Inverno ou Verão?
Certa vez, prestes a viajar para alguns países da América Latina no mês de março, quis saber como estariam as temperaturas por lá. Naquela época não era comum encontrar informações tão completas através dos jornais e da televisão, então fui conversar com amigos. Primeiro,contaram-me a piadinha que diz que em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, só há duas estações: o verão e a do trem. Depois, que deveria estar quente em La Paz. E como aqui fazia um calor de rachar, entrei no avião com roupas bem leves. Quase morri de frio ao desembarcar na capital boliviana!
Está claro que não levei em conta o problema da altitude. Situada a quase quatro mil metros do nível do mar, era lógico que fosse mais "fresca". Tampouco imaginei que me sentiria tonta naquelas alturas. Tinha a impressão de que minha cabeça era enorme e estava deformada... Passados alguns dias, fui me adaptando e voltando à normalidade, nem precisei tomar o famoso chá de coca, como me aconselharam. Fiquei pensando como seria o inverno naquelas plagas...
E foi em Cuzco, no Peru, que veio a surpresa. Propagandas turísticas mostravam fotografias e cartazes de importantes eventos culturais durante os meses de junho e julho. Festas em praças públicas, desfiles de estudantes em trajes típicos, procissões, apresentações de danças aqui e acolá, passeios... tudo ao ar livre! Juro que não entendi e tive que perguntar por que é que faziam tantas comemorações justamente na época mais fria. Contaram-me, então, que no inverno os dias são mais quentes. Parece loucura, mas a temporada seca faz com que o sol brilhe com mais força. Quer dizer, o inverno para eles é como no Ceará, segue o regime das chuvas.
Nós, brasileiros, costumamos pensar apenas no inverno e no verão. Dificilmente dizemos que tal coisa aconteceu na última primavera. Muito menos que faremos uma viagem no outono. Estas palavras são usadas de forma bastante específica, ao ensinarmos as estações à s crianças ou quando falamos de moda. As expressões "outono/inverno" e "primavera/verão" foram importadas dos figurinos estrangeiros. Na realidade, não prestamos a mínima atenção à s épocas intermediárias. Para nós o que conta mesmo é o calor ou o frio.
Isto acontece porque as mudanças da natureza não são tão visíveis em regiões tropicais. Nossas árvores, em sua maioria, não ficam com as folhas avermelhadas no outono e nem peladas no inverno.Não brotam verdejantes, todas ao mesmo tempo, no início da primavera.
Depois que passei a conviver com franceses, aprendi a reparar nas diferentes estações. Para eles os acontecimentos estão sempre relacionados a elas. No outono, admiram os parques cobertos de folhas secas. Curtem a temperatura amena e os últimos raios de sol do entardecer. Nas férias de inverno apreciam a neve e vão esquiar nas montanhas. Na primavera é a vida que renasce, o milagre das flores que surgem da noite para o dia, janelas que se abrem, pássaros que cantam. E no verão podem, enfim, passear sossegados por alamedas de bosques e até fazer piqueniques ao ar livre.
Essas mutações passam quase despercebidas por aqui. Não temos escuridão à s quatro da tarde, tampouco sol à s nove da noite. Colhemos flores e saboreamos frutas ao longo de todo o ano. No entanto, se olharmos sempre para o céu, veremos que ele se modifica. Já notaram que fica mais bonito, de um azul bem intenso nos dias do outono?
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