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cronicas-->O proguiçoso -- 23/03/2007 - 21:44 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Caetano Veloso afirma ser um "preguiçoso que trabalha muito." Como baiano, o filho de dona Canó deve sofrer com o clichê que assola os nascidos naquele estado. Nasceu na Bahia? É preguiçoso. Mas tenho a desconfiança de que essa máxima não se refere à baianidade de Caetano e, sim, à sua condição de ser humano. Melhor assim: nasceu humano? É preguiçoso.
Essa constatação não é nova. Na antiguidade clássica, muitos filósofos com tempo sobrando já viam na preguiça um grande mal. Catão, enquanto descansava num bosque grego, dizia que a preguiça era a mãe de todos os vícios. Os católicos que não tiveram preguiça de estudar o catecismo sabem que ela é um dos sete pecados capitais. Ao mesmo tempo, muitos se divertem com a indolência. A Literatura, por exemplo, nos entregou preguiçosos adoráveis, como Macunaíma (Ai! que preguiça!) e o Jeca Tatu (Não paga a pena trabalhar!). Mário Quintana, autor de Da preguiça como método de trabalho, conta que escreveu um ensaio chamado "Preguiça". Era composto pelo título, duas colunas em branco e assinatura. Ficou indignado com a recusa do editor. Onde já se viu? Censurar página em branco!
A preguiça descrita nos clássicos ou na bíblia, mesmo aquela satirizada pela literatura, sinónimo de letargia total, não incomoda nem afeta a maioria. Inseridos num contexto produtivo alucinante, estamos vacinados contra esse tipo de vício e já temos o estereótipo do molenga como uma referencial daquilo que não queremos ser. Cumprimos nossas jornadas de trabalho ou de estudo com razoável eficiência. Até mesmo quem está sem emprego vê essa situação como passageira e busca uma colocação. Nessa concepção, poucos são os preguiçosos.
O vírus da preguiça, porém, é mutante. E não tem a menor preguiça! Ao perceber que o homem contemporàneo sempre dava um jeito de manter a ilusão do dever cumprido, tratou de se adaptar e, atualmente, nos contamina de outra forma. Já não é mais a preguiça, mas a proguiça que preocupa: uma doença que impede que pessoas socialmente ativas, profissionais com emprego, percebam que existe vida além do contrato de trabalho.
O proguiçoso é aquele que dedica toda a energia para a empresa que o contrata e nenhuma para si. Cumpre a jornada diária e, quando chega em casa, é acometido por um desànimo inexplicável. Não consegue tocar nenhum projeto pessoal. Se pensa em escrever um livro, mesmo tendo muitos brancos na agenda todos os dias, nunca reúne condições para ligar o computador. Quando o faz, não é para trabalhar no Word, mas para jogar Paciência Spider ou conversar MSN por horas.
Atiçado pela vida a fazer um pouco mais que o mínimo, o proguiçoso tem sempre boas desculpas. Diz que já trabalha demais na empresa e que não tem tempo. Reproduz frases feitas como "eu não posso reclamar" ou "tem gente que não tem o que eu tenho". Prende-se ao passado e culpa o outro pela falta de motivação. Espera que o futuro, que é sempre melhor, chegue, mas não faz nada para torná-lo presente. Curiosamente, o proguiçoso é ótimo funcionário, elogiado pelo chefe. Tão competente que faz tudo com "os pés nas costas", o que significa que gasta quase nada de energia no trabalho. Ainda assim, fica babando frente ao Big Brother todas as noites.
Diagnosticar a proguiça não é fácil. A sociedade não condena o proguiçoso. Ao contrário, vê nele um modelo de docilidade e de inércia ótimo para manter as coisas como estão. Rebelar-se é ainda mais complicado pois depende de um furacão interior difícil de criar. Ao fim, estamos todos infectados e passamos a achar essa letargia mascarada de produtividade bem normal, como se a vida devesse mesmo ser assim tão besta: trabalho, TV, cama, trabalho. Mas dá uma proguiça mudar! São tantos os convites para deixar tudo para amanhã. Tantos filmes na TV, tantos colchões ortopédicos, tantos... só um minutinho que tem um amigo meu aqui no MSN...

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