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cronicas-->Escatologia -- 15/03/2007 - 19:58 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Escatologia

Talvez sim, talvez não. Fiquei vinte e seis anos longe de Taubaté, na bela Ribeirão Preto, mas bastou eu voltar para que os meus amigos despencassem da vida e começassem a morrer. Foi um atrás do outro. O primeiro foi o radialista Paulo Amaral, depois o Indio, o Micha, o Brigagão, o Cidão, o Moringueira, o Ézio. Outros habitantes da praça também se foram, como o Zé Vicente, o Ciclista Rodolfinho e muitos desconhecidos que frequentavam o fatídico local. Alguns desses eu penso que foi obra da Prefeitura em consórcio com Deus numa limpeza do pedaço.
Tirante os ex-frequentadores do Bundinha de Fora que partiram para o além, vários outros também se foram em curto espaço de tempo. Logo no primeiro dia, assim que cheguei em Taubaté, a minha sogra disse adeus e partiu. Só na minha rua, a chamada rua da Harmonia, morreram uns onze, todos até então saudáveis. Um deles ficou com medo e vendeu o bar onde exercia há muitos anos e se mandou para um bairro distante. Ele pensava que a morte atuava por região e acreditou que, mudando para longe, escaparia da foice. Doce e ledo engano do tonto, não contava com a astúcia da morte: ela veio e o alcançou no novo endereço. O nome dele era Zé Lagarto, mas hoje é conhecido por Zé Lagarto, o Fujão.
Por que estariam morrendo os meus amigos não tão velhos? Estariam eles esperando que eu voltasse a Taubaté para tomarem a decisão final? Seria eu a "torcida" que esperavam? Quem haverá de saber? De qualquer modo, sempre que posso, vou aos velórios prestigiá-los, pois não poderia jamais decepcioná-los com a minha ausência. Minha presença, afinal, talvez fosse esperada por eles. Aconteceu que nesse espaço mórbido de tempo fui até Jambeiro acompanhar o velório de um tio meu, cuja morte já era mais do que aguardada. Afora a tristeza do fato, a solenidade foi uma beleza, tudo foi muito bem organizado por um especialista da família, o Ribeiro, que se preparou num brilhante curso de assuntos escatológicos em Cunha, SP.
Havia um clima de festa no local, tinha até chá de hortelã e cidreira para todos, rosquinhas de fubá e "Zequinha", uma corruptela de sequilho -iguaria que só se fabrica aqui na região do Vale e a minha cunhada, viche, odeia. O Prefeito da grande metrópole aproveitou a oportunidade para inaugurar o novo velório da cidade. Os móveis ainda estavam cobertos com plástico original de bolhas, que os amigos do morto iam estourando com prazer, fazendo um ruído inodoro e suspeitíssimo. Minha mulher está achando que sou eu quem trouxe o azar pra essa gente toda e está querendo voltar para a antiga cidade. Acontece que eu gostei e não saio mais daqui. Estou gostando da festa. Aliás, como dizem os mineiros, estou gostando demais da conta. Continuo seguindo a minha alameda sem rebarbas, comendo doces pães e rosquinhas na padaria do Jarbas...
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