Carona de avião
Viajando sempre de carona, só uma única vez tivemos problemas. Fomos deixados no meio da estrada. Sem conseguir alguém que se apiedasse de nós, começamos a temer que o dia se acabasse antes que chegássemos a qualquer lugar habitado. Ao examinarmos os mapas, descobrimos que o vilarejo mais próximo encontrava-se a uns bons quilómetros. Sem alternativas, pusemos o pé na estradinha secundária e não cruzamos com nenhum carro. Horas depois, chegamos exaustos em Auerbach.
Instalamo-nos em uma pensão que nos pareceu a melhor do mundo. Depois do jantar, dormimos sob acolchoados de plumas, os mais quentes e leves que jamais conheci.
Na manhã seguinte, refeitos do cansaço, achamos mais prudente nos munir de alguns petiscos antes de ir para a estrada. Enquanto meus amigos foram ao supermercado, fiquei me abastecendo na pensão.
Tomava tranquilamente um chá com torradas quando a dona da casa veio conversar comigo. Como as primeiras perguntas eram sempre as mesmas, respondi e a senhora se entusiasmou, mas chegamos a um ponto em que eu não podia mais continuar, embora compreendesse o que ela desejava saber. Eu havia dito que estudávamos na França e tínhamos chegado até ali de carona. Percebendo que não levávamos jeito de franceses, ela espantou-se.
Tive que explicar, com poucas palavras e muita gesticulação, que éramos brasileiros. A alemã, então, ficou mais surpresa ainda e imitando meu modo de falar, perguntou incrédula:
_ Brasília... Deutschland ... auto-stop?!
_ Nein! Nein! eu disse e me levantei da cadeira.
Brasília ... Deutschland... ... Lufthansa!
Enquanto falava, fui balançando os braços para melhor exemplificar meu discurso.
_ Ya, ya! A senhora compreendia perfeitamente.
Mas meus amigos, que voltaram naquele instante, caíram na gargalhada.
Não conseguiam entender por que eu tentava levantar vóo no meio daquela sala...
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