O Monge*
Raimundo Correia
"O coração da infância - eu lhe dizia -
É manso". E ele me disse: "Essas estradas,
Quando, novo Eliseu, as percorria,
As crianças lançavam-me pedradas..."
Falei-lhe então na glória e na alegria;
E ele - alvas barbas longas derramadas
No burel negro - o olhar somente erguia
Às cérulas regiões ilimitadas...
Quando eu, porém, falei no amor, um riso
Súbito as faces do impassível monge
Iluminou... Era o vislumbre incerto,
Era a luz de um crepúsculo indeciso
Entre os clarões de um sol que já vai longe
E as sombras de uma noite que vem perto!...
(Seleção de Napoleão Valadares)
* Jornal da ANE nº 85, maio/2018, p. 2.
|