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Contos-->O não dizer -- 21/05/2001 - 03:40 (Mário Pugliesi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“O mundo é um grande pão,
com manteiga, café e com leite...”
-Pato Fu-

Os tons rosados no céu transparecem o nascer de um novo dia. Miréia acorda abruptamente de um longo pesadelo que ela já esqueceu. Nossa mente é um novelo de mistérios. Sem a pressa diária, toma seu café e parte em direção a casa de sua mais nova amiga, Melina. Esta era nova na cidade e há pouco havia adoecido. Muito solidária, Miréia havia se oferecido à professora para ir no dia seguinte para a casa de sua colega entregar-lhe seus impressos.

Estava um clima ameno e levemente adocicado. O vento tocava com leveza os belos cabelos ruivos de Miréia. A relva se inclinava perante a supremacia do vento. Miréia acredita que esteja começando a gostar cada vez mais de Melina. Acredita que ela esteja preparada para ouvir todas as coisas que Miréia sabe e gostaria de contar.

Não se sente mais feliz, sabe por demais a vastidão do mundo que a cerca , sabe, por exemplo, das sucessivas crises nas bolsas, sabe da fome na África, sabe das guerras na Europa, sabe do escândalo na Casa Branca, sabe da opressão dos americanos sobre Cuba, sabe dos problemas brasileiros, sabe da seca do nordeste, sabe do analfabetismo, sabe da realidade das favelas, sabe dos remédios falsos, sabe sobre a discriminação, sabe sobre a infelicidade geral, enfim, sabe. E pretende contar todas estas coisas para a amiga hoje. Todas estas coisas que só de lembrar a deixam triste.

Chega à rua que precede a da casa de Melina, pensa em todas estas coisas. Há um banco no ponto de ônibus.... ela não agüenta, senta-se... chora. O dia muda sua face, o ar fica mais pesado, sombras tomam contam da rua. Por fim, o choro cessa. Miréia se recompõe e prossegue em seu caminho. Finalmente encontra-se frente a bela casa de Melina. Toca a campainha e espera pacientemente. Melina abre a porta com um largo sorriso. Ela não poderia contar-lhe agora.
O dia vai logo passando e embora estivesse se divertindo, Miréia não se sente feliz, pois a cada música que ouvem, a realidade a deixa cada vez mais triste. Por fim, sua tristeza chega a um ponto culminante, e ela em defesa própria desmaia.
Por sua mente , um turbilhão de idéias, vontades, imagens. O toque em cada ser do mundo, descoberta de cada realidade, de cada sentimento, de cada sonho perdido. A sua angústia cresce em lágrimas, torrenciais, molhando, encharcando, dando vida à terra arada e seca, de onde crescem flores com caras de Melina, com tanto a aprender. Com tanto a lhes ser mostrado. Mas em seus olhos reside a felicidade, a felicidade do não saber, da ignorância. E esta é uma luz tão ofuscante, que Miréia tem de fechar seus olhos, e ao reabri-los, já esta acordada.
Toda a preocupação demonstrada pela família de Melina não foi de utilidade nenhuma. Disseram a ela que enquanto estava desmaiada havia chovido, e que não se podia ouvir nenhum gorjear de pássaros. Mas agora tudo havia mudado, havia então um arroxeado crepúsculo lá fora e os pássaros tomavam toda a imensidão do pouco azul celeste que sobrara.
Apesar de não ter se recobrado totalmente, disse que poderia voltar só para sua casa, uma vez que não morava muito longe dali. Melina a levou até a porta, e como se soubesse, sorriu, agradecendo, talvez, pelo não dizer da amiga. Miréia também sorriu, agradecendo pela confiança, mas nada foi dito. Despediram-se e enquanto Melina entra assobiando feliz em sua casa, escorria uma lágrima pela face de Miréia. Isto havia de ser a verdadeira amizade.
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