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Contos-->UMA HISTÓRIA DE AMOR -- 17/04/2014 - 07:17 (Roosevelt Vieira Leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Marelene se converteu a Cristo mulher feita. Seu marido Ozanias dizia para ela na época: “Mulher, larga de ser burra; essa história de crente é para enganar o povo”. Apesar da ignorância de seu amado companheiro, Marlene continuou fiel a sua conversão. A final, como diziam os irmãos, “a mulher viu a glória de Deus”. Na quadra de seu encontro com o Senhor Jesus, Marlene estava com câncer no seio direito. “Doutor, vou ter que arrancar o peito?” “Lamento, mas, a quimioterapia não deu certo”. Ela foi para casa com essa voz: “Lamento, mas a quimio não deu certo”. O doutor Alencar era o melhor oncologista de Sergipe. Se Alencar dissesse: “Esse ou essa vai viver, o homem ou a mulher vivia”. No caso de Marlene foi “Lamento”. Marlene, então sabia que sua vida estava em perigo. Ela saiu do consultório por volta das sete da noite. Havia deixado seu carro estacionado na Praça Fausto Cardoso. A mulher caminhava na direção da praça quando ouviu um som que vinha do calçadão: “esta noite Deus vai se encontrar com você!” Ela olhou para ver de onde vinha aquela palavra tão cheia de fé. De longe a dona Marlene viu um jovem pregador que estava passando por Aracaju. Ela foi e se juntou ao grupo, na hora do apelo, Marlene foi receber oração. No momento da prece ela sentiu um calor muito forte no peito. Nada a mais foi sido acrescido às suas emoções para que ela se achasse curada de nada, mas, ela disse mais de uma vez: “Quando saí do calçadão, eu sabia que era outra pessoa”. De fato sua mama foi poupada, o câncer sumiu e Marlene virou a irmã Marlene.
Na mesma semana do milagre do calçadão, a mulher sergipana foi ter novamente com seu médico. “Eu creio doutor Alencar que estou bem”. “Marlene muitos pacientes entram nesse estado antes da cirurgia; é uma fuga, uma forma de você desistir da vida”. Quando os exames chegaram, Alencar os leu por cima dos óculos como que não acreditasse no que via. A mulher estava mesmo sã. “O poder da mente pode fazer algumas vezes, raras as vezes, milagres” “Não doutor, foi Jesus quem me curou, eu o encontrei”. “Bem, então, viva Deus!” Marlene desde aquele dia não mais encontrou o doutor Alencar. Ela depois soube da notícia que ele havia falecido de câncer no pulmão. “Alencar fumava muito”. Comentou Ozanias, seu marido.
A vida de Marlene ia muito bem, até que seu marido descobriu que ela dava o dízimo. “Marlene, você devia ter me comunicado que estava dando dinheiro pra essa gente”. Seu marido, mesmo diante de um objeto concreto e empírico, não acreditava na experiência de sua mulher, para ele, crente era coisa de enrolação. “Mulher, eu num te dizia que eles querem é o dinheiro!” “Mas, meu bem, eu, eu...” “Meu bem o que Marlene, isso é traição!” Ozanias passou alguns dias brigado com sua mulher; para ser honesto, ele engrossou os lombos até o dia em que ela encontrou uma camisinha no porta-luvas de seu carro. “Meu bem o que é isso?” O homem ficou sem cor, mas, terminou se saindo pondo a culpa em seu colega Adalberto. Este era seu sócio na empresa revendedora de livros. “É de Adalberto, já pensou, cabra sem vergonha, usou meu carro e deixa uma coisa dessa aí”. Aos poucos, Marlene ia se firmando na fé e descobrindo as coisas de seu marido Ozanias.
Marlene frequentava a igreja fielmente. Deixava a comida pronta, as coisas arrumadas para que quando Ozanias voltasse ele achasse tudo perfeito. Marlene ia de carro próprio para a igreja. Numa certa ocasião, já perto do templo ela avista o carro de seu amado esposo parado num sinal. Inevitavelmente ela para o dela atrás do dele e não havia como não ver, seu marido estava com uma moça dentro do carro. O sinal abre e ela em vez de ir a igreja segue seu amado que entra num motel na saída de Aracaju. “Essa eu não perdoou disse ela a si mesma”. Na igreja, embora atrasada, o pastor prega sobre o perdão e a necessidade de se perdoar o próximo setenta vezes sete vezes ao dia. “Mas, isso num é exagero não?” Perguntou Marlene a irmã Glória. “Não irmãzinha, é porque você é nova na fé, mas, o Senhor nos chama ao perdão, abençoe essa pessoa que te feriu com a benção do perdão”. Marlene perdoou seu marido; o homem nunca soube que ela o vira naquela noite e em outras que se seguiram. O perdão foi garantido, mas, a tristeza inundou seu peito e enegreceu seu amor por Ozanias. “Além de bruto e ignorante, é infiel”. Essas eram as palavras que povoavam sua mente.
