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Cronicas-->Operação Zipper -- 04/06/2007 - 23:45 (Beatriz Cruz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Operação Zipper




Eu estava deitada recuperando-me de uma intervenção cirúrgica. Era a quinta vez que abriam minha barriga e já começava a me fartar disto, quando a campainha tocou. Andando devagarzinho fui abrir a porta e me deparei com uma mulher morena, baixa, vestida de taier branco. Na mão ela trazia uma maleta do tipo 007. Ao entrar, disse-me que era enfermeira do doutor Djalma e que ele chegaria logo para operar-me novamente. A campainha tocou e eu, surpresa, dei passagem ao doutor. De terno bege e gravata marron, ele pegou a maleta e encaminhou-se para a cozinha. Olhou em volta e pediu minha ajuda para puxar a mesa até a área de serviço. A mulher dirigiu-se para o quartinho de empregada, sentou-se na cama e começou a enfiar uma linha grossa numa agulha gigante. Dr. Djalma mandou que eu me deitasse na mesa, abriu a malinha e se pós a remexer nos apetrechos.
De pescoço torto para olhar o que se passava, pude ver os instrumentos que ele retirava e colocava em cima da máquina de lavar roupas. Primeiro foi uma chave-de-fenda, um alicate e alguns pregos enferrujados. Depois, uma tesoura de destrinchar frango e outra maior, de cortar flores, com o cabo pintado em cor de laranja. Tirou também uma daquelas mãozinhas de afofar vasos. Por último, retirou um arame meio torto e o pendurou no varal. Aí o médico fez meia-volta e foi examinar a tomada ao lado da mesa em que eu me encontrava. Com ar aborrecido, balançou a cabeça. Deu alguns passos e pós os dedos no interruptor. Desapontado, com cara de muxoxo, disse: "Não vai dar para te operar. A luz acabou."
Enquanto eu descia da mesa ele foi recolhendo as ferramentas e fechou a maleta. Aliviada, acompanhei-o até a porta e voltei pensando na sorte que eu dera. Que bom a luz ter se acabado!
Ao voltar para a cozinha, a claridade me surpreendeu. O sol forte das quatro horas daquela tarde de verão entrava pelo vitró. Já esquecida da minha recente operação, comecei a dar pulinhos de alegria.
Só então é que me lembrei da enfermeira, ela não havia saído com o doutor. Continuava no quartinho, agora costurando um lençol...
Nesse momento o telefone tocou e fui atender. Era a enfermeira do doutor Djalma lembrando-me que no dia seguinte eu devia ir tirar os pontos.
No dia seguinte, às dez horas da manhã, lá estava eu deitada na maca do consultório e, enquanto o médico tirava meus pontos, contei-lhe sobre o pesadelo que tivera.
Ao contrário do que eu pensava, ele não se abalou. Disse que era assim mesmo, no período pós-operatório o paciente passa por essas coisas. Uma intervenção cirúrgica é sempre traumatizante. Eu, que já havia sofrido tantas, devia saber bem disto. Certamente esta era minha última operação.
Um ano mais tarde, apareci no mesmo consultório gemendo e segurando a barriga. Estava morta de medo de ser operada novamente. Dr.Djalma riu muito dos meus temores.
Assim que terminou de me examinar, já não ria, tinha o rosto lívido. Mandou que eu fosse imediatamente para o hospital. Operação de urgência. Jurou que agora colocaria o zipper que eu tanto pedira das outras vezes.


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