Os seios*
Nunca te vejo o peito arfar de enleio,
Quando de amor, ou de prazer te ebrias,
Que não ouço lá dentro as fugidias
Aves, baixo alternando algum gorjeio...
Aves são, e são duas aves, creio,
Que em ti mesma nasceram, e em ti crias,
Ao arrulhar de castas melodias,
No aroma quente e ebúrneo do teu seio;
Têm de uns astros irmãos o movimento,
Ou de dois lírios, que balouça o vento,
O giro doce, o lânguido vaivém.
Oh! quem me dera ver no próprio ninho
Se brancas são, como o mais branco arminho,
Ou se asas, como as outras pombas, têm...
(Luís Delfino)
* Citado por Napoleão Valadares (Jornal da ANE, nº 75, dez/2016, "Soneto do mês", jan/2017, p. 2).
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