A igreja de Marlene recebeu um novo pregador. Um rapaz solteiro e muito inteligente. As moças da congregação começaram a sonhar com o novo homem de Deus. Seu nome era muito sugestivo para quem vive na dimensão da fé – Elias, sim, o novo pastor se chamava Elias. “Ah, irmã Lolita, eu adorei esse rapaz, ele é muito espiritual”. Comentou Silvia, uma diaconisa separada do marido. Assim, como a diaconisa, durante os cultos, as mulheres assediavam o noviço pregador. Contudo, Elias não tinha olhos para ninguém, exceto, para as palavras de Cristo.
Ninguém sabe o dia de amanhã. Um dia Elias e Marlene se aproximaram. O irmão Alfredo Pinto, fez uma reunião em sua casa. Marlene, que não tinha o costume foi ao culto. No final da reunião, o irmão Pinto apresenta o novo pregador à irmã Marlene. Os dois se afeiçoaram desde o início. “É um prazer irmã”. “Oh, meu Deus, o prazer é meu também; como é bom servir ao Senhor”. Os dois estavam inocentes quanto ao destino. O tempo foi passando e os dois trabalhando juntos. Em todos os eventos estava Marlene ao lado do santo do Senhor. Uma noite chuvosa do mês de agosto, Marlene recebe um bilhete de Elias. “Podemos conversar?” O conteúdo era esse. Daí nasceu um correio clandestino que durou anos. O casal se amava platonicamente, nada de carnal havia ainda acontecido. As pessoas percebiam o amor de Marlene por Elias, mas, todos levavam para o lado cristão. Na verdade ninguém poderia pensar outra coisa – as almas se irmanaram, mas, sem laços carnais. “irmã, se Marlene não fosse casada ela daria certo com Elias num era mulher?” “Era!”
Em uma noite de sábado, os dois se encontraram a primeira e única vez. Elias ficou até tarde em um ponto de pregação, após a reunião os dois retornam para casa, no caminho, o inimigo os alvejou com seu dardo cruel. Os dois se entristeceram, e também entristeceram seu Deus. Elias decidiu deixar a congregação. O povo estava dividido se apoiava aquele amor ou não, mas, na verdade ninguém sabia nada, pois, o que acontecera na noite de sábado ficou entre os dois.
“Irmãos, Deus sabe o que faz”. Contou Marlene no grupo de oração. “Elias é um homem de Deus, tenho por ele uma veneração por um santo, mas, um rapaz jovem como ele deve seguir seu destino”. Dona Reginalda Ferreira, líder das ‘mulheres de oração’, acrescentou ao comentário da irmã Marlene: “É, e ele precisa se casar”. O tempo passou e a pessoa de Elias era lembrada aqui e ali pelos irmãos da igreja. O novo pregador o doutor Dantas foi como a mão na luva, a igreja recebeu a família com muita alegria, e dia após dia, Deus acrescentava os que eram Dele. Contudo, na casa de Marlene as coisas tomavam outro rumo. Ozanias teve uma dor no peito; Marlene o levou ao hospital onde ele passou para o outro lado. Em seu funeral estavam os irmãos da igreja e os parentes de Marlene e de seu finado marido. A pregação foi sobre a necessidade de um encontro com o Salvador enquanto estamos vivos. Após o serviço funerário, Marlene se recolhe em seu quarto para chorar e descansar. O quarto de taco de madeira escondia algo que seu marido nunca desconfiara. Marlene tirava quatro tacos, e logo abaixo deles estava uma pequena porta que dava acesso a um cofre muito bem zelado e escondido. Ela pega um envelope, abre-o e começa a ler o conteúdo:
“Meu amor, lamento muito a passagem de seu Ozanias; Deus é justo, ‘e aqui se faz aqui se paga’; esse é um ditado que muito se assemelha com o que Paulo disse em Gálatas; estou preocupado com você, quero saber como você estar...” A carta era longa. Elias e Marlene após tanto tempo ainda se correspondiam secretamente. O amor dos dois não tinha fim. Elias estava casado com uma moça de Minas Gerais, e para lá, ele foi. Marlene responde a carta de Elias:
“Sempre é bom saber que você mesmo distante e nos braços de uma santa de Deus tem tempo para se preocupar comigo. Estou bem. A passagem de Ozanias não me abalou muito, pois, vivíamos como Deus queria: ‘cada um no seu lugar’. Eu sei que meu coração está aí onde você está. No entanto, nós dois sabemos que isso não é a vontade de Deus. Abraços cordiais em Cristo”. As cartas foram muitas. Marlene chegou aos seus sessenta anos com seus cabelos bem pretinhos. Os setentas vieram como um tapa logo após os sessentas. As cartas continuavam fielmente, uma por mês. Marlene não quis mais ninguém, não tinha filhos, pois, seu útero era infantil. A mulher morava com Deus. A irmã Glória, nas noites de oração, comentava sobre a mulher que vencera o câncer, e foi fiel ao Senhor. Glória sabia da infidelidade de Ozanias, mas, não sabia sobre as cartas. Dona Glória dizia: “Eu nunca vi Marlene se queixar de nada”. Isso era verdade. Marlene se entregou de verdade ao Mestre. Mas numa determinada tarde...
