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Artigos-->DE COMO HARRY POTTER TORNOU-SE BRUXO -- 20/02/2003 - 13:18 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DE COMO HARRY POTTER TORNOU-SE BRUXO

Por J.B.Guimarães

I ato - A curiosidade

Harry mudou-se para a cidade grande. Passou a residir perto de um templo centenário sustentado por três colunas e com duas escadas de acesso: uma do lado direito e outra do lado esquerdo, ambas voltadas para o céu. Todos os dias, ao ir para o colégio, passava em frente ao templo, pela calçada do outro lado da rua. Mas era nas segundas-feiras que ele ficava a observar o comportamento daqueles senhores vestidos com ternos pretos que ali freqüentavam. Pensava que era uma escola de bruxos.

Havia segundas-feiras em que ele chegava atrasado ao colégio por causa da sua curiosidade profana. Ficava a observar aqueles senhores que caminhavam pela calçada lentamente, pensativos e circunspetos até chegar ao portão. Eram quase todos de meia idade. Intrigava-o a circunstância de que todos se vestiam iguais e, portanto, pareciam iguais. Dificilmente vinham enturmados. Soubera depois que se tratava de mera casualidade.

Com o tempo, começou a passar na calçada do templo. Notou que no meio das escadas havia uma porta e que acima da porta havia duas ferramentas de pedreiro. Às vezes quando voltava da escola coincidia de deparar com o movimento daqueles senhores que, àquela hora, saiam da porta central e subiam as escadas convergentes rumo ao céu. Não tinha mais dúvidas. Aquilo era coisa de bruxaria. Havia dias então de chuva ou de neblina em que o ambiente ficava mais propício à imaginação. Também não lhe restava mais dúvida de que a cidade, com mais de 350 mil habitantes, sofria influências da bruxaria.

II ato - O chamado

O tempo passou, e sem que ele soubesse, sem que ele quisesse, tornou-se amigo de um bruxo e depois de vários. Foi inevitável. Até que um dia um bruxo chegou para ele e disse:

— Eu acho que você tem perfil de bruxo?

Ele respondeu assustado. Na verdade, fingiu-se de assustado.

— Eu, como eu, bruxo?

Surpresa falsa! Há muito procurava uma chance de entrar na ordem dos bruxos. Mas quando ela surgiu não deixou de ficar apreensivo. Será que por ser um bruxo, um dia eu posso vir a ser inquirido e ser queimado no fogo do inferno? Eram os seus temores. Insistia nas perguntas: “Existiria, realmente, bruxo de bom coração? Conhecia vários. Refletiu sobre a conduta deles e não apurou nada que pudesse decepcioná-lo. Não! Esse tipo de bruxo, que nesta escola se forma, não faz mal para ninguém, concluiu.

Aceitou a chamada. Se passaram dias, semanas, meses, um ano e nada de marcar a sua iniciação. Parecia-lhe que não havia um santo sequer que interferisse na sua nova empreitada. Até que um dia houve a anunciação:

— Dia 03 de março de 1994 você subirá o primeiro degrau da escada.

III ato - A iniciação

Harry ficou todo apreensivo. A escolha já havia sido feita, mas ainda poderia cair. Travaria uma batalha na terra, na água, no fogo e no ar. Poderiam surgir-lhe furacões interiores e exteriores. É certo que não estava sozinho; que havia companheiros de caminhada encarregados de ajudá-lo a enfrentar todos os rigores da natureza, mas sabia de antemão que só os fortes sobreviveriam. Contudo, não teve medo. Harry desceu ao inferno e subiu ao céu; lutou contra os demônios e ajoelhou-se perante os anjos; despojou-se da ignorância e da superioridade; igualou-se ao nada para depois recomeçar; e eis que das trevas surgiu um minúsculo raio de luz. Era o sinal de que seria um bruxo.

IV ato - O aprendiz

Coitado! Uma vez iniciado na bruxaria tinha que se vestir igual a um bruxo. Comportar-se igual a um bruxo. Os bruxos têm olhos por todos os lados, enxergam todos os cantos, em todos os lugares. Que fria! Que fria!

No principio, Harry andava meio desengonçado, encabulado. Tinha a sensação de que todos estavam a olhar para ele. Olha que bruxinho safado! Tímido! Asa caída... vai ver que nem sabe ainda voar! No meio dos bruxos, mesmo sendo o último a falar, não falava. Era tremendamente tímido. Dois meses depois viera o pior. Ele fora mandado para Campos do Jordão, uma cidadezinha incrustada num pé de serra. Campos, no inverno, ao cair da tarde, é fria e lúgubre. Teve dúvidas, se além de blusas, levaria a sua indumentária de bruxo. Uma vez batizado sempre batizado; uma vez iniciado sempre iniciado; uma vez bruxo, bruxo para sempre bruxo. Harry meteu o traje na mala.

