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Cronicas-->Filosofilas -- 06/07/2007 - 19:44 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fila do Banco do Brasil. Três da tarde de sexta-feira. É a hora perfeita para se sentir um pouco humano. Não é assim: do sofrimento é que brota a humanidade? Fila serve para pouca coisa além de fazer qualquer um sofrer e pagar todos os pecados cometidos ou apenas imaginados. Como metralhar todos os office-boys com suas pastinhas e mochilas repletas de boletos, cheques e promissórias que travarão daqui a pouco todos os caixas.
Real? Ninguém gosta de se sentir humano nesta hora. Aquele ali preferiria a frieza e o distanciamento proporcionados pela tecnologia. Bate-papo pela Internet, namoro pelo celular, diversão pela TV e pagamento de tudo por telefone. Mas não pode querer isso, ele que atrasa sempre a parcela de um consórcio sem fim que lhe dará em breve acesso a mais uma maravilha eletrónica, quem sabe um mecanismo que o faça lembrar de pagar o carnezinho em dia e lhe permita mofar em seu retiro de homem cibernético, sem contato com outros desesperados em filas de banco. Atrasar pagamentos: o pior dos pecados, pois cancela a benção do caixa-eletrónico e transforma privilegiados em homens comuns, homens de fila.
A humanidade da fila, por sinal, pára no sofrimento compartido. No mais, essa categoria de ajuntamento de seres é desprovida de qualquer apelo erótico ou afetivo. Mesmo a mais bem dotada das mulheres que insiste em rebolar até quando a fila não anda, e bem na sua frente, mesmo ela com seu remelexo de minissaia, perde o apelo e se transforma em mais um entre os vinte que estão a sua frente e chegarão primeiro ao objetivo final do ritual: debruçar na boca do caixa. Todos inimigos.Todos feios, carrancudos, assustadores.
Ninguém pode ser bonito numa fila, nem aquela outra que finge não pertencer a essa espécie de gente que paga suas contas, desconta seus cheques, faz suas transações suspeitas desse jeito arcaico. Ela não! Quer ser da elite que resolve tudo on-line e nem recibo imprime para preservar a natureza que deve existir lá fora. A elite dos sem-fila.
Tente esquecer que já está aqui faz uns vinte minutos e que existe uma lei que obriga o banco a atendê-lo rápido. Antes de ser o chato a reivindicar seus direitos de cidadão que paga impostos ainda que com atraso, pegue o jornal de ontem que está dormindo na pasta e leia as velhas novas sobre o caos aéreo. Na foto da primeira página: filas nos aeroportos! Não há mais como escapar: a elite dos sem-fila não mais existe. A fila é democrática. Você, que voa menos que pato manco, sente-se vingado.
A fila é única e a sensação de olhar nos olhos do caixa, nesta hora sempre lindo, também. Lá esta a moça de ar flatulento, debruçada com gosto sobre o caixa 5, lugar que os mortais cá da fila ainda estão longe de alcançar. Saiba que ela vai nos esnobar. Vai olhar sobre os ombros, sorrir com desdém e bater um longo papo sobre Natura com as meninas do caixa 4. Em càmera-lenta, vai tirar da bolsa Louis Vuitton fake o boleto do colégio do filho. Antes de contar com muita calma cada nota de cinquenta, vai jogar os cabelos para trás, toda modelo, e pendurar os óculos de sol na gola da blusinha lilás. Só vai perder o rebolado quando o funcionário público, nesta hora sempre feio, disser que aquele pagamento só podia ser feito no BB até ontem. Enquanto ela tentará argumentar que isso que aquilo e etcetera e tal, o grito "O próximo!" já terá ecoado pela agência e o sorriso do careca que jogará a flatulenta para o canto será o sorriso único da fila. Pode ser devagar, mas as filas são assim: sempre andam.
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