“Doutor Pedrosa: Minha barriga anda inchada e sofro com crises de gases todos os dias; ora tenho ressecamento, ora sinto cólicas fortes”. Pedrosa passou uma bateria de exames que foram feitos prontamente. Um mês depois, Marlene torna ao consultório: “Lamento, mas você tem dois tumores no abdômen”. “Quanto tempo doutor?” Perguntou a crente. “Algumas semanas ou um ou dois meses no máximo; mas quero experimentar uma nova droga”. “Mas, eu sou uma aposentada, não tenho dinheiro”. “Não se preocupe, de fato, o medicamento custa cada dose oito mil reais, mas, para você tudo será grátis”.
Marelene tomou as doses prescritas pelo doutor Pedrosa. Segundo o médico os tumores não regrediram, o câncer estava mais agressivo. Marlene pede a Deus que cuide de Elias e se entrega a doença. O povo de Deus revezava as idas à casa da moribunda. Marlene tinha alguns parentes vivos, mas, quem dela cuidava de verdade era o povo de Deus. As dores aumentaram, doutor Pedrosa pergunta se ela queria morfina para aliviar. Marlene recusa dizendo: “Se eu chorei ao entrar nesse mundo, vou sair dele com dores, louvado seja Deus!” A mulher que havia vencido a danada da doença, agora agonizava dia após dia sob seu aguilhão. Muitas pessoas foram tocadas pelo amor de Deus durante os dias de despedida da santa de Deus. Numa sexta feira, às dez da noite Marlene deixa seu corpo e se dirige aos braços de Cristo. Seu corpo foi velado na igreja, no amanhecer do outro dia o sepultamento ocorre: “Uma mulher que venceu, mesmo na hora da morte. Uma mulher que podia ter se entregado aos prazeres da terra, mas, preferiu estar com o Senhor. Nossa irmã descansa agora com o Bom Pastor”. A igreja, parentes, e amigos foram profundamente tocados pelo amor de Deus através do amor por Cristo de Marlene, e de sua vida, pois, aos olhos dos homens, sua vida era de santidade.
A casa de Marelene ficou trancada por meses. A família preferiu deixar tudo como estava. De vez em quando, uma moça baixinha ia fazer uma limpeza. A moça faxineira estava limpando a poeira dos moveis da sala quando alguém bate a porta. A moça corre para ver quem era. Era um senhor de seus sessenta anos. Seus cabelos grisalhos combinavam com a cor morena de sua pele. Era o pastor Elias. “Bom dia!” “Bom dia, o que o senhor deseja?” “Eu era muito amigo de Marlene, você se incomoda se eu entrar por um instante?” “Não, por favor, entre!” Elias ficou na casa por certo tempo. A moça da limpeza disse: “Moço, se você quiser ficar mais tempo, eu deixo o cadeado aberto”. “Certo!” Disse Elias com um semblante de muita tristeza. Elias vê as fotos de Marlene, ele abraça algumas; as lágrimas estavam com ele o tempo inteiro. A imagem de sua amiga aparece em sua mente como flashes. Foram momentos de muita felicidade vividos ao longo de três anos juntos. Um amor consumado uma única vez, por isso, era um amor que somente o céu pode explicar. “Elias, vamos reunir a mocidade na casa de Tânia; a gente faz um cachorro quente”. Muitas foram as vezes que os dois viveram momentos felizes com Deus. No momento da prece os dois estavam de mãos dadas em forma de círculo com resto do grupo. Foram momentos, talvez de pecado, mas, um pecado que existiu somente no coração dos dois. “Meu Deus tira Marlene do meu coração, ela é uma mulher casada”. “Senhor, tira Elias de dentro de mim, eu sou uma mulher casada, não posso escandalizar teu nome”.
Envolto em seus pensamentos, Elias vai ao quarto de sua amada, levanta os quatro tacos; embaixo deles estava a portinha secreta. Ele a abre, e de dentro do cofrinho, retira o pacote grosso de cartas. Elias vai ao quintal com um frasco de álcool na mão, e toca fogo nas cartas. O silêncio era grande. As cartas pareciam gemer ante o calor implacável do fogo. Em poucos minutos, anos de correspondência viram um pequeno monte de cinzas. Na frente da residência de Marlene havia papoulas amarelas e rosas. Elias para por um instante, sente o cheiro do jardim e chora. Por um momento, ele se recorda da noite em que ele, pela primeira vez, visita aquela casa. “Pois, não!” “Eu sou Elias”. “Oh, moço pode entrar”. Ozanias o acompanha até a sala onde estavam os crentes reunidos para o estudo bíblico.
Elias sai da casa de Marlene, tranca o cadeado e olha pela última vez o cenário de seu único e verdadeiro amor. O sexagenário apronta-se para se retirar do lugar quando escuta, nitidamente, uma voz dentro do seu coração: “Elias!”
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