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Artigos-->POESIA INFANTIL NA SALA DE AULA -- 21/02/2003 - 16:09 (Clarice Braatz Schmidt Neukirchen) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POESIA INFANTIL NA SALA DE AULA



Clarice Braatz Schmidt e Rosana Ferreira Terra



A grande maioria das obras poéticas destinadas ao público infantil são, na maioria das vezes, desprovidas de sua especialidade artística. As obras trabalhadas em sala de aula geralmente abordam temas morais, atendendo as necessidades de disciplina imposta pela sociedade, ao invés de ter como objetivo o prazer que a poesia proporciona à criança. Esta grande infinidade de obras carregadas de apelo moral podem ser consideradas "pseudopoemas".

A criança, desde bebê, tem seu mundo envolto com a poesia, rimas, sons, etc... As canções de ninar, os brincos , os trava-línguas, as parlendas, todas estas formas de poesia estão intimamente ligados ao conhecimento do corpo pela criança, ao afeto, adestramento da linguagem, coordenação motora, motricidade amplas, vida em grupo, etc. Na adolescência, o mundo adulto leva a criança a abandonar sua identificação com a poesia, pois este lhe exige maior maturidade. Assim, adolescentes costumam direcionar-se à leitura de fundo informativo, deixando de lado o raciocínio abstrato. Isto nada mais é que reflexo do preconceito da sociedade perante a pretensa inutilidade e irracionalidade da arte, bem como da desconfiança ante o saber não-científico.

Até a pré-adolescência a criança entrega-se de corpo e alma às formas de poesia, como parlendas e cantigas de roda. Este gênero literário confere-lhe o verdadeiro prazer do texto, graças a seu ludismo não intelectualizado e vitalista.

Apesar das vasta obra infantil constar praticamente apenas de pseudopoemas, temos um elenco dos poetas que escrevem (ou escreveram) para o público infantil, podemos citar Olavo Bilac, na virada do século, bem como os modernistas Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Vinícius de Morais e Mário Quintana. Desde a década de 70 temos também bons nomes que tentam acertar o passo com as exigências do pequeno leitor. Dentre eles podemos citar Sérgio Caparelli, Elias José e Maria Dinorah.

Enfocaremos aqui o poeta porto-alegrense Mário Quintana, que em sua poesia infantil, seja em prosa ou verso, tematiza os anseios e medos infantis, tomando um ponto de vista compartilhado ao do pequeno leitor. O humor presente em toda a obra de Quintana, seja ela infantil ou não, deixa claro este universo infantil e maroto do autor. Quintana torna-se cúmplice no horizonte da criança, ao invés de adaptar ou imbecilizar sua obra destinada ao público infantil.

Quintana brinca com as palavras, partilhando dos anseios infantis, como podemos observar no poema "Canção de nuvem e vento":



Medo da nuvem

Medo Medo

Medo da nuvem que vai crescendo

Que vai se abrindo

Que não se sabe

O que vai saindo

Medo da nuvem Nuvem Nuvem

Medo do vento

Medo Medo

Medo do vento que vai ventando

Que vai falando

Que não se sabe

O que vai dizendo

Medo do vento Vento Vento

Medo do gesto

mudo

Medo da fala

Surda

Que vai movendo

Que vai dizendo

Que não se sabe

Que bem se sabe

Que tudo é nuvem que tudo é vento

Nuvem e vento Vento Vento!



Neste poema podemos notar a visão infantil do autor enfocada no temor das tempestades. A própria tessitura sonora do poema conduz à angústia. O tema do medo não é camuflado ou apaziguado, mas verdadeiro. Porém o autor encanta o pequeno leitor tornando tolerável a dor desta angustiante vivência.

No poema abaixo Quintana toma o posicionamento de uma criança entediada em uma sala de aula:



Pequenos tormentos da vida



De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o azul convida os meninos, as nuvens desenrolam-se, lentas, como quem vai inventando preguiçosamente uma história sem fim... Sem fim é a aula: e nada acontece, nada... Bocejos e moscas. Se ao menos, pensa Lili, se ao menos um avião entrasse por uma janela e saísse pela outra!



Neste poema, em forma de prosa, o poeta vivência a inquietude do universo infantil: o descontentamento com a monotonia da aula e o desejo de que algo fantástico aconteça. Quintana envolve-se intimamente com o imaginário infantil, personificando o eu-lírico na imagem de Lili, uma criança levada e cheia de vida. Há ainda a crítica ao conservadorismo e tradicionalismo do sistema de ensino.

Trabalhar a poesia em sala de aula é fundamental, pois o contato com o texto poético instrumentaliza a criança a "ler entrelinhas", ou seja, preencher lacunas, capacitando-a à interpretação.

A poesia trabalhada em sala de aula pode ser o ponto de partida à admiração, ou seja, o ato da criança abrir-se ao desconhecido e "ler" o mundo através do prazer fantástico das imagens, construindo seu imaginário, acionando-o e modificando-o e, assim, reconhecendo-se como ser pensante.





























REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



AVERBUCK, Ligia Morrone. A poesia e a escola. In: Leitura em em crise na escola: as

alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.



BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil. São Paulo: Ática, 1991.



MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1984.



QUINTANA, Mário. Lili inventa o mundo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997.



___________. Nariz de vidro. São Paulo: Moderna, 1984.



___________. O sapo amarelo. Porto Alegre: Mercado Aberto.



___________. Pé de pilão. 5° edição. São Paulo: Ática, 1995.









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