O emblema da família Mafaud encena uma força destituída do poder de outrora, naquele estábulo que parece viver de lembranças. Os relinchos dos cavalos árabes não ressoam no feno, assim como, há muito não desfilam sua elegància em competições e leilões naquela misteriosa região. Uma tênue sombra relembra a majestade. Num canto, a velha escrivaninha do bisavó, iluminada pela luz da vela, revela a presença do aprendiz de alquimia. Seus olhos, negros e brilhantes, contemplam o pergaminho enquadrado na parede: "Ora, lege, lege, relege, labora et invenier" (ore, lê, lê, relê, trabalhe e encontrarás). Na realidade, esta era uma das primeiras grandes lições que o alquimista havia aprendido com seu mestre, nas infindáveis areias do deserto. Logo após, detém-se no trabalho com os sete metais sobre a pesada mesa de madeira. Os períodos outonais conseguem trazê-lo de volta à s origens, com certa regularidade. Na caixinha de estanho, a antiga pena, companheira de tantas inspirações das histórias da família aguarda o toque moreno de suas mãos. Este novo outono parece-lhe especial para prosseguir na busca e completar seus apontamentos. Molha a biqueira na tinta e a faz dançar entre metáforas e metonímias. A aranha, única testemunha das alquimias, entressacha os últimos fios de sua morada.