Todos sabem que São Pedro é o senhor do clima e vale-se dele para premiar ou castigar as pessoas, de acordo com seu merecimento. Se estudamos durante o ano, chove pouco no dia da festa de formatura, lua cheia no dia do baile. Se somos bons pais, o acampamento não desaba nas férias. Se respeitamos a dieta, não faltará o balde para aparar a goteira. Se esquecemos uma prestação, o calor da tarde pode ficar insuportável. Não há clemência, é a lei. No comando o bom e justo Pedro. Para exercer este poder, São Pedro se arma de estoques de água, acumula baterias e pratica esportes aeróbicos de modo a preservar sua capacidade de assoprar. Tudo em nome da justiça.
Muitos sabem, mas não tem coragem de mencionar que nosso querido amigo Pedro - cuidado, ele é muito suscetível - tem seus dias de folga, quando sai a passear pelos céus, sem destino nem compromisso. Quando está entediado, fica olhando aqui pra baixo e esquece de suas altas responsabilidades. Nestes dias ele não resiste a certos apelos que o pessoal do sub-solo lhe faz. Se vê uma casa destelhada, destas que aproveitam a estiagem para fazer uma pequena reforma, não há seca que iniba a tempestade.
Ainda que a família seja merecedora de benefícios e privilégios variados. Mesmo que a família acumule créditos na contabilidade celestial. Ainda que família faça orações e apresente argumentos os mais compreensíveis. Nada o demove. Mesmo que a obra tenha sido planejada para a estação da seca. Não adianta, nada adianta. Ele fica incontrolável. Manda água. Às vezes com vento.
Depois ele avalia e se descobre que a injustiça foi grande, arranja alguma forma de compensação que reorganize a família e premie o sacrifício. Isto se não houver muita reclamação. De qualquer forma qualquer revisão só pode ser esperada na semana seguinte. Na hora, ele não resiste, não há liminar que o segure.
Não é por mal, ele simplesmente não consegue. Manda água.