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cronicas-->A exterminadora 1 -- 06/07/2007 - 19:57 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A exterminadora

Estava próximo a uma lavoura de milhos, sob um frio intenso. O local, calmo e tranquilo, contrastava com o colóquio que tive ali, há alguns dias, com uma jovem. Nádia é o nome da bela garota, que aparentava uns vinte anos.
Já no início da conversa ela, sorridente, lascou:
- Os favelados têm que ser exterminados da face da Terra.
Assustei-me com afirmativa tão grosseira naquele rostinho lindo. Mas resolvi dar asas às suas convicções e argumentei que as crianças deveriam ser poupadas.
- Nada disso. Elas já aprenderam tanta maldade que não devem sobreviver. Crescerão, construirão novos barracos e continuarão, assaltando, matando, drogando-se.
Foram mais ou menos essas as palavras ditas junto a um sorriso perverso, embora bonito.
Dei corda para que ela não parasse de expor todo o mal que a aflige. Não escaparam nem "os alemães que adoram Hitler, aquele sanguinolento".
O que está entre aspas são declarações dela e nada do que ela disse tem o meu aval. Ou será que pactuo com algumas das colocações?
Passou a citar os skinheads, "brutamontes que não amam ninguém, nem a si próprios". E logo saltou para os políticos, "noventa por cento deles são uma corja de ladrões"; o restante ela deixaria sobreviver para ver se levariam o Brasil a um futuro melhor.
E passava de um assunto para outro com a facilidade de quem apenas vira páginas de um caderno. "Os drogados não deveriam existir. Não precisamos deles para nada. Só atrapalham as novas gerações que virão". E no mesmo pacote logo incluía os traficantes e não esquecia dos subornadores e dos subornados, "ambos não prestam e atravancam o progresso de nosso belo país".
Coitados dos homossexuais, "o amor é tão bom entre pessoas de sexos diferentes que não vejo qual o prazer que essas raças sentem". E sublinhou a fala ao pronunciar a palavra "raças".
Embora continuasse com aquele sorriso quase angelical, permanecia jogando farpas venenosas para todo lado. E bateu firme nos bêbados, "esses pinguços que chegam em casa quebrando tudo e espancando a mulher, antes de serem eliminados precisavam ir para a cadeia e apanharem bastante para verem o que é bom para tosse". E completou, "ou melhor, para curar a ressaca".
E não deixou em paz nem os jogadores, desancando-os esclareceu, "me refiro aos que apostam o que têm e o que não têm, deixando as famílias passarem fome por causa do jogo".
Cada vez ela mais se empolgava, pois contava com um bom ouvinte que disfarçava um falso apoio e, assim, nem os pobres índios foram poupados, "esses malandros saíram de suas terras para viverem na cidade grande com a ajuda do governo. O que eles nos trazem de bom? Não vejo o porquê de sua não extinção".
Eu dava corda e ela seguia seu rol de malevolência, "homens e mulheres que traem seus pares não merecem existir. São pessoas que não respeitam a confiança de quem os ama, imagine se respeitarão os demais".
Até um animal foi incluído na lista da Nádia, "já que é muito difícil identificar as cobras venenosas, vamos extirpar de nosso planeta todas elas", sentenciou.
Embora essa verve ruinosa, essa bile que ela destila em cada frase, despedi-me esperançoso de poder voltar a vê-la. E me questionei se o que eu gostaria era de rever seu rosto jovial e lindo, seu sorriso expressivo, ou se, bem lá no fundo, eu concordo, admito, aprovo e, até, professo - mas jamais confesso - algumas das idéias daquela beldade. Será?!...
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