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Cronicas-->NÓS, OS SERTANEJOS -- 08/07/2007 - 05:29 (Domingos Sávio Fernandes de Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NÓS, OS SERTANEJOS
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Euclides da Cunha, ao acompanhar a resistência dos sertanejos frente à elite brasileira, deixou em suas tintas uma expressão que veio a ser emblemática para representar essa nossa espécie humilde e explorada: "O sertanejo é a antes de tudo um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços do litoral. A sua aparência, entretanto, no primeiro lance de vista, revela o contrário (...). É desgracioso, desengonçado, torto...

Conhecendo as agruras de uma vida sofrida em que tudo lhe é adverso, a começar pelo solo e clima, quis o senhor Deus amenizar o padecimento, dando-nos gratuita e generosamente o rio São Francisco, nosso Velho Chico.

Nasci às suas margens, na adorável Juazeiro: gozei como todos ribeirinhos os banhos refrescantes; saciei-me alimentando-me com o seu variado cardápio de peixes: piau, mandim, traíra, caboje, cari, corvina, surubim, hoje já escassos e vi a pujança de sua hortifruticultura quando o governo financiando projetos de irrigação emprestou-nos para tal, o que nos faltava: dinheiro.

Hoje, ouço atónito no noticiário que grupos contrários à transposição do rio começam a se concentrar no canteiro (km 29 da BR-428 em Cabrobó-Pe), no qual o exército brasileiro iniciara as abomináveis obras neste mês de junho, com o intuito de impedirem, até mesmo com suas vidas o prosseguimento dos trabalhos. Não quero aqui levantar discussões técnicas sobre o polêmico projeto, embora todos os laudos de órgãos especializados não o aprovem. Quero alertar para um grave rumo que a situação poderá advir: o confronto entre povo versus exército.

É de bom alvitre que o presidente Lula tenha conhecimento que o massacre de Canudos de Antonio Conselheiro ocorreu pela inabilidade do presidente da República da época, Prudente de Moraes e de altas patentes do exército ao não buscaram o diálogo, e ao se sentirem ultrajadas com a atitude desrespeitosa do povo de Canudos, apenas para demonstrarem força, poder, não procuraram solucionar os problemas pelos quais ganhava corpo a idéia de ser contrário ao governo e por isso foram completamente dizimados no dia 05 de outubro de1897. A história comprova que estavam revoltados porque viviam alijados dos olhos do poder e condenados a morrer à mingua, enquanto os poderosos banqueteavam-se em subornos, propinas, corrupções, desvios etc..

Não pretendo causar dramaticidade ao problema, todavia, é imperioso que o governo Federal tenha cautela e parcimónia em não agir com violência se tiver a disposição de expulsá-los e tocar a obra à ponta de baionetas e fuzis, por ser o detentor do poder. Os que para lá se dirigem não pretendem ser imolados para obterem um nome na história nacional. Também não são mais tão ingênuos a acreditarem que flores enfrentarão os canhões.

A propósito de poder. A democracia significa o governo do povo que veio para substituir os abusos dos reis e soberanos. Quem está a pedir, solicitar e agora decidido a lutar contra a transposição do rio é o povo já que os políticos abandonam suas posturas pessoas quedando-se a um corporativista código de ética partidária. O povo sabe que se não tomar posição séria a obra vai ser realizada, este mesmo povo que também sabe, sem a necessidade da ciência, que o rio está morrendo e não suportará esta sangria.

Como pode então, um governo que se diz democrata fazer o que desagrada o povo? Essa obra revela-se de cunho eleitoreiro, de posição submissa aos empreiteiros nacionais e internacionais, oportunista e eivada da característica vil da teima. "Faço porque quero e porque sou o presidente e pronto". É essa a sensação que, infelizmente, o presidente nos passa, embora não a declare, é óbvio.

Pois bem, Sr. Presidente Lula. Decepcionado com V.Exª eu já estou de há muito, como todos com quem lamentei meu desacerto do voto sério, consciente e responsável e envergonhado de na qualidade de tabaréu, ter derramado lágrimas de emoção ao ver um nordestino ocupar o mais alto cargo da Nação. Resta-me somente agora crer que ainda lhe resta um pouco desse sangue nordestino em suas veias supridas agora de sangue nobre. Quantidade pelo menos o suficiente para que não permita como chefe das forças armadas brasileiras que estas venham, sob a falácia de cumprimento de dever legal, banhar de sangue quem de água precisa para viver.

Para quem ainda não leu os sertões informo que Euclides da Cunha em complemento à frase de que o sertanejo é antes de tudo um forte, arrematou: Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude (...) No revés o homem transfigura-se . (...) e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias".

Que impere a vontade do nosso povo sertanejo!

Salvador, 26/06/2007

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