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Cronicas-->Avisos, bilhetes e recadinhos -- 06/06/2007 - 23:50 (Beatriz Cruz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Avisos, Bilhetes e Recadinhos


Logo que aprendi a ler, comecei a notar que papai deixava avisos em certos lugares. O primeiro de que me dei conta foi no carro. Pendurada em lugar bem visível, uma folha alertava os passageiros (principalmente mamãe, minha avó e tias): "é proibido transportar plantas e peixes".
Nas épocas em que era comum a falta de água em São Paulo, assim que ela se acabava, lá vinha o Zé Geraldo com papel, caneta e fita durex e pregava o aviso ao lado da pia: "não abra a torneira". Tinha sua razão, pois se alguém a abrisse entrava ar no encanamento, formando-se uma bolha que impedia a passagem da água mais tarde. Às vezes tínhamos que chamar um encanador para resolver o problema.
Também no banheiro, havia outro aviso, este permanente: "depois do banho, desligue o aquecedor", com uma flecha indicando o local a ser acionado.
Ao lado da geladeira era comum encontrarmos o bilhetinho "feche a porta". Perto do telefone, pregado num quadro, víamos o papelzinho: "fulano ligou".
À medida que fomos crescendo, passamos a deixar também nossos recados em lugares estratégicos. Maçanetas eram ótimas para se pendurar papéis: "fui ao cinema"; "volto mais tarde"; "depois das aulas vou estudar com fulano"...
Casa de muita gente, a nossa era bem movimentada. Durante o dia todos, incluindo parentes e amigos, entravam pela porta lateral sem tocar a campainha. Ela ficava o dia inteiro aberta. À noite, usávamos a porta da frente e deixávamos a chave escondida atrás do vidro da janela. Bons tempos! Os jovens entravam, saíam e a chave permanecia ali. Este vidro também servia de painel para recados aos amigos: "fui para tal lugar, te espero lá". Às vezes o bilhete era cifrado e só alguns podiam entendê-lo.
Papai costumava sair à noite e ao voltar, percebendo que nem todos os filhos estavam recolhidos, pendurava um lembrete em local de passagem obrigatória: "o último que entrar recolha a chave".
Aos sábados e domingos os jovens não tinham hora certa para acordar, mas de vez em quando algum programa especial exigia o sacrifício. Temendo não escutar o despertador e perder o encontro marcado, era necessário reforçar o alerta. Não sei de quem foi a idéia, sei é que o novo lugar escolhido tornou-se logo o melhor de todos. Por ali passava a família inteira e não havia como não enxergar.
Determinada a nova estratégia, a forma do bilhete também aprimorou-se. As palavras reduziram-se ao mínimo essencial. Papel, caneta e durex foram eliminados. Os instrumentos utilizados então passaram a ser o sabonete ou baton. Com a ponta deles escrevíamos no espelho do banheiro: "Acorde-me às 8h30 - Fulano". Não raro, havia mais de um pedido.
Com o passar do tempo, o "acorde-me" tornou-se supérfluo. Bastava o horário e o nome do pedinte. Como todos sabiam do que se tratava, nunca ninguém deixou de ser acordado.
Anos mais tarde, percebi que terroristas apropriaram-se desta eficiente forma de comunicação. Em espelhos das minúsculas toaletes dos aviões começaram a aparecer avisos do tipo BOMBA A BORDO. Muitas vezes falsos alarmes, mas o suficiente para criar pànico geral e até aterrissagens forçadas.



















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