O QUE ROUBA-SE DE UM MORTO
Há um cemitério
no meio do bairro.
Onde estarão os vivos
que o deixam tão só
Dizem que os vivos circulam
alguns meio mortos de fome
e arrancam as tampas das covas
e os dentes de ouro dos mortos.
Então chegou a polícia
e catou o pivete descalço
que andava de bicicleta
no meio das lápides frias
e todo vestindo trapos
disse-lhes, alta voz:
“não roubo não, seu doutor…
trago uma flor tão só…
Diga-me seu polícia
o que se rouba de um morto
que é tão escondido e só
um dia eu tive uma mãe
e agora só tenho avó.
E mesmo que a flor é murcha
trago com muito amor…”
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