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Artigos-->Sobre a (não) inteligibilidade dos artigos. -- 12/02/2003 - 05:25 (Walter Del Picchia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sobre a (não) inteligibilidade dos artigos



Eng. Walter Del Picchia

Professor Titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo





Palavras-chave: textos, normas, inteligibilidade.



Este texto é dirigido aos futuros autores de artigos e relatórios técnicos ou semi-técnicos, especialmente aos marinheiros de primeiras viagens, com a intenção de alertá-los sobre o que evitar em seus escritos a fim de torná-los mais inteligíveis ao leitor interessado. Para o leitor, um texto hermético é frustrante, e para o autor, inútil como meio de transmissão de idéias. E uma das finalidades da linguagem não é justamente a transmissão de idéias? Desentendimentos por falhas nessa transmissão não chegaram a ocasionar até guerras entre povos no passado? Portanto, neste texto vou partir da premissa de que o autor deseja ser compreendido.



Como já deparei (como muitos outros) com trabalhos bastante difíceis de entender, nos quais necessitamos ler certas frases várias vezes, e mesmo assim permanecendo na dúvida sobre a real intenção do autor, elaborei uma lista com quatro itens, cuja inobservância costuma comprometer, se não impedir, a desejada compreensão.



Antes, porém, é importante definir qual público desejamos atingir, qual é o nosso “público-alvo”. De acordo com a decisão, poderemos direcionar nosso texto de modos completamente diversos. Exemplos de públicos-alvo são: leigos com nível mínimo de conhecimentos gerais, leigos com bom nível de conhecimentos gerais, leitores com algum conhecimento do assunto, leitores com bom conhecimento do assunto, leitores eruditos mas sem conhecimento do assunto, profissionais de áreas correlatas, especialistas no assunto, combinações dos itens acima (quem quiser pode adicionar outros exemplos possíveis).



De acordo com o público-alvo, as seguintes normas podem e/ou devem ser seguidas, parcial ou totalmente:



1. Sobre a compreensão das palavras



Não abusar de palavras e expressões de pouco uso, ou do jargão técnico, incompatíveis com o público-alvo ou de difícil compreensão pelo mesmo. Uma certa porcentagem de palavras mais eruditas fica por conta do estilo do autor e serve para o leitor enriquecer o vocabulário, pesquisando seus significados, mas o abuso desnecessário certamente prejudicará a compreensão do texto. Também, quando existirem termos equivalentes em português, deve-se evitar a todo custo o emprego de vocábulos estrangeiros, pois eles só dificultam o entendimento (o bom senso é um conveniente auxiliar na aplicação desta norma). Termos como: inconspícua, holístico, trade-off, hoax, tagline, inseminação com aleatoriedade, eqüidistante da inépcia, contingência de prevenção, motricidade endógena, são exemplos do que está escrito acima e já me fizeram hesitar em leituras.

Observe-se que a invasão de termos em inglês está descaracterizando excessivamente a nossa língua, falada e escrita, e o idioma comum é um dos cimentos que constroem a nacionalidade. Se não paralisarmos esse processo, em pouco tempo estarão criadas uma classe bilíngüe e outra de analfabetos em inglês, os quais não vão mais entender o que se passa ao seu redor, pois cada vez mais temos que aprender termos desnecessários para não ficarmos deslocados (até pessoas razoavelmente familiarizadas com a língua inglesa, muitas vezes sentem-se estranhas em sua própria terra). Uma proposta é simplesmente abandonar a leitura de textos que abusam de termos estrangeiros, como certos artigos de jornal; se o autor não deseja ser lido, vamos satisfazê-lo.



2. Sobre a definição dos conceitos



Não usar conceitos não definidos previamente, incompatíveis com a formação do público-alvo (é permitido utilizar conceitos não definidos, se o público-alvo for constituído por conhecedores da área ou se os pré-requisitos para a leitura forem claramente especificados). Aliás, todo trabalho deveria começar esclarecendo a quem o mesmo se destina, como foi feito neste texto. Referências bibliográficas, desde que de livros disponíveis, podem atender, ao menos parcialmente, à necessidade da prévia definição dos conceitos utilizados.



3. Sobre citações eruditas



Empregar com parcimônia, somente quando necessário, nomes e citações que exijam cultura ou erudição incompatíveis com o público-alvo. Por exemplo, não adianta citar “toque de Midas”, “trabalhos hercúleos”, “pitonisa de Delfos”, para interlocutores ignorantes em história ou mitologia gregas e que desconheçam essas expressões, por mais que esses termos sejam corriqueiros para quem tem razoável cultura geral. A citação cairá no vazio, sendo inútil, ou mesmo prejudicial, à compreensão do texto. Outros termos com os quais já deparei: viés orwelliano, mundo platônico, trauma dialético.



