Quinze Anos ?
Certa vez, muito ocupada, disse à minha comadre que nada faria no dia do meu aniversário. Se ela e os filhos pudessem almoçar comigo, ótimo. Quando cheguei do colégio, lá estavam eles me esperando. Logo nossas crianças se animaram e criaram um clima de festa. Através de seus risinhos enigmáticos, percebi que alguma surpresa estava por acontecer.
Realmente, acabada a refeição, entraram na sala carregando um enorme bolo enfeitado.Mas esqueceram-se das velinhas e assim não tinha graça. Então, minha filha e a amiguinha saíram correndo para arranjar algumas na padaria da esquina. Voltaram logo com uma de número cinco e outra de número um. Cantaram o "parabéns" e assoprei estrelinhas. Depois nos deliciamos com a sobremesa inesperada.
Alguns dias mais tarde, minha filha contou que no momento de comprar as velas ficou sem jeito de dizer que a mãe estava "velhinha" e inventou a história de que eram para os quinze anos de sua irmã. Mentira, pois nem irmã ela tem! Rimos do acontecido, ela por causa da esperteza e eu, da própria situação: não havia pensado na inversão dos números. Para minha filha, fazer quinze anos devia ser o máximo. Talvez ela já estivesse sonhando com esse glorioso dia... Passei, então, a refletir sobre o assunto.
Que é um marco na vida dos adolescentes, é. Que muitas meninas gostem de comemorar a data com pompa e gala, é compreensível. Que pais gastem fortunas nestas grandiosas festas, parece-me bobagem...
O que, afinal, são os jovens aos quinze anos? Lindas carinhas que se acham horrorosas.O que parecia interessante na infància não os atrai mais. Olham para a frente. Sonham.
Alegres, vivem rodeados de amigos.Grudados ao telefone não perdem um programa nos fins-de-semana. Ouvem música em altíssimo volume, cantam e dançam. Divertem-se.
Entretanto, nunca estão satisfeitos com sua imagem. Se baixos, acham que podiam ser mais altos. Se gordos, precisam emagrecer. Olham-se no espelho e reclamam. O reflexo não é exatamente aquilo que gostariam de ver. Uma pálpebra mais levantada que a outra, dentes não muito alinhados. Cabelos crespos, que horror... Pernas finas, muito feio. Coxas grossas, nem pensar...
Invejam a vida dos adultos. Querem parecer mais velhos. Idealizam. Gostariam de ser donos do próprio nariz. Mas, por enquanto, esta liberdade não lhes é permitida. Não têm, ainda, autonomia para realizar tudo o que desejam.
Com o rosto cheio de espinhas e mil dúvidas na cabeça, não passam de grandes crianças complexadas e inseguras.
Foi então que me dei conta de que os meus cinquenta e um anos me eram muito mais gratos do que os famigerados quinze, aqueles da "aurora da minha vida"...
abril/06
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