ETERNOS NAMORADOS
- Ó amada, que há de especial além dessa paz e alegria que invadem os nossos pensamentos nesse nosso afago de almas?
- Há, amado, a continuação de que os céus tenham nos dado esses momentos, em que podemos contar os nossos dias não com o tempo das horas, mas com a eternidade do nosso momento. Ouça o pulsar das nossas almas, se não tem o mesmo compasso uma da outra!.. Veja o levantar das nossas mãos se não parecem uma só, posta no espelho!...
- E que há de mais calmo que essa brisa que sopra em nossos rostos como um hálito eterno, amada?
- Só mesmo o som da tua voz querido, inebriando o espírito, e ecoando como o cantar do coro dos anjos que se avizinha de nosso ninho... Há ainda o sabor do teu hálito, a soprar esse momento como se fossem palavras registradas nos livros sagrados, escritos com maestria infinita, mas ainda escondidos e em segredo...
- Para mim, amada, não há nada mais sublime que a palavra que ouço como se fosse uma novidade da tua boca... Ou como se pela primeira vez visse a tua alma pulsar de amor... É por isso que pergunto sabendo de antemão a tua resposta, para que se façam ouvir estes sons... Porque quando abres os lábios, o mundo se cala ao redor. Quando ergues os olhos, os teus cílios sopram uma brisa nos céus. E quando os fechas, eles representam uma parábola do repouso anunciando pelos profetas... Quando fazes um gesto, é como aquele que presenciamos enquanto o amor invadia calado os nossos caminhos e nos unia nesta aventura eterna. Quando te afastas um pouco, o meu coração te acompanha, e em pensamento me sinto mais perto de ti. E quando te aproximas, sinto como se recebesse renovado em minha vida, tudo o que mil vezes recebi, nesse enlace celebrado no altar eterno, onde o amor está muito além do atrito repetido entre duas carnes...
Ela levanta um pouco a cabeça olha nos olhos dele, sorri e ainda com um riso no rosto recosta novamente ao peito dele. Depois, com um gesto que ele achou lindamente parecido com os dos anjos assustados, olha o seu amado e pergunta:
-Amado, onde está o nosso filho que amamos, concebido em um dia de graça, e nascido com o riso da aurora do dia?
- Ele está vindo, amada. Vem chegando com um buquê de fogo nas mãos. Como é lindo esse nosso filho!... Ele parece com a união de duas células imortais!...
Ela virou-se para contemplar o filho que se aproximava, depois recostou-se mais uma vez ao peito do amado, e ouviu o pulsar compassado de sua alma. Fechou levemente os olhos, lembrada de que o jovem que vira a pouco saltitante pelo caminho se parecia mais com o pai... Sorriu mais uma vez. Mas já não disse nada ao amado, por saber que disso ele discordava...
Depois de um tempinho, ela levantou a cabeça e olhou nos olhos dele e os viu fitos nos dela. Não se falaram novamente, como se um soubesse o que se passa no coração do outro...
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Adelmario Sampaio
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