Amor que morre*
O nosso amor morreu... Quem o diria! Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta. Ceguinha de te ver, sem ver a conta Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria... E outro clarão, ao longe, já desponta! Um engano que morre... e logo aponta A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu amor, que pra viver São precisos amores, pra morrer e são precisos sonhos para partir.
Eu bem sei, meu amor, que era preciso Fazer do amor que parte o claro riso Doutro amor impossível que há de vir!
[Florbela Espanca, 1894-1930, Florbela de Alma Conceição Espanca. Nasceu em Vila Viçosa. Estudou em Évora, cidade que substituiu efetivamente sua cidade natal. Em Matosinho, morreu essa extraordinária poetisa portuguesa, herdeira do lirismo de Sóror do Alcoforado. In "Antologia da Literatura Mundial (Antologia dos Poetas Portugueses), 7ª edição, São Paulo, Editora Logos, 1966, p. 235].
* CB, 12/08/2019, Diversão & Arte, p. 5.
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