma missão vital para a sua existência. Só assim, permaneceremos convictos de termos tomado o caminho correto diante das armadilhas, dos percalços, e do desànimo que no seu trajeto se apresentam.
Podemos tentar ignorar ou deixar de lado este chamado durante um tempo de nossas vidas mas, como uma vocação, enquanto a evitamos, assombra-nos ininterruptamente.
O desencadeamento desta vocação, quando real, se dá após um longo processo de amadurecimento. Quando consciente e principiada, não haverá retorno, pois a porta foi aberta.
Diante disso, para dar meu testemunho sobre o papel de voluntária que assumi integralmente desde 2001, imprescindível se faz a descrição de um instante da minha vida há 41 anos atrás, em 1964. Tinha eu, nesta época, 5 anos de idade quando, por um acontecimento por mim vivenciado, essa missão revelou-se.
Esse "estalo", com poucos, até hoje, dividi, mas, se com essa exposição da minha intimidade, eu venha a colaborar para a conscientização e facilitar o reconhecimento desse chamado a outros, valerá a pena.
Era eu uma menina, como disse anteriormente, com 5 anos de idade. Uma menina de classe social privilegiada, com uma acompanhante diária, a minha babá, Maria.
Todos os dias, no início da tarde, tínhamos como hábito descer 3 quarteirões e ir satisfazer, na padaria vizinha, o meu desejo infantil com guloseimas.
O dono da padaria lembro, ainda claramente, com clientes tão habituais, tratava-nos com deferência. Brincadeiras, palavras ternas e balas a mais, fortaleciam a imagem que formei sobre ele: um homem muito "bonzinho". Mas, um fato por mim presenciado numa destas idas à padaria, manchou e feriu a imagem que eu tinha estabelecido sobre ele e, o pior, sobre o mundo em que eu vivia.
Lembrem-se de que a sensação era de uma menina que vivia numa redoma, protegida dos fatos do mundo real. Portanto, talvez o fato que descreverei para alguns que perderam a sensibilidade diante da rotina que a embota, será sem a importància que senti.
Vou tentar detalhar a cena que ocasionou um sofrimento real para mim:
Entra, na tal padaria que frequentávamos, um menino da minha idade, sozinho, sujo, descalço e com as roupas rasgadas. Para na frente do balcão, com os olhos arregalados, salivando de vontade das delícias lá apresentadas. Neste instante, o dono da padaria deixa de nos atender e se dirige, com o rosto perceptivelmente transformado pela raiva de um "intruso", não bem vindo, adentrar em seu estabelecimento "de respeito".
Começou a xingá-lo, a ameaçá-lo, culminando com a sua expulsão. O "homem bonzinho" tornou-se para mim, de imediato, um monstro que, até então, estava disfarçado.
A cortina se levantou e o mundo verdadeiro surgiu, desmontando-me com a força de um furacão.
A nova "verdade" do mundo ia se desvelando da seguinte forma:
Éramos crianças iguais, com a mesma idade, com os mesmos desejos e sonhos, no mesmo lugar, mas com apresentação externa diferentes, vivências antagónicas e tratamentos opostos.
Descobrindo ainda esse mundo, não tinha processado de pronto o por quê. Para mim, até aquele momento, acreditava que todo mundo era igual, como poderia imaginar que um "papel", o dinheiro, determinaria a "diferença".
A angústia tomou conta do meu ser pela injustiça testemunhada, instalando, a partir daí, a luta que por mim teria que ser lutada.
Tomei uma decisão em ir atrás daquele menino maltratado e redimir o pecado presenciado, dando a ele o seu desejo sufocado, as gostosuras negadas, que eu podia aplacar ao acaso e, ele, não.
Primeiramente, tive que convencer a Maria que, contrariada, pois achava o fato normal e correto, a me ajudar com o meu intento. Desesperada para amenizar a minha dor, saímos pelo bairro à procura do menino. Depois de um tempo rodando e a Maria reclamando, encontramo-lo Ele, sem nada entender e nem mais se lembrar do fato pela repetição constante, recebeu a entrega que lhe fiz surpreso.
Voltamos para casa, minha mãe preocupada pela demora, a Maria, me achando uma menina mimada e eu, apaziguada, por instantes.
A continuidade dessa história vivencio com o PASSO. Todas as crianças têm o direito de ter as suas necessidades essenciais atendidas: educação, saúde, moradia,lazer, e respeito à sua pureza em ver o mundo. Com o PASSO, resgatamos em nosso microcosmo a visão de mundo em que a menina que eu era e permaneço: todos somos iguais originalmente.
Dando oportunidade para quem não as têm, damos chance para uma competição justa e daí sim, as diferenças serão fixadas imparcialmente, pela responsabilidade, pelo conteúdo, pelo mérito, pela perseverança e pelas conquistas pessoais.
O PASSO dá significado á minha existência, ao constatar que colaboramos para um mundo melhor.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui