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Artigos-->Cala a boca, Pelé. Eu calaria -- 14/02/2003 - 01:16 (Fernando Jasper) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Todo mundo gosta de dar palpite. De opinar sem ter lá muita autoridade para isso. De meter o nariz onde não deve. É, aliás, o que mais será feito nesta coluna ao longo do tempo.



A diferença é que, além de opinar, Pelé – ou o “Rei do Futebol”, ou o “Atleta do Século”, ou Edson Arantes do Nascimento, ou garoto-propaganda do Viagra, ou, enfim, a entidade que ele estiver encarnando no momento – faz isso diante de sabe-se lá quantos milhões de telespectadores, leitores de jornal, ouvintes de rádio. O tempo todo. Sem o menor compromisso de manter um mínimo de coerência, sem nem sequer ter o cuidado de conferir se não fez ou faz algo pior do que aquele que é alvo de suas críticas.



O atleta do século gosta de atacar a falta de organização do futebol brasileiro em geral. Ponto para Pelé! Mas é bom lembrar que isso até o dono do bar da esquina faz. E, enquanto muitos donos de bar vão levando seu modesto estabelecimento durante anos e anos sem falir, Pelé delega a administração de suas empresas a amigos, no mínimo, suspeitos (vide Hélio Viana, Renato Duprat etc). São esses amigos que volta e meia quebram tais empresas e se vêem envolvidos em investigações de uma ou outra CPI. Daí aparece o negão chorando, pedindo desculpas e dizendo que foi enganado. Conclui-se que, assim como o futebol brasileiro, Pelé não é o que se pode chamar de um exemplo de organização e boa administração.



Outro dia, enquanto dava entrevista coletiva na sede do laboratório Pfizer (fabricante do Viagra, do qual realmente é garoto-propaganda), o Rei resolveu soltar mais algumas de suas pérolas. Segundo o site Pelé.Net, “criticou o planejamento da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo, mas acredita que a qualidade dos jogadores pode superar a falta de profissionalismo na administração do futebol brasileiro”. Ok, senhor “administrador”. O que você esqueceu é que nas três Copas em que foi campeão (58, 62 e 70), o planejamento nunca foi exatamente uma área de excelência na Seleção. Para ficar num único exemplo: em uma foto de 62, pode-se ver Garrincha de terno, gravata, chapéu e... fumando um cigarro. Que eu me lembre, o profissionalismo no futebol exige absurdos como não fumar. Houve profissionalismo? Não. Fomos campeões? Sim. O mesmo pode acontecer agora, como bem disse o próprio Pelé. Portanto, deve-se evitar chover no molhado. O futebol brasileiro nunca foi realmente profissional e dificilmente chegará a este ponto, mas isso não é o maior empecilho para se conquistar um título e nem a melhor justificativa para se reclamar da Seleção.



Na mesma notícia: “O ex-jogador disse ainda que a Seleção Brasileira não está entre as cinco equipes favoritas para conquistar o mundial. Para o craque, Argentina, França, Itália, Portugal e Inglaterra estão mais organizados. Pelé também falou da equipe da Espanha, que considera mais bem organizada e treinada que a do Brasil”. De novo o papo furado da organização. Espanha e Portugal, “muito mais organizados”, nunca chegaram a uma final de Copa. Nem Japão, nem Estados Unidos. Só isso não basta para ser campeão.



A obsessão de Pelé por organização chega a ser admirável. No ano passado, depois de um longo histórico de brigas com Ricardo Teixeira, presidente da CBF, o Rei posou para fotos abraçando o dirigente, gesto que causou espanto e indignação. Foi na reunião que apresentou o “calendário quadrienal” do futebol brasileiro, que pretendia pôr ordem na casa de uma vez por todas. Pelé disse ter abraçado o inimigo declarado “pelo bem do futebol”. Ponto para Pelé! O “calendário quadrienal”, no entanto, não durou mais que seis meses, e saber como será o próximo Campeonato Brasileiro é um verdadeiro exercício de imaginação.



Não podemos culpar Pelé pelo seu amor ao esporte. Tenho certeza que alguns irão se emocionar ao saber o motivo que o levou a abandonar definitivamente abandonar a Seleção Brasileira: após a Copa de 1970, ele brigou com a direção da CBD (Confederação Brasileira do Desporto, na época responsável pelo futebol no país) por causa de divergências financeiras. Enfim, queria mais grana. Um exemplo de profissional.



Poderia falar aqui das aventuras de Pelé no último GP Brasil, onde mostrou o quanto entende de bandeirada (e de Fórmula 1), mas o espaço é curto. Só me resta dar um conselho que ele obviamente não vai ler e que, se lesse, não seguiria. Mas me sinto na obrigação de fazê-lo: o seu negócio, Pelé, é falar dos seus gols e – por que não? – do Viagra. Nisso, sim, você deve ter bons argumentos. De resto, aproveite bem as oportunidades que tem para ficar calado. Eu calaria.

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