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cronicas-->Clichetes -- 06/07/2007 - 19:42 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A temperatura mais baixa que me obriga a uma postura amuada também me compele a contar uma história triste. Abro uma garrafa de Syrah e um edredon velho no qual me enrolo enquanto lhe dou algum tempo para desistir de acompanhar as próximas linhas, supondo que quase ninguém gosta muito de melancolia. Se ainda continua em frente à página é porque há em você um pouco do prazer sádico daquele que prefere o sofrimento de outros ao seu próprio martírio.Um brinde a isso!
Nem podemos dizer que ela não era feliz. Vivia numa segurança de casa, carro para ela, carro para ele, escola para os meninos, manicure e cabeleireiro toda semana, injeção na testa uma vez por ano e férias em Buenos Aires. Para que mais? O marido era chefe dos chefes da filial de alguma empresa multinacional de exploração de certos recursos naturais de países do terceiro mundo (ela não fazia idéia do tipo de trabalho que o marido tinha...) e, tirando o fato de que eles só se viam uma vez por semana, a relação sempre fora um sucesso. Sucesso!
Perceba que a conversa toma um rumo de lugar-comum. Que posso fazer? Era assim mesmo. Quem é que pode afirmar que não ocupa um lugar comum ao menos em parte do dia? Isso aqui mesmo, bancar o escritor de vanguarda, é o maior dos lugares- comuns. Qualquer um com um domínio troncho do Word pode escrever o que quiser sobre a vida ou a morte e até criar um blog modernoso para disseminar idéias revolucionárias . Lugar-comum por lugar- comum, fique com este da personagem, pois há um outro mais que batido: leitor de texto dominical de autor nada famoso...
Narrativa que começa na Santa Paz da Família, Tradição e Propriedade já avisa que a casa vai cair para o lado de alguém, normalmente da protagonista. Nessa história, ela parecia muito feliz, mas, você já imagina!, havia, dentro talvez do coração dela, um monstro podre de tristeza e uma vontade quero-mais de exigir da vida um bónus de emoção. São o monstro e a vontade que justificam contar essa história, pois foram eles que levaram a mulher, que pode ser chamada de Esther ou nome parecido, a fazer matrícula num curso de história da arte.
Não me pergunte por que história da arte, pois poderia ser qualquer outro curso ou evento: leilão beneficente, aulas de esgrima, oficina de dobradura chinesa. Desculpa, na verdade, para criar um escape ao condomínio fechado e às reuniões de esposas frustradas mas conformadas. Se ficasse a nossa Esther no fundo da sua vida certinha, não haveria jeito de fazer surgir o Max ou o Léo ou o Dani ou qualquer outro nome do tipo. Já pensou se resolvo encarnar a paixão de Esther num jardineiro? Mas foi por pouco que não cedi à força do clichê. Clichês grudam na mente como chicletes de menta. Clichetes sabor mental!
Estraguei a surpresa e você já sabe que a Esther está tombadinha pelo colega de curso. Claro que ele era jovem como ela já fora. Claro que ele era inteligente como ela já fora. Claro que ele era sensual como ela ainda era, embora o marido dela já não soubesse mais disso. Também não preciso dizer que da sala de aula para o café foi um pulo, você prefere Rembrandt ou Monet?, que do café para um passeio na praça da pinacoteca foi outro pulo, você nem parece ter essa idade!, que da pinacoteca para o hotel vagabundo, oh! meu deus!, vários pulos sobre o colchão de molas.

Esther tanto pulou que caiu num poço de felicidade intensa e de dúvida atroz. Na briga do júbilo da novidade com o tédio do casamento, quem levou o golpe fatal foi o marido. Quando soube do caso da mulher, tentou fazer um mea-culpa e pregou a mudança possível; Esther não queria mais. Mudou o tom e ameaçou matar meio mundo, quem era ele?, ou fazer escàndalo na frente dos filhos e dos amigos dos filhos no Orkut; Esther sabia que era conversa. Por fim, equilibrado e sereno, ouviu da mulher o pedido de divórcio, você tem certeza que isso que você quer?, e acompanhou a saída das malas e do carro com um copo de uísque na mão.
Esther foi morar com o Max, Léo, Dani. Mas o final da história não pode ser feliz, pois essa é uma narração de tristeza profunda. Saiba, então, que não demorou muito para que a mulher apaixonada percebesse que o seu grande e libertador amor tinha hábitos para ela muito estranhos e que, entre seus prazeres preferidos, estavam as orgias com colegas do mesmo sexo. O perdão daquela mulher era um continente e o relacionamento aberto e freak seguia por estradas pedregosas. No entanto, o resultado de um exame de Max, Léo, Dani, que mostrava HIV positivo, trocou o amor dela pelo medo de morrer. O moço voltou para São Gonçalo, rumo ao colo da mãe, e antes de terminar minha taça de vinho, tenho certeza de que veremos Esther e o ex-marido na porta do laboratório, de mãos dadas, decidindo fazer um teste de AIDS. Tristemente clichê.
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