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cronicas-->Hoje é um dia frio- paulo nunes batista -- 04/05/2007 - 17:44 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Hoje é um dia frio
Paulo Nunes Batista
pnbpoeta@brturbo.com.br

Hoje é um dia frio, angustiado
De vez em quando, a chuva
A cabeça me pesa de pensamentos
que bom ser pedra, para não pensar
Sou aposentado do Fisco
- falta aposentar-me de mim.
Renunciar a tudo, a todos, a mim
e ficar só como uma intenção irrealizada
uma pedra morta dentro da tarde fria
Tenho 78 anos de idade
são 3 horas e 15 minutos
e há uma Insatisfação infinita
neste homem que escreve para si mesmo
Ninguém ligará para meus versos
e eu serei esquecido, como tudo
Viver é esquecer, já não sei quem fui
e creio que jamais saberei quem sou.
Passo as mãos nos cabelos grisalhos
olho meus olhos cansados
e entedia-me de tanta inutilidade
Fiz onze filhos (fora os que não sei. . .)
tive mulheres, bebi, comi, dormi
e daí?
Escrevi livros, plantei árvores, comprei casas
e aqui estou mais vazio do que
uma boca fechada, cheia de dentes
e uma língua saburrosa
Sai Baba me olha sorrindo
Jesus me olha chorando
Deus me olha como sou.
Tantas religiões, e eu tão descrente
de salvações e céus pragmatizados
Menino, corri nas praias de Tambaú
do Poço, da Penha, do Beça - na Paraíba
a do Norte, que a do Sul também conheço
e nesta última sofri grande decepção (amorosa?)
Não sei porque me lembro disso agora
Chove. Ouço música mística
de algum mosteiro do Tibet, ou da índia
como me soa fúnebre esta música sagrada
e cava e funda e cheia de sinos e címbalos
saudades dos tambores africanos
dos ritmos telúricos do Candomblé, da Umbanda
ou de um simples zabumba e de um caracaxá
cadenciando um coco nas praias do meu Nordeste!
Aqui é uma tarde fria
e nada tenho a dizer
(embora já tenha escrito tanto!)
Sei que Poesia é síntese
e eu sou fundamentalmente Pro Lixo (prolixo)
prenhe de reticências e interrogações.
Afinal, a quem interessam minhas Mágoas?
Sei que deveria falar sobre coisas leves
alegres, saudáveis, positivas
coisas que Deus gosta de ouvir
Mas hoje é uma tarde líquida
e a chuva chora por mim
já que tenho os olhos enxutos
Há abismos imensos, fossas abissais
e às vezes mergulho em mim e vou ao fundo
dessas abscónditas paragens misteriosas
Talvez Deus me encontre algum Dia
e faça como ao Filho Pródigo
que andava fora do Reino, em longes terras
comendo com os porcos nas pocilgas
mais infeliz do que um porco enlameado
O que eu sabia não sei
Mas, se o Reino de Deus está em mim
(dentro de mim, como afirmou Jesus o Cristo)
que mais ainda espero para ser feliz?
Será que já me con-Venci desta Verdade?
ou ainda devo vagar pelas distàncias
entre chiqueiros do mundo imundo
até que Deus me ache e me dê um sinal?
Já pinta um clima de Natal
quem vai nascer (que já não tenha nascido)
Deus - ou Jesus? Essa história de Menino Deus
não me entra! Um Deus Menino? Para quê?
E Deus tem idade? Pai e Mãe, que "deus" é esse?
Está em algum céu longínquo, a que eu deva ir
ou está aqui e agora, Vivo e Puro com a Luz da Vida
no mais espiritual de um Ser?
De que me adianta ser monge,
Iniciado, Iluminado, Ascensionado
se ainda estou preso a mim, agarrado
como um carrapato ao meu corpo
tomando daime para ver se me esqueço?
De que me serve a Bíblia cristã,
ou a Bhagavad Gita, o Tao-te-King, o Alcorão
se ainda não me decidi a descer
em mim, e batizar-me no Fogo
e na Água, no Ar e na Terra
cosmificar-me, universalizar-me
cristificar-me na Luz
e ainda estou amarrado à minha Cruz?
Amargo, hoje é um dia amargo
mais do que losna, fel, Angústia, Mágoas. . .
Um dia próprio para dormir
e me esquecer de mim, com meus problemas
Ai que vontade de ser pedra, chuva
sem a dor das emoções, ai que vontade!
E eu queria ser bom, doar-me todo
como o Ar, como a Luz, como a Verdade
mas ainda estou verde, e urge curtir-me
apodrecer como couro, como casca
para exsurgir-me novo, transparente
deste homem velho que ainda aqui escreve
estas confissões meio prosaicas,
há nove dias do natal mundano
do Homem Chamado Jesus, dito o Cristo
para Quem fizemos uma Árvore de Natal em nossa casa
cheia de luzes elétricas, mas esquecemos
de acender a Luz, que se Chama Verdade
no sacro sanctorum de nossos corações.

Anápolis, 16/12/2002

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