Lá havia uma escola de bruxo. E como os trabalhos se dão, em quase todas as cidades que têm escola, às segundas-feiras, na primeira, Harry despistou sorrateiramente dos colegas e vestiu-se de bruxo e saiu disfarçadamente do hotel com destino à escola da arte real. Não quis ficar no ponto à espera do ônibus. Caminhou a procura de um ponto de táxi que ficava quase no centro da cidade. Temia que fosse outra ordem de bruxos e que se ele chegasse atrasado, poderiam colocá-lo à prova. Harry mal sabia fazer uma poção.

V ato - Os temores

Eram, por conseguinte, 6h de uma segunda-feira fria e cinzenta. A rua era arborizada com plátano e nesta época do ano as folhas estavam todas caídas no chão. O vento cuidava de movimentá-las de um lado para o outro farfalhando-as; ouvia-se o ranger dos galhos nus e os sibilos dos fios da rede elétrica. Contíguo à rua havia uma antiga trilha de ferros. Entre a rua e os trilhos havia uns burricos que pastavam e do lado direito de quem desce a rua havia um funesto sanatório. No céu, via-se um soturno engole-vento a espreitar a sua presa. Caminhava apressado e com o coração acelerado. Harry tremeu-se quando uma varrida de vento jogou do alto do muro na calçada, bem à sua frente, uma lata de refrigerante. Parecia-lhe que todos o olhavam, ou melhor, tudo o espreitava: tocos, troncos, postes, aves soturnas a procura de abrigo. Esse dia Harry, expressamente, se sentira um bruxo.

VI - A intolerância

Mas Harry não sucumbiu aos seus temores. Seguiu firme. Dez minutos depois estava no ponto de táxi. Ali se encontravam dois senhores de meia idade. Dirigiu a pergunta ao mais próximo:

— Meu senhor, preciso ir à casa dos bruxos?

— Moço, me desculpe. Eu não sei onde fica essa casa que o senhor quer ir, respondeu-lhe com total indiferença.

Harry aproximou-se do outro senhor e fez o mesmo pedido. O senhor lhe respondeu seco:

— Moço, eu não minto que não sei. Pra falar a verdade eu nem passo perto dessa casa. A minha religião não permite.

O bruxinho compreendeu. Mas e agora? Pensou em andar e se informar. Mas se não encontrasse a escola? E se a encontrasse, mas chegasse atrasado? Olhou para o relógio e viu que faltavam pouco menos de vinte minutos para a seção começar. Olhou para os lados e notou que os dois senhores haviam saído de perto dele. Percebeu que eles foram para dentro dos carros. Estava frio, mas seria este o motivo por que se recolheram? E o aprendiz ficou ali, indignado, naquela rua, agora mais escura e fria.

Súbito um terceiro táxi aparece e encosta. Era um jovem taxista. Aparentava ter no máximo 19 anos. O bruxinho faz o mesmo pedido. E eis que para a sua surpresa, foi prontamente atendido.

Sorridente, pergunta:

— Você não tem medo de bruxo?

— Eu não! Eu sou filho de bruxo.

VII - A poção mágica

Cinco minutinhos depois Harry estava na porta do Templo. Procurou um mestre que o amparou. Participara de três seções de bruxaria. Na terceira compreendeu que não havia, pois, mais escuridão que não pudesse ser clareada. Campos do Jordão, ao seu coração havia se tornado uma cidade bela. De volta a Uber trouxe os cumprimentos de todos daquela ordem para os seus companheiros. Dois meses depois sua cidade a qual achava lusco-fusco, também lhe clareava. Eram os reflexos da poção mágica chamada “A amizade”, que os bruxos mestres lhe ensinaram a fazer. A receita tinha três ingredientes básicos: a igualdade, a fraternidade e a liberdade. A intensidade da luz que fazia a cidade clarear depreendia das essências que são as virtudes de cada um. Havia aqueles que preferiam salpicá-la mais com o amor; outros com a justiça; outros com a generosidade. Ensinaram a Harry que se quisesse fazer uma poção com brilho incomparável bastaria juntar à receita básica as especiarias do humor, da boa fé, da doçura, da pureza, da simplicidade, da humildade, da gratidão, da misericórdia, da compaixão, da coragem, da temperança, da prudência, da fidelidade e da polidez.

Esta receita dispensa veementemente a intolerância. Em compensação, pode-se abusar do uso da tolerância. Segundo o “Filósofo” “a tolerância age primeiramente em relação a nossos adversários. A tolerância é uma solução passável; à espera de melhor, isto é, à espera de que os homens possam se amar, ou simplesmente se conhecer e se compreender; se suportar".

Uma vez apreendido a receita da poção mágica — “A amizade” —, Harry se sentiu apto a fazer bruxarias pelo mundo até aonde a sua vassoura pudesse voar.

Assim, termina a história de como Potter tornou-se bruxo.

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