"O debate em torno da Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial tem provocado manifestações destemperadas de integrantes do movimento negro. A simples notícia do lançamento de um livro sobre o tema, Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporàneo , publicado pela editora Civilização Brasileira, fez com que seus organizadores começassem a sofrer ameaças. A obra tem 34 artigos que, no conjunto, questionam a racialização em curso no país. Atacam principalmente a idéia de que o preconceito racial é que define as desigualdades sociais.
Imediatamente surgiram, na internet, textos que falam em guerra, sugerem ações organizadas no dia do lanpçamento do livro e chamam de escravos dois dos autores, que são negros e militantes do movimento, mas têm opinião própria. Eu estou com medo , diz a antropóloga da UFRJ Yvonne Maggie, que está entre os organizadores.
(...) Em uma reportagem sobre o tema no jornal O Estado de S. Paulo, na semana passada, o antropólogo Júlio César de Tavares, militante do movimento negro, pregou a violência física. Chega um momento em que o diálogo se esgota , disse. Acho que o racista na rua tem de apanhar .
Frases assim são ainda mais assustadoras quando encontram respaldo no governo. Em março deste ano, a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, puxou o coro da intolerência em entrevista à BBC: Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco , disse. Com manifestações desse tipo e ameaças cifradas, quem perde são todos os brasileiros. Sem distinção de cor".
Marcelo Bortoloti, in "Intolerància", revista Veja, 23/5/2007, pg. 67.
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