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Artigos-->A intencionalidade das traduções de músicas em Inglês sob um -- 16/02/2003 - 19:33 (Edmilson José de Sá) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Resumo:

Este trabalho tem como intuito analisar sob o ponto de vista sociolingüístico algumas canções populares em inglês e suas respectivas versões cantáveis em português, a partir do pressuposto que, para a maioria das classes sociais, só é perceptível a melodia que se assemelha à forma original, não importando, contudo, o aspecto léxico-semântico que se mantém obscuro e a idéia central do texto fica perdida no espaço.



Palavras-chaves: canções, versões, melodia, sociolingüística, leitura crítica



Summary:

This work has as aim to analyze some popular songs in English under the sociolinguistical point of view and its respective singable versions in Portuguese, starting from the presupposition that, for most of the social classes, it is only perceptible the melody that remembers the original form, not being important, however, the lexical-semantic aspect that stays obscure and the central idea of the text is lost in the space.



Key words: songs, versions, melody, sociolinguistic, critical reading





Introdução:



A compreensão de um texto não se dá apenas por parte da assimilação individual das palavras mas por conta da relação contextual que as mesmas possuem. É também necessária uma contextualização cognitiva (cf Marcuschi, 1999), que surge do conhecimento prévio do leitor no momento da leitura.

Em se tratando de uma língua estrangeira a preocupação ainda é maior porque vêm as palavras desconhecidas, os falsos cognatos, as expressões idiomáticas que impedem a compreensão imediata do texto. Assim, falta ao leitor a capacidade de inferir o significado a partir do próprio contexto, dos conhecimentos de mundo e de pistas lingüísticas que se encontram nas extremidades dos vocábulos desconhecidos, aspectos sugeridos por Ângela Kleiman para estabelecer a apreensão do sentido. Mas será que existe a vontade de compreender o sentido de uma música em inglês ou apenas valorizar a sua melodia?

Muitos de nós temos experimentado a apreciação de canções populares em inglês desde os anos 60, época-ouro dos Beatles; anos 70, época de ABBA e o gosto perdura até hoje com as músicas românticas de Lara Fabian, Tony Braxton entre outras.

Esquecer quase tudo que aprendemos em outras línguas é mais fácil, exceto quanto se trata das canções que ouvimos, afinal, é possível concordar com Murphey (1992:3) ao afirmar que da mesma maneira que não há sociedade humana sem sua poesia, não há ser humano sem sua música.

As canções se tornaram parte de nós por uma variedade de razões. Este gosto exacerbado leva artistas nacionais a ponto de verter para a língua materna as canções que não saem das paradas, não importando se a idéia central ou a mensagem da letra é a mesma nos dois idiomas.

É justamente este o objeto desta pesquisa: verificar que fatores sociolingüísticos, semânticos e pragmáticos estão presentes na criação da letra de uma música em português a partir de uma letra original de um idioma estrangeiro.



O papel da tradução



A palavra “tradução”, que vem do latim traducere, tem como sentido literal, conduzir alguém de um lugar para outro, apesar de que, para chegar a esse caminho, não se está livre de passar por alguns obstáculos nada insignificantes.

O próprio Bocage mostrou que uma simples vírgula dá um sentido duplo como ocorreu na frase "Matar o rei não, é crime!". Observa-se que um simples esquecimento condena um rei à execução, ao mesmo tempo em que a falta de compreensão de qualquer termo desconhecido pode lhe fazer matar alguém sem que essa pessoa tenha sequer aparecido na história.

Para apresentar um exemplo considerando estruturas confusas, um dos problemas principais para estudiosos de língua inglesa é o presente perfeito que tem um uso muito mais restrito em português. De fato, na maioria das vezes ao recorrermos ao presente perfeito em inglês, é o passado simples que nós usamos em português. Uma das situações mais comuns é no uso do presente perfeito, por exemplo em : Have you written the letter? que em português seria feito como uma construção no passado simples. Então, um modo muito simples e efetivo de apresentar as distinções entre os dois tempos nos dois idiomas está usá-los com exemplos claros e concretos que destacam as diferenças e semelhanças.

