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cronicas-->Histórias da caserna - AMAN -- 19/03/2007 - 17:19 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Academia Militar das Agulhas Negras - AMAN

CARLITO LIMA

Recentemente fui a Resende comemorar o 45º aniversário de formatura de minha turma na AMAN. Desde 1961 não havia retornado; foi muita emoção ao ultrapassar novamente o Portão Monumental da Academia. Assim que entrei, caminhei pelos quatro cantos da grande escola de minha vida, revi com boas lembranças até a cadeia onde fiquei preso por ter participado de uma briga em lugar incompatível com a condição de militar (zona). Essa briga entre cadetes x caminhoneiros me deixou 15 pontos na cabeça e 15 dias de prisão.

Depois de dois dias em Resende seguimos, oito casais, sete generais e um capitão, para um belo hotel em Itaipava. Para completar, fomos ao Rio de Janeiro que continua lindo. Uma semana de muitas histórias relembradas. Companheiros de turma, irmãos por adoção, durante três anos ralamos juntos naquela magnífica Escola Militar ao pé das Agulhas Negras, um dos picos mais altos do Brasil. Nas noitadas dessa gostosa semana reuníamos os casais para longas conversas relembrando fatos e lendas que se incorporaram às nossas vidas, como a história dos oito cadetes de pelerine.

No início de 1943, tempo de II Guerra Mundial, a construção da AMAN havia parado por falta de verbas; funcionava no Rio a velha Escola Militar de Realengo, instituição que formou muitos militares conhecidos no século passado, como Castello Branco e os outros generais presidentes.

Naquela época uma das diversões do cadete era montar nos dias de folga. Oito amigos nos fins de semana costumavam cavalgar. Oito companheiros inseparáveis saíam sempre juntos, um ajudava ao outro nos estudos, nas dificuldades. Irmãos por escolha, por opção. Em algumas noites eles costumavam sorrateiramente cavalgar até uma boate de mulheres que havia em Botafogo. Naquela época prostitutas namoravam. Os oitos cadetes vestiam-se apenas com pelerine (capa militar azul marinho sem mangas), botas e o quepe a Príncipe Danilo, o mulherio se assanhava quando eles apareciam. Havia um detalhe: por baixo das pelerines eles nada vestiam, todos nus; faziam farras tremendas no cabaré de Botafogo. Os cadetes cavalgavam nus, dançavam nus, apenas cobertos pela pelerine. Certamente iam nus para os quartos das prostitutas apaixonadas. Era alto risco, se fossem apanhados pela Patrulha Militar pegariam cadeia ou até expulsão.

Certa noite depois de dançar com as mulheres, depois de se deitarem com as "namoradas", os oito amigos montaram nos cavalos escondidos no mato e com um grito de comando dispararam pela estrada de barro retornando a Realengo. Quando passavam por uma rua, por volta das 23 horas, viram numa esquina escura quatro homens assaltando, batendo num senhor que pedia clemência, que não lhe matassem. Os cadetes, os oitos cavaleiros, não precisaram combinar, puxaram as rédeas e os cavalos dirigiram-se para o local do assalto, com destemor e muita garra desmontaram dos cavalos ainda a galope, agarraram os bandidos. Dois socorreram o cidadão que já devia ter mais de 50 anos, os outros prenderam os marginais. Entregaram os facínoras numa delegacia próxima, e o velho ferido foi deixado num hospital.

Na segunda-feira durante a formatura matinal, o comandante da Escola pediu à tropa para que os cadetes que tinham salvado a vida de um cidadão se apresentarem, o filho desse senhor estava ali para agradecer. Os oito amigos não se revelaram, receio de pegar cadeia. Só depois do comandante muito insistir e promessa de não haver punição, os cadetes se apresentaram. Foram levados à presença do velho no hospital. Era nada mais nada menos que Henrique Lage, um dos homens mais ricos do Brasil, donos de empresas, inclusive o Loyde Nacional, companhia de navios que fazia a costa brasileira. O rico senhor agradeceu aos cadetes e perguntou qual a precisão de cada um, eles dissessem o que queriam, casa ou carro, ou o que fosse. Os oito amigos pediram para pensar. Reuniram-se, discutiram muito. No outro dia foram ao ricaço, nada queriam para eles, pediam que ele ajudasse a terminar a construção da Academia Militar das Agulhas Negras que estava paralisada. O velho deu a ordem, mandou buscar o mais fino mármore de Carrara na Itália para o revestimento, mandou comprar todo o piso da Academia em granito. Até hoje perdura o luxo e a suntuosidade daquele belíssimo conjunto arquitetónico. A AMAN é considerada a mais bonita Academia Militar do mundo, graças à digna história dos oito cadetes, hoje anónimos militares reformados de nomes esquecidos, mas o belo gesto, a coragem, o destemor e o amor à sua Escola tornaram-se lenda, sempre lembrada nas reuniões militares.

CARLITO LIMA ESCREVE AOS DOMINGOS NA GAZETA DE ALAGOAS, NO CADERNO CIDADES. www.gazetaweb.com
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