Em Londres víamos desde cedo homens em portas de bares ou parados em alguma esquina com papeizinhos na mão recolhendo apostas. Pensamos que fosse algo parecido com o jogo do bicho, mas não era. Tratava-se de corridas de cachorro. Nunca tínhamos ouvido falar nisso, ficamos feito São Tomé, era preciso ver para crer.
Conseguimos descobrir onde se passava tão raro espetáculo e, uma certa noite, para lá fomos de metró até onde Judas perdeu as botas. Nem precisamos de informações, foi só seguir a multidão e chegamos a um local mambembe semelhante a um pequeno hipódromo, com filas imensas diante dos guichês.
Apesar de nos encontrarmos no primeiro mundo, tivemos a exata impressão de estar no Jóquei Clube dos Pobres. Em vez de elegantes figurinos ambulantes, o que víamos ali era gente vestida da forma mais avacalhada. Mas o melhor mesmo foi assistir à s corridas que se deram numa pista ovalada em volta do gramado.
Dado o tiro inicial, portinholas se levantaram e vários cachorros puseram-se a perseguir furiosamente um coelho. Apesar de latir e babar, corriam direitinho em suas raias. O coelhinho, porém, era mais veloz e não se deixava pegar.
A primeira volta foi rápida, muita gente pulou de alegria, pois tinha apostado no favorito. Outros xingavam e rasgavam papeizinhos.
Muitas rodadas aconteceram, uma logo em seguida da outra num vapt-vupt frenético e foi somente lá pela quarta que percebemos uma coisa completamente inesperada: o coelhinho era mecànico!
Depois disto, as corridas tornaram-se mais divertidas ainda.