Quanto ao vocabulário, Zeny afirma que a tradução pode ser usada para alguns falsos cognatos, colocações e expressões que estão confundindo porque às vezes podem ser adquiridas ao nível de equivalência entre as duas línguas, como Campos também estabelece como procedimento técnico. Nela há uma mesma situação mas utiliza-se de recursos lingüísticos completamente diferentes.

Na expressão abaixo há um exemplo de equivalência ocorrida a partir da própria cultura do povo que, apesar de premissa semelhante, é descrita com uma certa distinção :

Inglês: Something is rotten in the state of Denmark.

(Alguma coisa está podre no reino da Dinamarca)

Francês: Il y a une anguille sous la pierre.

(Há uma enguia sob a pedra).

Alemão: Etwas ist im Staat von Dänemark morsch.

(Há algo de podre no reino da Dinamarca).

Espanhol : Hay un gato cerrado a dentro.

(Há uma gato trancado lá dentro)



Outro exemplo de uma expressão seria be my guest que pode ser entendido melhor se traduzida através de equivalência pois nem mesmo uma situação contextualizada é o bastante para alguns estudantes assimilarem. É também verdade que retificam quando as sentenças no significando podem conduzir à má compreensão, ao invés de leva-lo ao mal emprego, que poderia ser evitado facilmente com a introdução de equivalências entre L1 e L2.

Segundo, Wallace, o trabalho da distinção entre palavras no mesmo campo semântico é, ao mesmo tempo, um fascinante e gravíssimo tópico para estudantes intermediários e avançados. Parece que estabelecendo tais distinções pode um tópico muito mais grave que fascinante porque, entre outros contrastes, é negada, às vezes, aos estudantes a chance de usar L1 como um recurso, um meio de alcançar uma melhor compreensão de palavras e conseqüentemente de usá-las mais adequadamente. A tradução pode ser um dos meios de fazer este tópico fascinante e pode provar uma ferramenta vantajosa para grupos monolíngües.

Outro possível modo de melhorar a aprendizagem em tradução é quando ela é usada para conferir a compreensão. É importante acrescentar que até mesmo se o professor não quiser usar este recurso, alguns estudantes recorrerão a L1 se não tiverem certeza de entenderem um determinado tópico ou palavra, que é um aspecto de seus estilos individuais de aprendizagem a ser levado em conta.

Além disso, A tradução desenvolve três qualidades essenciais para aprendizagem de todos os idiomas: precisão, clareza, e flexibilidade. Ela treina o estudante para buscar (flexibilidade) para as palavras mais apropriadas (precisão) para transmitir qual é o significado (clareza) . Uma quarta qualidade poderia ser somada à lista de Duff: alcance. O alcance de possibilidades oferecidas pela tradução faz o pensamento provocante, dando lugar à especulação e permitindo até várias alternativas para o mesmo aspecto. Este tipo de especulação enfatiza o fato de que em todos os idiomas há sentenças que podem ser feitas em outro idioma, ou não, se é essencial para estudantes, especialmente estudantes avançados, perceber estes significados sutis, a denotação e conotação de palavras, as suas equivalências, seu registro e conveniência para alcançar uma comunicação significante.



Coleta de dados



A partir das intenções impostas pela introdução deste trabalho, foram pesquisadas letras de canções em inglês e suas versões parodiais cantadas em português para, em seguida, serem feitas as comparações entre estas duas e a tradução verdadeira da letra original.

Diante do exposto foram entrevistados produtores brasileiros de cantores e bandas e professores de Lingüística, que manifestaram suas opiniões em óticas distintas.

Após a coleta, fez-se um estudo comparativo e procedeu-se à conclusão como etapa final do trabalho.



Análise dos dados



Conforme já fora mencionado na introdução deste trabalho, a música popular vem fazendo sucesso há muito tempo e graças a melodias existentes em músicas internacionais, as versões se tornaram o primeiro passo para a busca do sucesso, não importando, muitas vezes, a letra original do autor, que fica obscura no tempo e o ouvinte não tem ao menos a nossa do sentido original da letra.

