I- Gula
II- Preguiça
III- Inveja
IV- Luxúria
V- Ganància
VI- Avareza
VII- Ira
(Serão mesmo apenas sete???)
I- A Gula...
Quem diria que a humanidade um dia seria capaz de abster-se dos prazeres gastronómicos para cultuar uma beleza esquálida de linhas retas e palidez. Onde está a sensualidade cujas formas sinuosas (e excitantes) despertam os desejos mais sinceros de apego espontàneo?
Nos povos antigos a dificuldade que havia em determinadas épocas do ano para caça e coleta de alimentos - principalmente frutos - poderia explicar a moderação com a qual se alimentavam e o esquema de atividades e cultos previamente estabelecidos. Apesar disso, alimentavam-se o suficiente para reservar forças para sua própria sobrevivência.
Saltando na história e chegando ao século XVIII, delicia-se a humanidade com os requintes de uma sociedade onde vale o comportamento da ostentação, o direito ao "deleite" em seu significado mais primário. Banquetes ornavam com as claras perucas francesas de alto valor, entre os nobres cavalheiros e as damas impecáveis de costumes palacianos.
Quanta metáfora reina em nossa corte européia!! Deleite dos deuses nobres que se deixam observar à deliciarem-se com apetitosos alimentos. Mais que isso, retratam-se em pinturas valiosas suas formas arredondadas cultuando a beleza literalmente interior!
Os inexoráveis registros da humanidade não deixam dúvidas que o pós guerra trouxe-nos marcas quase irreversíveis. Uma análise dos costumes europeus no período entre guerras traz à tona uma polêmica que atordoa estudiosos da Gastronomia. Na época de difícil abastecimento, os pratos eram decorados com mais primor, a fim de disfarçar a escassez que assolava a Europa, mantendo o padrão requintado, mesmo em época difícil. Explica-se então os imensos pratos, com uma miserável quantia de comida "fantasiada" na parte central.
Em termos de ornamentos e valorização do alimento do corpo (e subsequentemente da alma), os povos orientais constituem um exemplo imprescindível de análise. Como exemplo disso, é preciso citar apenas o "ritual do chá", cujo percurso, forma de preparo, silenciosa degustação e meditação na apreciação do aroma, etc., proporciona a aproximação do sublime!
Finalmente a década de 90 aparece no cenário da "moda" em sentido amplo, e instaura a aparência doente de olhos fundos e ossos pontiagudos como padrão a ser seguido. O desprezo pelo alimento perante outras nações que observam suas crianças morrerem desnutridas é marcante na "globalização da ignorància". Anemia, anorexia, formam o outro extremo da miséria humana, onde a morte é causada pelo desprezo de si mesmo, e não apenas pela carência de nutrientes.
Agora questiono aos nobres leitores: a gula consiste em pecado, realmente? Não será apenas vontade instintiva de nutrir-se - seja de que modo for - para repor as necessidades marcantes do passado, e a ansiedade exacerbada pelo futuro? Nesse caso, teríamos apenas seis pecados ?!