Estava escuro. Muito nevoeiro e uma neblina fria caía à s vezes. Durante o dia houvera sol, chuva, tempestade. Agora, sentada frente ao computador ela lia as notícias do mundo depois de dois dias afastada, exilada, mas em festa, num lindo e verde lugarejo do interior.
Fogos espoucavam aqui e ali. A televisão ligada deixava ouvir a retrospectiva das descobertas, mortes, catástrofes. Poucas alegrias foram mostradas e estas eram devidas a alguns célebres mortos e, sempre, em forma de caridade para com a miséria alheia.De vez em quando parava de navegar para se perguntar se não havia alegria pura, aquela que emana e jorra por si só.
Entrou numa "sala" com uma senha ridícula. Solitários papeavam ridiculamente identificados: uns procurando uma paquera de mentira, outros expondo suas verdades para alguém que nunca conheceria e outros ainda mentindo um amor virtual.
O réveillon acontecia no mundo. Fez uma peqena prece, colocou uma mensagem para os internautas.
Todos se despediam mesmo que alguns teimassem em ficar mais um pouco. Mas a sala à meia noite também ficou vazia.
Olhou pela janela o nevoeiro denso entrevendo borrões de clarões dos fogos ao longe. Pensou em todos que amava, tentou outras salas... vazias, desligou a máquina, colocou um disco, trancou a porta, percorreu o corredor de sua vida, cruzou o umbral do milênio... dormiu.
Graça Andreatta em 01-01-2001 |