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cronicas-->Você entende? -- 06/07/2007 - 19:46 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Você entende como um ser humano tem forças para acordar às quatro da madruga e se enfiar numa condução lotada, bater cartão duas horas depois de cruzar uma cidade negra de poluição, apertar botões iguais em movimentos iguais, parar meia hora para comer um bandejão sempre aquele mesmo, dormitar gordo no banco da praça por mais meia hora, cumprir a tarde no arrocho repetido das mesmas máquinas, ouvir uma sirene, meter-se novamente em lotação, desta vez duas, trem e coletivo, chegar em casa às seis e trinta, matar a janta com mistura e salada, assistir ao JN, capotar na cama perto das dez, acordar às quatro, repetir tudo o que fez ontem e anteontem,fazer isso por vinte e cinco anos,conseguir ser feliz dois domingos por ano e achar que felicidade na vida é isso mesmo?
Você entende por que um ser humano espera como criança que o domingo chegue, quando chega, abre uma cerveja barata logo cedo, frita uns bacons e uns amendoins, dispõe o cadeirão na calçada, radinho ao lado tocando música sertaneja, bebe a manhã toda, grita com a mulher a cada quinze minutos querendo apressar a macarronada com molho de tomate com ervilha, enche a pança entre doze e treze, volta para o cadeirão na calçada, espera as mocinhas do bairro passar para entrar no máximo estado de excitação que consegue há dez anos, desde que começou a ver a mulher como uma pizza de calabreza, pizza que come no fim do domingo, arrota cervejas em dúzia, engorda quilos em dúzia, xinga os filhos em dúzia, mata da pinga uma dose para rebater a dieta dominical, capota na cama assistindo ao Fantástico, acorda na segunda com dor de cabeça e morto de vontade de que o domingo logo chegue pois é essa a noção que ele tem de vida feliz?
Você entende como um ser humano consegue acordar todo dia com o galo mais insone, fazer o café forte para o marido beber calado e preto, esperar os moleques levantar da cama para enxotá-los com o pão com manteiga para o colégio, arrumar as camas velhas com lençóis brancos amarelos de tempo e mijo, ligar o radinho no programa das cartas tristes, encostar a barriga no tanque por três horas de roupas de terceiros a cinquenta centavos a peça, varrer os cómodos, lavar a verdura e temperar o músculo para a carne-de-panela, lavar a louça da pia e as louças do banheiro, refogar o arroz em Arisco, cozinhar a carne na pressão, estender o cobertor sapeca-neguinho sobre a mesa, ligar o ferro em temperatura de algodão, passar roupas estranhas a cinquenta centavos a peça, catar os moleques na rua para o almoço, servir todos os pratos menos o próprio, trocar de roupa, levar os moleques para a vizinha, pegar um moto-táxi até a zona sul, passar a tarde a pão com ovo limpando a sujeira do apartamento do doutor e da doutora, perder uns minutos na sacada olhando o céu pela primeira vez no dia e crer com muita fé que tudo isso é felicidade?
Você entende por que um ser humano briga com a mãe pequena como o barraco em que moram, sai para a rua de terra com esgoto à mostra em busca de amigos capazes de provocar brigas com a mãe, entra na roda para entrar numa agulha comunitária, viaja para um mundo sem mães, sem amigos, sem pobreza, recebe umas instruções de um líder desconhecido dele naquele estado, entende pouco do que foi dito mas sabe que deve pegar a arma na mesa, sai com o bando na Kombi velha para o asfalto, salta quando os outros saltam na esquina da primeira praça, escuta o líder mostrar em palavras outra vez o plano infalível, recebe um tapinha nas costas, vai com os outros rumo à lotérica entre a padaria e a banca de jornal, tenta ler as manchetes penduradas e não consegue, sabe que não seria capaz de ler nem sóbrio, invade a lotérica às cinco e meia, aponta a arma para uma fila de trabalhadores de Lotomania nas mãos, não vê a doméstica que olhava o céu, não percebe o gordo de ressaca, não liga para o operário com pressa e é bem capaz de matar a felicidade de todos eles em apenas três tiros rápidos e nervosos sem entender direito o que aconteceu? Você entende?
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