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cronicas-->Santos, Porto, Arte, Manhas... Brasil ! -- 03/01/2001 - 00:46 (Carlos Delphim Nogueira da Gama Neto.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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Santos, Porto, Arte, Manhas...Brasil !


Hoje, quarta, dia de feira; local que sempre evitei frequentar, por umas poucas razões. Em especial, pelo mal estar e o desassossego, que o movimento, o burburinho sempre me provocaram. Gosto mesmo é de silêncio e tranquilidade, mesmo que deva ser, na zona urbana.
Mas, o desejo de comer peixe, no almoço, levou-me até à feira. E... quanta surpresa ! Espaço livre para caminhar; presteza excepcional no atendimento, nas bancas quase vazias. Tal a quietação, que me dispus a caminhar por um longo trecho dela, observando o comércio, os produtos e as pessoas em quantidade pequena.
Comprado o que eu queria, vim caminhando bem devagar, prestando atenção às outras pessoas que como eu, dali saíam carregando à mão ou nos carrinhos, pequenas quantidades de compras, ali feitas.
Estranhando a visão incomum - não ia à feira fazia muito tempo - sentei-me na mureta do canal para observar melhor os transeuntes e poder conjeturar com maior serenidade, sobre o inusitado da ocorrência.
Nunca se sabe qual a razão principal que acaba despertando, na memória, as imagens do passado, seja ele próximo ou remoto, real ou fictício.
Fato é, que rememorei as cenas que estavam armazenadas ali, produto da leitura de obra de Ranulpho Prata : "Navios Iluminados"; onde o autor, médico sensível, narrava a saga de um lutador nordestino e seu esforço hercúleo, para sobreviver e manter a pequena família aqui constituída, com o produto do estafante e mortal trabalho no porto.
Até que, na miséria, acoimado junto com os seus, em um infecto porão alugado, leva-lhe o corpo à terra e a alma ao Criador, a tísica.
Mas, isso eram lá histórias (passíveis de serem reais), das primeiras décadas e infelizmente, também da última, deste século que ora finda.
Com o advento do trabalhismo, de legislação protetora dos direitos do operariado, com um sindicalismo forte, de administrações sinceras e honestas, o portuário deixou de ser um mero sobrevivente - quando muito - para adquirir condições de vida digna, para si e para a família. Esse evento trouxe consigo, prosperidade ao comércio e à indústria regionais.
O portuário passou a trabalhar com mais amor e empenho, em troca desta nova condição de dignidade, o que granjeou para Santos o conceito de um dos portos onde melhor se desempenhava o trabalho portuário e marítimo. Mesmo quando comparado com todos os portos mais famosos e mais antigos do mundo.
E digo isto, ouvido não poucas vezes, da boca de marinheiros estrangeiros, durante trinta anos neste bendito porto de Santos.
Bendito, sim ! E no melhor de todos os sentidos. Pois foi dele, de sua atividade, que a cidade cresceu e prosperou, assim como por ele, hoje, definha. Nem bem por ele, o que não seria justo. Mas, por aquilo que fizeram dele.
Reconduziram o trabalhador à sua antiga condição de miserabilidade e o produto digno e justo, de sua atividade laborativa, que, circulando sustentava a maior parte da economia da região, ficou concentrado nas mãos de uma minoria e é movimentado hoje, sabe-se lá onde !
O grupo familiar, concessionário da exploração do Porto de Santos, por quase um século, continuou enriquecendo, mesmo após a melhora das condições de ganho de seus trabalhadores. Enriquecendo sempre, pagando bem, em dia e reinvestindo boa parte de seus lucros na manutenção e na modernização do porto e de seu aparelhamento.
Terminado o período de concessão da exploração da atividade portuária - como só poderia acontecer - o governo chamou a si a atividade transformando, em tempo recorde, o Porto de Santos nos cacos propositais, que vai aos poucos presenteando a grupos privados, subsidiando-lhes a aquisição fácil e o seu reaparelhamento.
De estranho, nisto tudo, somente o fato de haverem respeitado os prazos de concessão. O que não ocorreu com a Light; retomada ao custo de altíssimas multas contratuais, seis meses antes de expirar o prazo de concessão.
Ocorrências nada estranháveis, nestes últimos quinhentos anos deste mesmo tipo de administração pública !
Desperto, enfim, desta longa divagação. Levanto e fazendo o caminho de volta da feira até em casa, vou ainda observando o resultado destes tristes fatos, aqui lembrados. Fatos reais, criados em um longo trabalho de sapa e de artimanhas, engendradas com muita colaboração anónima.
Pessoas cabisbaixas, ombros caídos, muros pichados, calçadas esburacadas, portas comerciais cerradas e... vai meu ànimo também, ficando um tanto alquebrado, como estas outras almas penadas, que por aqui vagueiam.
E realista, me indago:
"Até quando teremos água ?
Até quando resistirão nossas florestas, cada vez mais ( legalmente ) devastadas ?
Até quando continuará se propagando o desmando para com o património público ?
Até quando, permitiremos que esse desmando se propague em ondas crescentes, caminhando no vácuo criado por nosso silêncio covarde ou ganancioso ?
Até quando ? "
Que tristeza ! Só me responde o silêncio.
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