Juntei todas as suas juras e as transcrevi.
De amarfanhadas cartas, lidas e relidas, desprezadas ou esquecidas, suguei tua alma.
Descobri-te romântico e apaixonado, e eu precisava deste alento, em meu desespêro.
Pude imaginar-me única; novamente sentir-me amada, como quando depus minha vida em tuas mãos.
Vinguei-me, talvez, do que viveste sem mim, que certamente não foi bom pois deixou-te com a sensação amarga se sentir-se usado.
Vibrei, porém, com cada palavra tua, cada mensagem oculta, que hoje entendo muito melhor, e em cada declaração lida senti-me recebendo tudo o que me faltou ( talvez, previdente, armazenaste para o futuro).
Não me arrependo de nada. Pela emoção que sentiste, um dia, ao imaginar-me sequer, valeram as lágrimas todas que verti e as que verterei na distância. Pelo sentimento que pude fazer florescer, pela angustia mal disfarçada, pela saudade que doeu em seu coração, pela insegurança de perder-me que sentias, valeu a vida. Se pude inspirar tanto sentimento, mesmo que tenha pouco durado, foi precioso o bastante para que me sinta recompensada.
Se acreditei demais na permanência do que ocorria em teu íntimo, isso em nada te desabona. Amaste-me loucamente, irracionalmente, e me basta. Desejaste-me só para ti e assim foi, talvez continue, porque és o dono ainda de minhas vontades.
Quanto a mim, valho-me do que já pude ser para ti para avaliar o que restou de mim. Por pouco que exista, por pouco que eu seja, já fui e já provei o gosto de sentir-me adorada. Nesse passado mergulho, sinto-me menina e sem fala diante do teu olhar apaixonado, teu abraço possessivo e de tua angústia de sentir-se preso a mim.
Como entendo-te muito mais hoje, sei que o medo e a insegurança varreram a paixão, e portaste-te calculista e frio como este vento que despedaçou-me a vida. Se vivo ainda, é que compensa a lembrança, valeu cada instante e eles merecem ser eternizados.
A ti dedico o respaldo de uma vida, o que resta da minha.
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