Aqui morava um rei*
Aqui morava um rei quando eu menino Vestia ouro e castanho no gibão, Pedra da sorte sobre meu Destino, Pulsava, junto ao meu, seu coração.
Para mim, o seu cantar era Divino, Quando ao som da viola e do bordão, Cantava, com voz rouca , o Desatino, O Sangue, o riso e as mortes do sertão.
Mas mataram meu pai. Desde esse dia, Eu me vi como um cego sem guia Que se foi para o Sol, transfigurado.
Sua efígie me queima. Eu sou a presa. Ele, a brasa que impele ao fogo acesa Espada de Ouro em pasto ensanguentado.
* Ariano Suassuna (CB, 04/03/2019, Diversão & Arte, Poesia, p. 5). |