Nada é mais lindo e misterioso do que um umbigo de mulher.
É-lhe a verdadeira identidade feminil.
Dá-lhe charme, o verdadeiro toque de mestre no ventre feminino.
Uma menina de sete anos, aos setenta, terá o mesmo umbigo.
O umbigo, portanto, é a sua parte mais fiel, um charme inocente;
ali, bem discreto, quase independente.
O que há de mais lindo do que um umbigo de mulher!!!??.
Raso, fundo, saltado, discreto, preto, branco, rosa ou azul,
não importa, o umbigo de uma mulher é a própria mulher.
Há ciências em cuja metodologia presta-se a analisar o caráter e a sorte do sujeito, tais como o formato da letra, do rosto, das mãos e até pelo dia, mês e ano de nascimento.
Eu analiso a mulher pelo seu umbigo.
Nada se compara a este ponto metafísico feminino: o umbigo, o primeiro contato com o mundo.
Antes de ganharmos um cérebro, ganhamos um umbigo.
Nutre, protege, une ao um ventre aconchegante, nos conecta à vida.
Foram meus melhores meses. Nove de puro ócio.
Duzentos e setenta dias em que fui egoísta sem me sentir culpado.
Ligado ao umbigo de uma mulher!!
Choramos quando vimos ao mundo porque cortam esse elo.
Minha mãe, sapientemente, guardou o meu até meus trinta anos.
Minha mãe era sábia.
Sabia que aquela coisa retorcida e ressequida, guardada num frasco, era o último elo que ainda nos unia.
Desgraçadamente, o perdi.
Talvez por uma inconsciente forma de protesto e libertação, como a dizer: "mãe, não sou mais menino".
Vou inaugurar uma seita ou uma nova ciência: a Umbigologia.
O umbigo traz um quê de erotismo, de cobiça, de desejo.
Pobre do homem que nunca tomou iogurte com polpa de fruta no umbigo de uma mulher.
Ou mel, ou vinho, ou degustou nele uma porção de açúcar mascavo.
O umbigo de mulher é visceral, instigante, sublime.
Uma taça de promessas apoteóticas.
Escondido ou não em piercings, é a verdadeira jóia feminal,
Liberado pela minissaia e pelo cós baixo Saint-tropez, ostenta a si mesmo, chega a ter alma própria, como quem descobriu-se subitamente maravilhoso, original e ufano.
É a parte do corpo feminino que é mais fiel à sua dona: não há similares, não sofre as intempéries do tempo.
Cada uma tem o seu, com uma linha sutil a descer no baixo ventre!
Promessa de paraíso...
Mais do que uma cicatriz, é o símbolo do que há de mais remoto na natureza, não só a humana;
princípio e fim de incomensuráveis cordões umbilicais rompidos.
Toda a ancestralidade da humanidade,
Faz-se presente...
No umbigo de uma mulher.
Daniel Viveiros® |
