Há poucas semanas publiquei O livro em cima da mesa um conto com poucas pretensões. Relata a contradição de um velho comunista que lia, diuturnamente, a Bíblia Sagrada. Uma narração ficcional, mas uma contradição de uma pessoa ideologicamente de esquerda. Um contraditório, plausível, compreensível ou não, mas explicável.
Essa foi uma introdução para a seguinte pergunta: Sendo o governo brasileiro de esquerda, há contradição nesse governo? Há!
E qual é essa contradição?
Uma discussão foi o centro das atenções no início do ano passado acerca das eleições: Estávamos construindo a derradeira chance de Lula ser o presidente do Brasil.
Esse foi o propósito, a partir dessa premissa foram traçados as estratégias e acordos políticos. O PT deveria amadurecer uma estratégia e elaborar um programa para ganhar e governar o Brasil.
Partindo desse ponto encaminhou-se a aliança com os partidos do campo da esquerda, tradicionais e históricos parceiros do PT. O próximo passo foi o encaminhamento das conversas com o PL. Um partido tradicional, histórico adversário ideológico, mas que compunha o campo oposicionista naquela oportunidade no Congresso Nacional.
O PT julgou imprescindível e correta a parceria com o PL. Quando o PT fez a coligação, sabíamos todos que o PL seria governo com o PT na possível vitória de Lula. Muitos companheiros foram contra essa coligação. Particularmente, registrei em artigo e usei uma frase de Mário Quintana de que “um erro em bronze é um erro eterno”, mas essa posição foi minoritária face a grandiosidade do desafio de governar o país..
Para as correntes ditas radicais foi um “sacrilégio eleitoral”(sic). Para alguns companheiros Marx deu viravoltas no túmulo.
Enfim, ganhamos! O PL ocupa ministérios. Como disse o Pafúncio, são os ministros burgueses de Lula.
O que jamais saberemos: Se o PL não estivesse junto, Lula ganharia a eleição? E se fosse vitorioso, governaria? A base do governo seria do tamanho da atual, numa possível vitória solo de Lula? São perguntas que ficarão sem respostas.
O PT é um partido com base ideológica e filosófica no socialismo democrático? É.
O PT fará a revolução socialista no Brasil? Não. É óbvio que Lula não fará a revolução socialista. O óbvio lulante.
É isso que alguns companheiros mais ortodoxos não compreendem.
O governo Lula será de transição. Afinal, 500 anos de desmandos políticos não são consertados em quatro, por mais bem planejados e executados sejam. Os quatro anos de Lula serão decisivos para a democracia brasileira para os próximos 50 anos. Se a população fiscalizar, participar e cobrar minimamente os compromissos de campanha o governo será bem-sucedido. Lula não governará sozinho, o povo tem que ser sujeito de suas ações.
Qual a grande pergunta atual? Com os “companheiros” ditos, pelos companheiros do PSTU, ministros burgueses, Lula fará as reformas necessárias e imprescindíveis que o Brasil precisa?
Esperamos que sim. Creio que sim. Tenho comigo que se Lula não conseguir alguns reformas que beneficiem os trabalhadores, teremos que adiar por mais um longo tempo essas reformas. Afinal, não é todo dia que nasce um Lula da Silva.
Com o apoio do povo, com um partido forte, aguerrido e organizado, com diálogo e com uma boa base de sustentação no congresso e com o respaldo e respeito internacional, Lula conseguirá, o que nenhum presidente honoris causa conseguiu. Um governo para o povo.
E a nossa tão sonhada revolução?
Antes de qualquer argumentação sobre a revolução socialista devemos ter claro que Lula está profundamente comprometido com a democracia, geração de trabalho e renda, justiça social e estabilidade econômica.
Seguidamente lemos críticas ao socialismo real entre elas: ditadura, autoritarismo, assassinato de milhões de pessoas, perseguição política etc... E não negamos.
Para os arautos do fim da história, o que havia no leste europeu era um sistema autoritário, burocrático e com um precário modo de produção. Se não havia democracia, interpretação dialética e não era uma sociedade justa: Era socialismo?
Não! Era um sistema arcaico, burocrático e centralizado na culta a personalidade.
Após a queda do muro faltou uma construção clara da conceituação de socialismo. O que havia no leste europeu foi erroneamente taxado de socialismo. Prefiro dizer socialismo real. O verdadeiro socialismo estamos construindo no nosso dia-a-dia.
Alguém, dia desses, falou: O caminho não existe, o caminho se faz ao caminhar. O momento histórico nos dirá qual revolução faremos. Particularmente, acho que estamos revolucionando. Dependendo de como conceituamos revolução. A revolução tem que ser feito nos homens e nas mulheres desse país. Uma revolução cultural. Uma revolução social. Uma revolução cidadã na cidadania. Não, necessariamente, armada. E, essa revolução, está apenas começando.
