Para a carioca Luciana Sandroni, uma boa obra para crianças requer sinceridade, inteligência, respeito pelo leitor. Tímida na infância, marcaram-na para sempre as histórias do "Sítio do Picapau Amarelo", que ouviu de sua mãe.
Filha e neta de jornalistas, a menina brincava de fazer jornal com os irmãos, e entre os 11 e 12 anos de idade já se iniciava na aventura da escrita. Aluna de um dos colégios mais tradicionais do Rio de Janeiro, o São Vicente de Paula, alguns professores de redação foram decisivos para que abraçasse a carreira de escritora.
Aluna da Faculdade de Letras da PUC-RJ, começou a se interessar por literatura infantil, fazendo cursos, monografias e lendo bastante. Um estudo sobre "A chave do tamanho", de Monteiro Lobato, despertou nela a vontade de escrever "sobre problemas reais de maneira fantástica".
Em 1998, o prêmio Jabuti concedido a "Minhas memórias de Lobato", em que os personagens do Sítio contam a vida de seu criador, fizeram dela uma referência nacional. Ainda inspirada no mestre, escreveu "O Sítio no Descobrimento: a Turma do Picapau Amarelo na expedição de Pedro Álvares Cabral". Outro destaque em sua carreira foi participar na equipe de roteiristas da versão do "Sítio" para TV.
"Escrever para crianças não é tão diferente de escrever para adultos", costuma dizer, "as diferenças ficam por conta de uma linguagem mais coloquial e uma quantidade menor de texto. No meu trabalho, sempre procuro colocar também humor e otimismo."
Foi o tempo em que escrever para crianças pressupunha linguagem melosa, diminutivos em penca, lições de moral, condescendência, embalados em papel ruim e com ilustrações feias. As boas editoras estão bastante atentas e têm caprichado na produção.
Sobre a importância da ilustração, diz que os livros infantis, na verdade, têm dois autores: o escritor e o ilustrador. E lembra Ziraldo, cujas histórias nem poderiam existir sem as ilustrações. Luciana tem escolhido a dedo seus co-autores. Entre eles, os cartunistas Spacca e Laerte.
No último sábado a escritora esteve no Sesc/Araraquara para um bate-papo sobre seu trabalho.
Em "Ludi na Revolta da Vacina", "Ludi na TV" (adaptada para teatro em 1994) e "Ludi vai à Praia", a personagem Ludmila percorre fatos que aconteceram ou acontecem na cidade do Rio de Janeiro. Em "Memórias da Ilha", o cenário é a ilha de vovô Athayde, que o Brasil conheceu e reverenciou como Austregésilo. Em "Gata Menina", uma garota se recusa a falar, só mia. E tem ainda "Falta um pé", "A História do Príncipe Sábio e da Princesa Deslumbrante", "Manuela e Floriana".
Mas Luciana veio falar de "O Mário que não é de Andrade", na programação que acompanha a exposição "Na Terra de Macunaíma".
Lançado pela Cia. Das Letrinhas, que traz grandes nomes da nossa cultura para o público infanto-juvenil, o livro fala de um encontro, fantástico, entre dois xarás. Mário, um garoto paulistano cuja mãe está por terminar uma interminável tese sobre Mário de Andrade, vive uma seqüência de aventuras incríveis no quarto vazio do escritor, na casa da rua Lopes Chaves, ou melhor, no coração da Paulicéia Desvairada. Mas esse fica sendo o assunto para o nosso próximo Oxouzine.
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