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Artigos-->A LITERATURA POPULAR E A ORALIDADE -- 21/02/2003 - 16:11 (Clarice Braatz Schmidt Neukirchen) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A LITERATURA POPULAR E A ORALIDADE



Clarice Braatz Schmidt





As manifestações populares dão-se em sua maioria em forma oral. A arte de narrar é anterior à escrita; é uma pratica que vem acompanhando o homem desde tempos muito remotos. A literatura popular se dá em sociedades onde existe a elite e o povo participando de manifestações comuns como língua, religião, composição étnica etc.

Podemos considerar a idade média como a grande época da difusão das narrativas tradicionais. A literatura popular aparece como uma manifestação leiga onde até então a literatura era utilizada somente pelo clero, com finalidade religiosa. Essa literatura popular caracterizou-se principalmente por ser em linguagem regional e não em latim. Assim, aos poucos, as pessoas do povo iam contando suas histórias e compondo seus versos e formando a literatura popular. A literatura oral é nitidamente utilitária, pois além de transmitir experiências vivenciadas encerra noções de mundo e de seus diversos problemas.

As várias formas da literatura oral encontradas nas comunidades, além da função de preenchimento das horas de lazer têm a função de ensinar as “mnemonias’, dar orientação moral ou ensinos através da sabedoria popular como acontece nos provérbios. Segundo Alceu Maynard Araújo também na religião a literatura oral exerce função integradora da cultura. No judaísmo, por exemplo, a riqueza das tradições judaicas são recebidas através da via oral. Muitos povos, assim como os hebreus, valorizam muito a transmissão da história oralmente.

São muito comum ainda hoje, em países de língua árabe ou na Índia os contadores oficiais de histórias. São pessoas reconhecidas nestes lugares pela sua capacidade de lembrar de centenas de passagens e sua habilidade em relatar tais fatos. Apesar de existir a poesia repentista nestes países é a prosa que predomina, se bem que as próprias línguas árabes como as indianas são doces e cheias de termos poéticos até mesmo na comunicação diária.

Na literatura popular, assim como na erudita, temos fundamentalmente, dois aspectos: a poesia e a prosa.

A poesia destaca-se na literatura oral pela sua dinamicidade e força de expressão. Nas sociedades iletradas a única forma existente de se guardar aquilo que se julga importante é a memória. Daí a tendência de ordenar as informações em forma poética, visto que através de rimas e ritmos facilita-se a memorização. Costuma ser em geral cantada. Ela tende a perdurar independentemente de ter sido registrada. Existem várias formas populares de poesia: brincos, canções de ninar, parlendas, trava-línguas, adivinhas etc.

As canções de ninar, ou acalantos, são geralmente a primeira forma de literatura com que a criança tem contato. Já as adivinhas, que são mais praticadas no meio rural que no urbano, exercem papel didático nas áreas onde há falta de escolas. Também as parlendas são muitos utilizadas com cunho didático, visto que através delas decoram-se números, nomes, etc. Os trava-línguas, por sua vez, tem sua importância no fato de provocarem a boa dicção, e inclusive é uma forma lúdica que pode ser utilizada por educadores para resolver problemas de dicção nos alunos. Abaixo podemos observar alguns exemplos:



ADIVINHA



“Come o mundo feito um ogre,

Desata que nem pião.

Diz que é cabeça de vento,

Gosta de armar confusão.”

(O furacão)



ACALANTO



“Boi, boi, boi,

Boi da cara preta.

Pega este menino

que tem medo de careta.”



A prosa por sua vez engloba contos e lendas. Há também os provérbios, no entanto estes podem tanto ser em prosa quanto rimados. Os provérbios podem ser considerados “uma espécie de manual de boa conduta decorado pelos que desejam bem comportar-se”. (1977:169)

Os contos e lendas são fatos ocorridos ou não, geralmente com finalidade educativa, contadas de pai par filho, ou até mesmo por pessoas idosas para pequenos grupos. A circulação desta forma de literatura, diferentemente da poesia, é restrita e tende a desaparecer caso não seja registrada. Geralmente os contos e lendas ao serem publicados perdem o interesse das camadas populares.

Merece destaque também a chamada literatura de cordel, muito apreciada pelo povo, na qual estão presentes marcas muito fortes do discurso oral, pois neste gênero os poetas escrevem na mesma linguagem utilizada pelo povo, havendo um só universo de discurso. O nome deste gênero vem de Portugal e Espanha, onde os livretos eram expostos em barbantes como roupa no varal. No Brasil, apesar de ser conhecida em todo o país, é no nordeste que a literatura de cordel tem sua maior força. Nela o próprio homem do povo imprime suas produções do jeito que ele as entende. Existem duas estruturas na literatura de cordel que mais chamam a atenção: os Abecês e os Desafios. Os abecês caracterizam-se por cada estrofe começar com uma letra do alfabeto. Já os desafios são uma das modalidades mais comuns nas cantorias e consiste em um combate poético entre dois cantores repentistas.

O patrimônio oral dos povos também é a contribuição mais profunda na literatura infantil. Nem todas as crianças têm acesso a literatura escrita, no entanto, a literatura oral está ao alcance de todos. Podemos dizer que até mesmo a literatura infantil escrita pautam-se pelo resgate da oralidade, visto que neste gênero também estão presentes características do discurso oral como a redundância, os desvios das normas lingüisticas, a informalidade das expressões populares.

Segundo Cecília Meireles nos grandes centros, onde a vida diária é mais agitada e existe pouca conversa, a literatura oral tem desaparecido, no entanto nas pequenas cidades, onde a vida é mais vagarosa, esta forma de literatura tende a perdurar.

“Assim, as bibliotecas, antes de serem infinitas estantes, com vozes presas dentro dos livros, foram vivas e humanas, rumorosas, com gestos, canções, danças entremeadas às narrativas.” (1984:49)

Enfrentar a oralidade é por em crise os tradicionais discursos literários. É inaugurar um novo modo de narrar e escrever. Narrar no mesmo tom e compasso de viver.





REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS



ARAÚJO, Alceu Maynard. Cultura Popular Brasileira. 3° edição. São Paulo:

Melhoramentos, 1977.

BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil. 2° edição. São Paulo: Ática, 1991.

LUYTEN, Joseph M. O que é literatura popular. 3° edição. São Paulo: Brasiliense, 1986.

MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. 3° edição. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1984.

PALO, Maria José & OLIVEIRA, Maria Rosa. Literatura infantil. 2° edição. São Paulo:

Ática, 1992.





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