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cronicas-->Missa na Catedral -- 15/06/2007 - 00:15 (Beatriz Cruz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Missa na Catedral


Desde pequena, aos domingos, eu ia à missa na Catedral de São Francisco em Taubaté com mamãe e meus irmãos. Assim que chegava ajoelhava-me, fazia o sinal da cruz e rezava compenetrada.
Aos toques de alguns sininhos, entrava o padre Evaristo acompanhado do coroinha e a missa se iniciava. Paramentado, ele se colocava diante do altar, de costas para nós, abria um livro e ia lendo numa língua que eu não compreendia. De repente, voltava-se para os fiéis e dizia: Dominus vobiscum! As pessoas, em pé, respondiam: Et cum spiritu tuo!
Todos se ajoelhavam e o padre, outra vez de costas, seguia a reza virando as páginas do livro. Atrás dele o coroinha, trajado de bata branca, balançava um objeto pendurado a uma corrente, do qual saía uma fumacinha. De vez em quando o menino ajoelhava-se também.
Num dado momento, a voz do padre Evaristo tornava-se compassada e ele falava mais alto. Os fiéis se levantavam e punham-se a fazer o sinal da cruz de um modo diferente: uma cruzinha na testa, outra na boca e outra ainda no peito. Ouvíamos, então, uma história agora mais compreensível para mim. Quase sempre ela começava assim: "Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos..." Terminada a leitura, o padre vinha mais para perto de nós, subia uns degraus e ficava exposto numa espécie de sacada, bem visível. Mamãe dizia que este lugar chamava-se púlpito. Todos se sentavam para ouvi-lo e lá de cima ele falava, falava, gesticulava.
Nestas horas minha cabeça voava, eu não conseguia prestar atenção. Impaciente, olhava para trás, para os lados, para os vitrais. Cochichava com as outras crianças e dávamos risada. Levávamos também uns cutucões de dona Laura.
Terminado o falatório, o padre voltava-se para o altar e ajoelhava-se. O coroinha, também de joelhos ao seu lado, sacudia longamente o sininho. E lá vinham novamente aquelas palavras esquisitas: sanctus, sanctus, santus... agnus dei... pecatoribus... O povo, contrito e cabisbaixo, dizia em uníssono: "Ora pro nobis! Ora pro nobis!"
Depois muita gente ia lá para a frente, formando uma longa fila na passagem central. As mulheres de cabeça coberta com véus brancos ou pretos carregavam missais e terços entre os dedos. O padre, sempre acompanhado do coroinha, colocava hóstias de boca em boca. Após a comunhão, outras orações se seguiam, uma ladainha sem fim.
O melhor momento era quando o padre cobria o cálice dourado com um pano e ia guardá-lo num nicho. Seguindo seus movimentos, eu sabia que a missa estava por terminar.
Então, de frente para o público, padre Evaristo levantava o braço e, num largo gesto, desenhava uma cruz no ar. Ao mesmo tempo dizia: "Ite missa est!" O povo, benzendo-se, respondia apressado: "Deo gratias!". Nessa época eu não sabia ainda que estas palavras significavam "graças a Deus". Após a descoberta, juntava-me ao coro com mais convicção.
Depois disto, uma grande movimentação se formava para a saída da igreja e lá fora eu sempre via muitos senhores de chapéus nas mãos, aguardando.
É que às nove horas havia na Catedral a celebração de uma missa especial. Só para os homens.





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