4. Sobre a estrutura lógica



Tomar muito cuidado com a estrutura e o encadeamento lógicos do texto. Qualquer trabalho deve conter, no mínimo: um título que esclareça a intenção do autor, uma lista de palavras-chave apropriadas, uma introdução com clara exposição do assunto a ser tratado, bases necessárias, o assunto propriamente dito, exemplos, conclusões e/ou conseqüências, bibliografia. No caso de monografias ou teses, a introdução, a conclusão e a bibliografia devem ter tratamento privilegiado, pois normalmente merecem a primeira atenção do leitor; o texto deve ser cuidadosamente ordenado em capítulos, sub-capítulos, itens, e muitas vezes é desejável adicionar um glossário; assuntos correlatos que não caibam no texto, mas são relevantes, podem ser colocados em apêndice.

Na literatura é comum encontrarmos textos que são claríssimos para os autores, mas que deixam o leitor na dúvida se o que leu é uma afirmação, uma suposição, uma implicação, uma exceção ou um exemplo crítico. Lemos várias vezes e não ficamos convencidos de ter entendido corretamente. Ambigüidades devem ser eliminadas, muitas vezes com uma simples troca de lugar de um adjetivo ou de um verbo, a colocação de uma vírgula, ou a inversão de trechos do texto. Há estruturas ambíguas que devem ser evitadas, por exemplo: “armário de metal caro”, “vi um homem na montanha com binóculo”, “João, filho de Paulo, que venceu o jogo”. Outras vezes as ambigüidades provêm do múltiplo sentido das palavras, como em: “após o terceiro dia, entrei no quarto”, “peixe nada!”, “aquele indivíduo tem quatro patas”, “estátua de sete pés”.



Finalmente, a atenção na sintaxe da linguagem, nas regências e nas concordâncias, assim como na colocação das vírgulas, é essencial; erros de linguagem depreciam qualquer texto. Em trabalhos de maior responsabilidade convém providenciar a revisão por um profissional da linguagem.



Concordo não ser trivial atender a todos esses requisitos; podemos considerar um verdadeiro artista aquele que obedece a esses critérios e ainda escreve um texto limpo, didático e com estilo.



Se eu pudesse resumir tudo em uma só recomendação aos futuros autores, ela seria: “Tenham dó do leitor; ao escrever, coloquem-se no lugar dele”.





Em anexo apresento uma lista bem-humorada, com dez itens, para uma “boa escrita”, cujo autor desconheço e a quem presto minhas homenagens. Fiz ligeiras modificações, mas mantive o espírito que presidiu sua elaboração.



Anexo: Iscreva bem



1 - Colocar vírgulas entre o sujeito e o predicado, não é correto.

2 - Locuções adverbiais no entanto devem ser colocadas entre vírgulas.

3 - Sujeito e verbo deve sempre concordarem.

4 - Lhe aconselharia nunca começar uma frase com um pronome oblíquo.

5 - Consulte um dissionário sempre que tiver dúvidas na hortografia.

6 - Nunca deixe de não escrever frases com duplas negativas.

7 - Jamais utilize afirmações repetitivas, redundantes, tautológicas e pleonásticas.

8 - Não repita que é para não utilizar afirmações repetitivas, redundantes, tautológicas e pleonásticas.

9 - Não escreva, ou evite ao máximo, longas sentenças nas quais - por causa de um grande contingente de idéias, separadas por vírgulas, que você tenta expressar, mas se acumulam na mesma frase - o leitor, que tenta apenas compreender, tenha que voltar atrás na frase que você escreveu (com a melhor das intenções, diga-se de passagem), procurando encontrar o sentido daquilo que se estava tentando, mas nem sempre conseguindo, dizer, pois, na realidade cotidiana, os fatos, em última instância, nem sempre se passam de acordo com o desejo dos seres viventes, mesmo que eles merecessem que tal objetivo acontecesse.

10 - Lembre-se de sempre terminar aquilo que ...





Bibliografia:



ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 2000.



FEITOSA, Vera Cristina. Comunicação na Tecnologia - O Recado da Ciência. São Paulo: Brasiliense/Petrobrás, 1987.



TOBAR, Frederico; YALOUR, Margot Romano. Como fazer teses em saúde pública. Rio de Janeiro, Fiocruz.



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Artigo publicado em:

Revista de Divulgação de Ciência e Tecnologia - Ano 3, Número 3 - Nov/2002

Fundação Liberato - Novo Hamburgo - Rio Grande do Sul



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