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Cronicas-->O menino que falava francês -- 17/06/2007 - 16:18 (Beatriz Cruz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O menino que falava francês


Aos três anos, meu filho foi para uma escola bilíngue, onde as aulas eram dadas em francês. Até então ele nunca havia escutado nada em outro idioma. De qualquer modo, achei interessante e expliquei-lhe que no início talvez não entendesse o que a professora falava, mas logo se acostumaria. Para animá-lo, disse que lá os coleguinhas o chamariam de Josê. Ele achou graça e ficou entusiasmado.
Josê gostou da escola e logo começou a adaptar-se. Conversava com os meninos em português e, aos poucos, passou a entender o que a mestra dizia. De minha parte, fiquei impressionada com a capacidade das crianças em compreender outras línguas. E como ouvem bem! Sem nenhuma inibição, são capazes de repetir palavras com a pronúncia exata. Elas não têm, como os adultos, medo de errar. A Psicologia diz que nossos ouvidos caducam para as línguas estrangeiras aos nove anos de idade. Talvez por isto tenhamos tanta dificuldade em aprendê-las.
Vivenciando o dia-a-dia em outro idioma, os progressos foram rápidos. Não tardou para que meu filho passasse a brincar em francês. Aliás, isto acontece com frequência em meios como aquele. Crianças de nacionalidades diferentes unem-se pelas brincadeiras. Mesmo sozinho em casa, às voltas com seus carrinhos, ele dizia "allez!", "vite", "arrête!"(vá, depressa, pare).
Quando íamos juntos ao supermercado, ele costumava apontar produtos e dizer como se chamavam em francês. Eu o estimulava, perguntava por isto ou aquilo, ao mesmo tempo em que testava seus novos conhecimentos. E ficávamos satisfeitos com as novidades.
Ao final do primeiro semestre entregaram-me seus trabalhos daquele período. Eram quase todos desenhos ou pinturas de figuras. Olhando uma folha com objetos de uma cozinha, quis certificar-me de que ele já sabia do que se tratava. Fui mostrando as figuras uma a uma e ele dizia corretamente as palavras. Quando apontei a geladeira, o menino empacou. Pensou um pouco e, com a cara marota, soltou ... "la geladérre"! Rimos muito, nós dois e depois toda a família.
Mais tarde minha filha foi para a mesma escola e eu também passei a frequentá-la como professora de português. Como meu marido trabalhava em empresa francesa, a comunicação em nossa casa tornou-se mesclada dos dois idiomas. Falávamos a nossa língua, mas para determinadas situações o francês era mais adequado. Ao final de algum tempo, começamos a inventar palavras: "degajado" para desanuviado, "bic" para caneta, "burracon" para buracão e assim por diante. A geladérre persiste até hoje.
Não éramos só nós a praticar essa mistura. Naquela escola, meus alunos faziam perguntas estranhas. "Posso turnar a page?", "vou decupar o desenho" ou então "meus affaires estão no casiê"...Ao terminar um trabalho escrito, quase todos diziam:"é para tirar um traço?" E ficavam tontos com minha resposta: "Não. É para pór um traço!" O "tirar" deles vinha de "tirer", que quer dizer puxar.
Se eu não vivesse naquele ambiente dificilmente compreenderia o linguajar da criançada.
Mas o melhor de tudo era o que dizia uma senhora francesa, mãe de uma das amigas de minha filha. Na hora do lanche, mandava as meninas à padaria comprar "punzinhos"...







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