Veremos agora uma análise a partir das formas cantadas em português criadas a partir de formas originais em inglês:

Inicialmente tomemos como exemplo o primeiro verso de Love by Grace, gravado por Lara Fabian:

I remember the rain on the roof that morning

And all the things that I wanted to say

The angry words that came from nowhere without warning

That stole the moment and sent me away

And you standing there at the doorway crying

And me wondering if I’d ever be back



A forma traduzida literalmente seria esta:



Eu me lembro da chuva no telhado naquela manhã

todas as coisas que eu queria dizer

as palavras raivosas que vieram do nada, sem aviso

que roubaram o momento e me mandaram embora

e, você, em pé na porta chorando

e eu, me perguntando, se um dia voltaria



Na versão literal acima, verifica-se que a idéia de uma pessoa nostálgica que tem lembranças de alguém a quem proferiu palavras de fúria sem motivos, o que a fez tomar a decisão de não mais procurá-lo. A versão cantável da banda pernambucana Noda de Caju reflete o uso único e exclusivo da melodia famosa. O título para a versão foi Magia Branca Observe:



Lá nas nuvens escrevi o teu nome

Desenhei um coração para você

Fiz chover gotas de amor perfumadas

Pra não deixar sombras que eu sempre te amei

E quando eu estou bem longe de casa

Fica impossível não pensar em você.

Noda de Caju ao vivo II – Somax





Já na letra da música “Não diga adeus”, da mesma banda, alusiva à música If you leave me now , mostra com palavras diferentes a mesma temática existente na versão original, como se pode ver abaixo.



If you leave me now. (Se você me deixar agora)

You take away the biggest part of me(Você levará embora a maior parte de mim)

Uh uh uh, baby, please don’t go…(uh uh uh, amor, por favor, não vá)



Não me diga adeus.

Preciso ter você pertinho de mim.

uh uh uh, amor, por favor, não vá.



A cantora Perla, famosa por versões em português das canções do quarteto ABBA(anos 70), procuram trazer idêntica correspondência entre si como ocorre nas canções Fernando(que permaneceu com o mesmo título), The winner takes at all( O jogo já acabou), Chiquitita(modificada para Pequenina), I have a dream(Eu vou sonhar).



Nosso amor nasceu foi pra ficar e eu vou te amar, Fernando.(bis)

Sempre existe um paraíso azul só pra nós dois

Nosso amor vai nos levar pra lá e vou te amar pra sempre.(bis)



Como se vê, podemos concordar com o que nos disse seu empresário Klaus Lehmann, quando este menciona a preocupação da cantora em manter o tema e até o título com a mesma idéia original:

“As versões sempre são baseadas no conteúdo das letras originais, como é o caso de Chiquitita e outras do ABBA,

que a PERLA gravou. Tenta-se manter a historia original, mudando apenas algumas palavras, para adaptar ao Português.”



Na visão do Professor de Lingüística da AESA em Arcoverde, Gilberto Farias, alguns versões despertam a preocupação maior com o que a melodia pode despertar no ouvinte e não com o contexto social e lingüístico que a letra pode transmitir.

Se for usada a tradução sociolingüística, uma frase será interpretada com outras palavras, como ocorreu na música Fernando e se forem traduzidos sentimentos, situações e emoções, transformando as pessoas felizes ou infelizes, pelos seus próprios atos, ocorre a tradução chamada “intersemiótica”, ou como Sebastião dos Santos chama de “implicitamente inteligível”, forma existente nas canções de Noda de Caju e outras tantas.

Existe ainda uma forma de tradução chamada interlingual, na qual conduzimos um texto ou mensagem, reformulando-o, ou adaptando de uma língua para outra, como existe na canção O jogo já acabou.

Porém o professor Sebastião conseguiu um feito inusitado. Traduziu a canção Love Story numa forma completamente cantável. Observe as duas formas na íntegra.

Where do I begin? To tell the story of how great

a love can be.

The sweet love story that is older than the sea.

The simple truth about the love she brings to me.

Where do I start?



With her first hello — she gave a meaning to this empty world of mine.

