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Contos-->Sentir -- 21/05/2001 - 03:29 (Mário Pugliesi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sol, grande e alaranjado, surge por trás da praça. O céu, começa a tomar cores tênues, uma variação de rosa e amarelo, os primeiros gorjeares do dia são ouvidos, pássaros de todas as cores, desde de os mais comuns, pequenos com a barriga amarela, até os mais raros, como a bela coruja, noctívaga, que voa rasante, distante, cruzam os céus. Passos se arrastam pela praça, cansados, acabados. Roupas velhas, alternando com calças sociais, não havia conseguido dormir. Vozes e barulhos cruzaram sua casa, sua mente, enquanto a noite passava. Relutou em voltar para cá, pois sabia que nada havia mudado e cenas como espancamentos, torturas e abusos não o deixariam respirar, quanto mais dormir. Sua mente flui, esvazia, respira bem fundo, estala as costas, senta-se. O banco ainda molhado pelo sereno, umedece suas roupas.
Não se agüenta acordado, seus olhos fecham-se pesadamente, em um grande estrondo... A porta da sala cai. Ele e sua irmã assistem televisão, seu pai bêbado, molhado, olha com raiva para as pequenas crianças: “Já disse que não quero ver vocês assistindo tevê no meio da tarde...”, sua irmã , mais esperta, toma a frente: ”Foi ele quem ligou...”. O pai investe com fúria contra a irmã: “O pior de todos é o dedo duro, eu já avisei.”, e com violência tira a calça de sua filha, e virando-a de frente, tira a sua também. A dor e o ódio nos olhos de sua irmã, só não eram piores que o prazer que residia dentro dos seus.... O ranger da porta o transporta de volta para o belo dia que já nasceu. Havia perdido a noção do tempo. Pessoas curiosas passavam ali perto, esticando seus pescoços para tentar ver o que tão estranha figura fazia a dormir com aqueles trajes, sentado em um banco, no meio da praça.
Levantou-se e pôs-se a andar, ainda tonto, tropeçando sobre os próprios pés, chovia, um relâmpago corta o céu, seus amigos o apoiam sobre os ombros, tinha, então, seus dezessete anos. Seu pai havia saído, procurava um caixão para sua mãe, que agora repousa sobre a fria mesa do porão. Entra pela porta, que por três anos ficou sem conserto. Descem. O mais velho deles abre a porta do armário do porão e pega as estranhas roupas pretas. Vestem-se. Rápido, toma a frente e pega o livro. Seus amigos se reúnem entorno do cadáver, ali estático, cru. Sobe sobre um pequeno banquinho e começa a recitar as palavras que lia. O coro feito por seus amigos o segue, a luz começa a perder sua intensidade, ficando cada vez mais fraca, o vento preenche o aposento, criando um anel, que cada vez fica mais apertado, o corpo passa a flutuar, o barulho da porta do porão abrindo, lá no topo da escada estava sua irmã parada, a luz da cozinha atrás, luz forte, luz que cega, não deveria ter olhado tão diretamente para o sol.
Anda agora com os olhos fechados, não via nada com eles abertos também. Com alguma dificuldade desvia da árvores no caminho, mas acaba topando com uma. Abre seus olhos, o sangue em sua mão escorre para o chão, seu pai havia tentado maltratá-lo como fazia com sua irmã, mas revidara, acertando uma faca bem no meio do peito e, então, fugira. Seus olhos, encobrem uma certa satisfação, havia conseguido, machucou sua cabeça ao bater na árvore. Seus olhos já haviam se recuperado. O sol já marcava meio dia, avistava, ao longe, sua casa, o grande portão verde, dali, parecia tão pequeno, sua irmã correndo, desesperada, sem saber como fugir, perseguida. Segurava uma faca na mão, dizia que não havia motivo para correr já que de qualquer forma a alcançaria e que ninguém da vizinhança iria ajudá-la. Ela se demora com as chaves. Chega por trás, cara de terror de sua irmã, os olhos azuis dela contrastando com o vermelho e em seus olhos apenas paz e o marrom, como o rouxinol que raspa perto de sua cabeça num belo rasante.
Para em frente ao grandioso portão verde. Havia nele manchas vermelhas, agora escurecidas pelo tempo, que nunca quiseram sair. Marcadas nelas, cenas, turbilhão por entre pensamentos, memórias, cenas como ocorreram, será? Comichão. É ele sem as calças com seu pai, sua irmã observa, gargalha através de seus olhos, é ele na escada, com a luz fosca por trás, é ele olhando da janela sua irmã correndo com as mãos cheias de sangue, é ele contra o portão, vendo os olhos azuis de sua irmã avermelhando num contraste lembrando o sol e o céu. Ela, com as roupas meio umedecidas, abre os belos olhos azuis, levanta-se e enquanto coloca óculos escuros, escondendo-os, sorri. Chega de sentir.
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