POESIA MUDA
passa o número de mortos
estatístico monstro
que resiste
ficou estéril e pasma
minha poesia
não solta a mão da existencia
a inexistencia que bate
insistente e cruel
mesmo na absurda realidade
teimosa maldade joga cartas
e faz par com dinheiro fácil
pasma pendura-se a poesia
sozinha e assustada
sem respirador
mortos doloridos e vivos
criam o choro interminável
e mesmo assim, uns roubam
segue a poesia agonizante
sua mudez revoltante
sem força no punhal
esse punhal colorido
que toca a música no verso
e liga o coração:
deixo minha poesia adormecida
um pouco enterrada sem ritual
talvez ressurja um dia o olhar
daqueles que ficaram por aqui
e os números não me apavorem
aí – quem sabe- esta estranheza
pequena, agora muda
à que chamo de poesia
supere o coma e o monóxido
o vírus e o terror
e volte a acreditar que pode tudo
e no seu autoconceito de grandeza
mesmo tão ridículo e absurdo
retorne a abrir sua boca de animal
apunhale o medo e solte o grito
a seguir.
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