There would never be another love - another time



She came into my life and made the living fine.

She fills my heart. She fills my heart!

With very special things, with angels songs

With wild imaginings, she fills my soul, with so much love... That anywhere I go, I m never lonely with her along — who could be lonely?

I reach for her hand — it’s always there...



How long does it last? Can love be measured by the

hours in the day? I have no answer now

But this is much, l can t say,

I know I’ll need her till all the stars all burn away

And she will be there... She will be there.





Como iniciar tão bela história da grandeza

de um amor?

Tão doce história a mais antiga do que o mar.

Verdade simples do amor que ela me deu.

Como narrar?



Desde que nos vimos, tomou sentido minha vida então vazia

Não haverá um outro amor, um outro tempo





Com ela em meu viver, há tudo, tudo é belo

Em meu viver— um mundo novo então surgiu

Como a aurora — ela em mim, me satisfez

Minh alma então com a dela, em toda parte

Então jamais serei sozinho

Com ela ao lado sou sempre feliz

Pois tenho sua mão - A meu dispor...



Quanto durará? Tão belo amor que o tempo nunca vai contar... Embora sem resposta, mas posso dizer

Sei que ela é minha até o mundo existir

Até o fim! Até o fim!







Vejamos algumas canções internacionais que vêm fazendo sucesso com suas traduções, versões ou adaptações pelo Brasil e que poderão servir para posterior aprofundamento.

Vejam alguns exemplos de versões:

1. Crazy little thing called love Queen - Coisinha maluca chamada amor Tihuana

2. You’re not from here Lara Fabian - Meu grande amor Aveloz

3. Always on my mind Elvis Presley - Eu sou louco por você Noda de Caju

4. My heart will go on Celine Dion - Em cada sonho Sandy e Junior

5. Spanish Guitar Tony Braxton - A dona das minhas canções Alexandre Pires

6. How deep is your love Bee Gees - Teu Calor Noda de Caju

7. You can let me down Wanessa Camargo - Eu estarei aqui Dudu Falcão

8. Hero Mariah Carey - Pétalas Neon Noda de Caju

9. Imagine John Lennon - Imagine Paulo Ricardo

10. Spending my time Roxette - Vou esperar Edson Lima



Conclusão



Tradução literal e fiel propriamente dita em canções existe pouco, mas ainda existe. Entretanto se o estudioso não tiver o bom senso de fazer adaptações de expressões precisas condizentes à sua língua, poderá criar verdadeiras composições literariamente monstruosas, carentes de beleza e de sentido originais.

Sabe-se, portanto, que traduzir uma música, implica em praticamente inutilizá-la da possibilidade de ser cantada. Músicas e poemas são, portanto, vertidos e adaptados. Podemos, contudo, obter uma visão mais ampla da necessidade de evoluir nossos conhecimentos sociolingüísticos, que são imprescindíveis ao estudioso de idiomas.

Não podemos ficar parados, observando belezas em todos os processos de informação que estão à nossa volta, sem compreendermos a vasta cultura que tornam os povos ligados a uma interação incontável que proporciona riqueza em toda a sua amplitude, pois Albert Highet está certíssimo ao afirmar que a aprendizagem comparativa entre dois idiomas existirá se o estudioso conhecer bem o conteúdo, a cultura, o povo e a equivalência ao seu próprio mundo e civilização. Uma língua envolve peculiaridades de um povo, de um escritor ou de um nome ligado a épocas ou situações e por que não usufruir desta assertiva nas versões cantáveis? Sem dúvida, ficariam ainda mais belas.

Bibliografia



1. SANTOS, Sebastião dos, Manual Prático para o ensino de Inglês, Ediouro, Rio de Janeiro, 1990.

2. KLEIMAN, Ângela, Oficina de Leitura, Pontes, São Paulo, 1997.

3. ZILBERMAN, Regina & SILVA, Ezequiel Theodoro da Silva, Leitura - Perspectivas Interdisciplinares, Ática, São Paulo, 1999.

4. BAGNO, Marcos, A língua de Eulália, Cortês, 1998.

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